sexta-feira, 27 de março de 2020

Modelagem estatística do Imperial College London para os cenários do COVID-19 no Brasi

Saiu a Modelagem Estatística do Imperial College London para os cenários do COVID-19 no Brasil.

Antes, uma introdução. No começo da pandemia o governo do Reino Unido havia decidido apostar em uma estratégia de “imunidade de massa”, que consistia em não tomar medidas restritivas; em vez de parar o país, deixariam que o vírus infectasse a população de modo que rapidamente as pessoas pudessem ficar imunizadas. 

Porém, o governo do Reino Unido desistiu dessa ideia quando uma equipe de especialistas epidemiológicos do Imperial College of London apresentou uma previsão de como se desenrolaria a disseminação do COVID-19 em diferentes cenários de contenção para o Reino Unido e para os Estados Unidos. Para elaborar essa previsão, utilizaram dados de contágio, estatísticas de hospitalização e óbitos vistos em outros países, estudaram como o vírus se dissemina em diferentes ambientes etc..

Como um breve resumo: se circular livremente, o vírus tem a capacidade de infectar cerca de 80% da população geral em um período muito curto. Das pessoas infectadas, cerca de 20% precisam de hospitalização, 5% dos casos são críticos e precisam de UTI e suporte respiratório, e cerca de metade dos casos críticos vêm a óbito.
 
No entanto, o súbito aumento de casos ultrapassa a capacidade do sistema de saúde, gerando colapso, e disso resulta um número muito maior de mortes — de covid-19, assim como de outras causas — simplesmente porque não há hospital para tratar todas as pessoas que precisam.
Segundo a previsão, se não houver restrições nos contatos, no mundo inteiro seriam 7 bilhões de pessoas infectadas com covid-19 e 40 milhões de mortes neste ano. 

Os números previstos por esses estudos fizeram com que governos desistissem das posturas mais relaxadas e tomassem as medidas mais restritivas para evitar o colapso do sistema de saúde e um número muito maior de mortes.

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Ontem, no dia 26/03/2020, o Imperial College of London soltou números previstos para os desfechos da pandemia em todos os países, nos cenários sem intervenção, com mitigação, e com supressão.

Mitigação envolve proteger os idosos (reduzir 60% dos contatos) e restringir apenas 40% dos contatos do restante da população.

Supressão envolve testar e isolar os casos positivos, e estabelecer distanciamento social para toda a população.

Supressão precoce – implementada em uma fase em que há 0,2 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida

Supressão tardia – implementada  quando há 1,6 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida.

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No Brasil os cenários previstos são os seguintes:

Cenário 1- Sem medidas de mitigação:
- População total: 212.559.409
- População infectada: 187.799.806
- Mortes: 1.152.283
- Indivíduos necessitando hospitalização: 6.206.514
- Indivíduos necessitando UTI: 1.527.536

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Cenário 2 - Com distanciamento social de toda a população:
- População infectada: 122.025.818
- Mortes: 627.047
- Indivíduos necessitando hospitalização: 3.496.359
- Indivíduos necessitando UTI: 831.381

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Cenário 3 - Com distanciamento social E REFORÇO do distanciamento dos idosos:
- População infectada: 120.836.850
- Mortes: 529.779
- Indivíduos necessitando hospitalização: 3.222.096
- Indivíduos necessitando UTI: 702.497

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Cenário 4 – Com supressão tardia
- População infectada: 49.599.016
- Mortes: 206.087
- Indivíduos necessitando hospitalização: 1.182.457
- Indivíduos necessitando UTI: 460.361
- Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 460.361
- Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 97.044

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Cenário 5 – Com supressão precoce
- População infectada: 11.457.197
- Mortes: 44.212
- Indivíduos necessitando hospitalização: 250.182
- Indivíduos necessitando UTI: 57.423
- Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 72.398
- Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 15.432

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Faço algumas observações: 

Os próprios autores do estudo comentam que modelaram essas curvas com base nos padrões de dispersão dos países ricos e que nos países pobres os resultados da pandemia podem ser piores do que o previsto. Esses números previstos não levam em conta a existência de favelas, comunidades sem abastecimento de água e/ou saneamento, entre outros complicadores que temos no Brasil. 

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É preciso comentar que os números reais da pandemia no Brasil, seus casos e óbitos, estarão amplamente subnotificados devido à falta de testes e demora nos resultados. As estatísticas oficiais publicadas pelo Ministério da Saúde mostrarão apenas a ponta do iceberg.

