Por: Jordana Louise do Nascimento
Durante toda a história
da humanidade a mulher esteve subjugada a uma sociedade cuja cultura do patriarcalismo/machismo
é cultuada. O homem sempre esteve no centro da sociedade e, como consequência
dessa imposição, a mulher passa a ser vista como um objeto ou algo a ser
dominado, humilhado fisicamente e psicologicamente. É ensinado a elas a maneira
de como devem se comportar diante da sociedade, diante da imagem do homem, e
quando resolvem quebrar as correntes são duramente castigadas. Várias mulheres
foram oprimidas e massacradas no decorrer da história, como por exemplo, a
santa inquisição medieval onde foram queimadas, torturadas fisicamente e
psicologicamente sob a acusação de bruxaria por tentarem escapar de uma
“ditadura social” ou por pensarem e agirem de forma diferente. Infelizmente essa
repressão às mulheres não permaneceu apenas na idade média.
Vamos relembrar o
ocorrido do dia oito de março de 1857, em uma fabrica de tecidos, localizada
nos estados unidos, cerca de 136 mulheres com os seus filhos, pois eram
obrigadas a leva-los para as fábricas por não terem onde os deixar, foram
queimadas vivas por lutarem pelos seus direitos. Essas mulheres almejavam
redução na carga horária que era de 16 horas por dia, melhoria salarial, pois
elas recebiam apenas um terço do salário que os homens recebiam, e uma melhor
estrutura no trabalho.
Por que o dia oito de
março não deve ser tratado como um dia em que as mulheres devem receber flores?
Não quero flores, porque não as quero? Flores são um símbolo de romance,
sentimentos bons de paz e descanso, as flores não deviriam ser entregues às
mulheres no dia 8 de março, pois essa data vai muito além de comemorações. Esse
marco não deve/deveria ser apagado de nossas lembranças, não deve ser
capitalizada ou romantizada, pois tem que permanecer nas lembranças de todas as
mulheres e homens como um dia de luta. Dia em que mulheres foram mais uma vez
queimadas vivas por questionarem uma cultura imposta a elas, por quererem
romper com uma “ditadura social” que as limitam, falando como devem agir diante
dos homens.
Segundo Sylviane
Agacinski (1990), a mulher é vista como inimiga
pelos homens, pois o homem exerce a força e a mulher a politica do pensamento,
o que ocasiona uma ameaça para o sexo masculino. O homem cria conceitos e
impõem culturas sobre as mulheres e as força a aceitarem sem a opção do
questionamento. Segundo Judith Butler (2015) a construção política do sujeito
procede vinculada a certos objetivos de legitimação e de exclusão, e essas
operações políticas são efetivamente ocultas e naturalizadas por uma análise
política que toma as estruturas jurídicas como seu fundamento. É como se a
mulher não pudesse passar a viver em função de si mesma, pois para os homens a
raça masculina fica ameaçada e por consequência iria ocorrer o seu declínio.
Para
Chimamanda Ngozi Adichie (2014) O fato de imposição sob a mulher vem de uma
cultura que está enraizada no contexto social, onde o homem é ensinado a
dominar e a mulher a se submeter, e assim ocasionando a exclusão do sexo
feminino politicamente e como agente social. É como se o sujeito do sexo feminino
tivesse a obrigação de estar ligado como um só ao sujeito masculino, com as
limitações impostas por uma cultura machista. O ato de castigar as mulheres que
buscam uma nova estrutura cultural e social permanecem marcadas na história,
assim como o dia oito de março de 1857. Contudo essa data só passou a ser
considerada como um marco na luta da mulher, quando a ONU (Organização das
Nações Unidas) oficializo-a um século
depois do seu ocorrido.
O dia internacional das
mulheres não é um dia de festividades, pois não temos o que comemorar, não
devemos receber flores em um dia que houve um assassinato coletivo de várias
mulheres, onde homens misóginos trancaram as portas da fábrica para deixa-las
morrer carbonizadas. Não existe dia da mulher
enquanto elas forem torturadas, estupradas, mortas, perseguidas e andarem
apavoradas nas ruas. Cerca de 15 mulheres são assassinadas pelo feminicídio por
dia no Brasil, a ONU estima que
no mínimo, 5 mil mulheres são mortas por crimes de honra (um termo
machista criado por homens com o único objetivo de justificar os assassinatos
cometidos contra as mulheres) no mundo por ano, apenas por honra o homem
acredita que a mulher é obrigada a estar com ele até a sua morte, lembrando que
esse tipo de “homem” bate em sua parceira quase todos os dias, violenta
sexualmente e reduz a figura do sujeito feminino a nada, e por consequência
abalando o seu estado psicológico. Mulheres são alvos de abusos diariamente,
sendo esses físicos e verbais.
No Brasil as mulheres
estão vivendo tempos escuros, onde os seus direitos, que são poucos, estão correndo
o risco de serem retirados. Transita no senado projetos que almejam diminuir a
imagem da mulher, que as obrigam a passar por situações indesejadas. Como
exemplo temos o projeto de lei PL 5069/2013 que dificulta a realização do
aborto legal. Este projeto vai, por consequência, obrigar as mulheres que
sofreram violência sexual a não abortarem, pois limitará os procedimentos que
hoje são realizados com a finalidade de resguarda e proteger as mulheres e
crianças que foram vitimas, um deles é a retirada da pílula do dia seguinte que
é cedida pelos órgãos públicos. Hoje esse projeto permanece adormecido, mas o pavor
que ronda as mulheres está acordado, com o medo de que esse projeto volte a
transitar.
Não podemos receber
flores enquanto vivermos em uma sociedade que tem como cultura o exaltar do homem
e o menosprezo às mulheres, onde mulheres são vendidas como objetos, têm seus órgãos
genitais mutilados, só para que ela não tenha acesso ao prazer, e que mulheres
sejam queimadas vivas como retaliação. Não quero flores enquanto Maria, Ana,
Eduarda, Cristina, Jordana e entre outras mulheres, não puderem voltar para
casa em segurança ou viverem em suas casas em segurança, sem a ameaça de um
homem. Quando a cultura da misoginia acabar, aí sim poderemos receber flores e
comemorar.
Referências;
BUTLER, Judith. Problemas de gênero;
feminismo e subversão da identidade/ Judith Butler; tradução, Renato Aguiar.-
9° ed.- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
AGACINSKI, Sylviane. Política dos sexos/
Sylviane Agacinski; tradução de Marcia Neves Texeira. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1990.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todas
feministas/ Chimamanda Ngozi Adichie; tradução, Cristina Baum. São Paulo:
Companhia das letras, 2015.
SOARES, Ana Lins. Violência contra
mulher. Disponível em http://noticias.terra.com.br/mundo/violencia-contra-mulher/.
Acessado em 05 de março de 2016.
Vamos a observações: nem sempre a mulher esteve sob o jugo da sociedade patriarcalista, esta é uma "generalização" criada pelos movimentos mais desinformados. A subjugação da mulher acontece nas sociedades onde aparecem a propriedade privada, elemento fundamental ao escravismo e ao próprio capitalismo. E nem todas as sociedades se organizaram de forma patriarcal. Muitos grupos sociais na África estão aí para provar isso, além da pólis grega da região da Laconia, chamada Esparta, onde a mulher possuía um importante papel na sociedade, se não ombro a ombro, mas ao lado do homem na condução da cidade.
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