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Mesmo nos melhores cenários, lentificando a transmissão e aumentando os recursos do sistema de saúde, deve faltar UTI e respirador para parte dos doentes.

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Em resumo, a diferença entre ficarmos todos em casa (supressão) ou adotar uma estratégia mais branda de mitigação e proteção apenas dos grupos de risco pode ser da ordem de MEIO MILHÃO de vidas.

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Os diversos relatórios estão disponíveis no site do Imperial College of London: https://www.imperial.ac.uk/mrc-global-infectious-disease-analysis/news--wuhan-coronavirus/?fbclid=IwAR0GeexFNu6ezOVclPBVW5x3Z3yOn5N1X6siDO5P7ezUOm_UwOUu31RBoAY

Link para o trabalho “The Global Impact of COVID-19 and Strategies for Mitigation and Suppression”: https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-Global-Impact-26-03-2020.pdf  

As tabelas com os números oferecidos constam no apêndice: https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-Global-unmitigated-mitigated-suppression-scenarios.xlsx

quinta-feira, 19 de março de 2020

NOTA DA CSP CONLUTAS PARAÍBA Contra a Reforma da Previdência da PB.


*DEPUTADOS/AS ESTADUAIS DA PARAÍBA APLICAM DURO GOLPE NOS SERVIDORES PÚBLICOS E* *APROVAM “REFORMA DA PREVIDÊNCIA ESTADUAL” DE JOÃO AZEVEDO*


A grande maioria dos/as deputados/as deputados/as estaduais da Paraíba, em sessão extraordinária, aprovaram, nesta *terça-feira, 17 de março de 2020*, com _29 votos_, a “Reforma da Previdência Estadual” do governo João Azevedo (Cidadania). Na ocasião, apenas os/as deputados/as Cida Ramos (PSB) e Wallber Virgolino (Patriotas) foram contrários à matéria e, portanto, favoráveis aos servidores públicos estaduais.
Duas coisas chamam atenção neste deplorável e lamentável episódio que afetam milhares de trabalhadores/as paraibanos/as, que vendem cotidianamente sua força de trabalho e, principalmente, suas capacidades criativas para o desenvolvimento desse Estado ao longo dos anos: a participação efetiva de entidades sindicais na negociação final do texto que resultou no PLC12/19, que é a “Reforma da Previdência Estadual” (e que vem gerando uma onda de indignação em vários militantes do movimento dos trabalhadores paraibanos); e o fato de que, apenas uma deputada da esquerda paraibana com representação na Assembleia Legislativa tenha votado a favor dos/as trabalhadores/s, no caso, ex-presidente da ADUFPB, Cida Ramos (PSB). Para se ter uma ideia do que isso significa, todo o restante da bancada do PSB, com exceção da deputada Estela Bezerra (que faltou justificadamente à sessão e expôs suas razões em redes sociais e expressou seu repúdio à “Reforma da Previdência Estadual”), votou a favor do PLC 12/19, portanto, contra os/as servidores/as públicos estaduais paraibanos/as. Nesse mesmo caminho, seguiram os deputados Anísio Maia, do PT, e Inácio Falcão, do PCdoB.
Além disso, há um dado da realidade que atravessa essa votação perversa para os trabalhadores paraibanos, promovida por “suas excelências” na tarde desta terça-feira, 17 de março de 2020: o mundo, e a Paraíba em particular, vivem uma conjuntura pra lá de peculiar por conta da *pandemia do coronavírus*, que vem promovendo uma verdadeira quebradeira nas Bolsas de Valores de todas as economias mundiais, destruindo os sistemas de saúde dos principais países, matando centenas de milhares de pessoas e infectando tantas outras. Além de provocar uma desmobilização completa no movimento dos trabalhadores, que fez com que esses deputados/as se aproveitassem da situação e aplicassem este golpe nos trabalhadores.
Na Paraíba, tanto o governador do Estado quanto o prefeito da capital, assim como outros espalhados pela Paraíba, já determinaram várias medidas emergenciais para o combate ao *coronavírus*, tais como suspender as aulas das redes pública e privada por um tempo determinado; que alguns servidores públicos passem a exercer suas atividades em casa; que alguns espaços públicos tenham restrições quanto a seu funcionamento e, ao mesmo tempo, orientam que os empreendimentos privados façam o mesmo. Porém, nada disso foi impeditivo para que 29 deputados/as estaduais seguissem a orientação de João Azevedo e Bolsonaro e promovessem um duro ataque aos servidores públicos, aprovando a “Reforma da Previdência Estadual” que, entre outras coisas, fará com que, a partir de agora,  cada servidor/a passe a pagar 14% de alíquota como contribuição à previdência estadual, como resultado desta votação.
O Fórum dos Servidores Públicos Estaduais da Paraíba divulgou uma nota aonde defende 7 pontos que foram negociados e que, segundo esta nota, teriam sido benéficos para o conjunto dos/as servidores/as públicos/as estaduais a votação ocorrida nesta terça-feira, 17 de março de 2020. Porém, o mesmo Fórum, na referida nota, se contradiz quando afirma que o PLC12/19 mantém não apenas a alíquota única de 14% como contribuição à previdência estadual dos/as servidores/as estaduais, como também “ficou no texto a retirada da PBPrev da obrigação de arcar com o pagamento dos auxílios”. Ou seja, com a aprovação da PLC 12/19, a PBPrev só irá ter a obrigação de pagar as aposentadorias e pensões dos seus segurados. Os demais benefícios, como auxílio doença, licença maternidade, pensão por morte, deverão ser pagos pelas secretarias de origem de cada servidor/a. A pergunta que não quer calar é: com que dinheiro isso se fará? 
Esta verdadeira confissão de culpa, por parte do Fórum dos Servidores Públicos Estaduais da Paraíba, revela que a vitória decantada por este na votação do PLC 12/19 é, na verdade, uma vitória de Pirro. É um duro golpe para os/as trabalhadores/as!!!
Outra coisa a ser verificada neste caso é a *conivência criminosa* daqueles que se dizem aliados da classe trabalhadora e que votaram junto com os governos João Azevedo e Bolsonaro a favor da “Reforma da Previdência Estadual”. Não dá para separar um governante do outro, pois o que João Azevedo fez foi uma cópia (para pior, na maioria das vezes) do que foi feito em nível federal. Mas, mesmo assim, aqueles que se dizem “representantes dos trabalhadores” *TRAÍRAM* os/as servidores/as públicos/as estaduais e merecem nosso *REPÚDIO*.
Essa é mais uma lição que se dá a quem aposta todas suas fichas na negociação com o Parlamento e se recusa a construir, pela base, a luta da classe contra os ataques que patrões e governos fazem aos trabalhadores. O objetivo da “Reforma da Previdência” de João Azevedo e Bolsonaro, com apoio explícito dos patrões, é jogar a crise capitalista do Estado burguês nas costas (e conta) dos trabalhadores. Infelizmente, com a colaboração de algumas lideranças sindicais!!!
Só para constar, seguem os nomes dos/as deputados estaduais que votaram contra os/as servidores/as públicos/as estaduais: *ADRIANO GALDINO (PSB); ARMANDO MONTEIRO (PSC); ANÍSIO MAIA (PT); BRANCO MENDES (PODEMOS); BUBA GERMANO (PSB); CABO GILBERTO (PSL); CAIO ROBERTO (PR); CAMILA TOSCANO (PSDB); CHIÓ (REDE); CLÁUDIO RÉGIS (PP); DODA DE TIÃO (PTB); DR. TACIANO DINIZ (AVANTE); DRA. JANE PANTA (PP); DRA. PAULA (PP); EDMILSON SOARES (PODEMOS); EDUARDO CARNEIRO (PRTB); FELIPE LEITÃO (DEM); GENIVAL MATIAS (AVANTE); INÁCIO FALCÃO (PCdoB); JEOVÁ CAMPOS (PSB); JUTAY MENESES (REPUBLICANOS); LINDOLFO PIRES (PODEMOS); MANOEL LUDGÉRIO (PSD); MOACIR RODRIGUES (PSL); NABOR WANDERLEY (REPUBLICANOS); POLLYANA DUTRA (PSB); RICARDO BARBOSA (PSB); TIÃO GOMES (AVANTE); WILSON FILHO (PTB)*.
A CSP Conlutas *REPUDIA* esses deputados e deputadas que seguiram as ordens dos Palácios da Redenção e do Planalto e também *REPUDIA* os *TRAIDORES* dos trabalhadores, que se colocam “representantes da classe” no Parlamento e apoia a luta desses/as servidores/as no combate à “Reforma da Previdência”.

Paraíba, 18 de março de 2020.