domingo, 26 de novembro de 2023

Guarabira centenária, menos ingenua e mais bela.


Por Alexandre Moca * (republicação).
Um enteado de Guarabira como eu, em data tão importante do nosso calendário, não poderia deixar de fazer este registro e de tecer algumas considerações do meu pensar sobre a vivência nesta terra e sobre a história da urbe, logo na ocasião em que a minha “boadrasta” completa mais um ano da sua fundação.
Cheguei para ficar em 1966, mas já tinha vindo antes, de férias. Tive mais sorte na viagem do que Adonias Fernandes, que veio a pé, retirante, das mesmas bandas de onde vim. Adonias “fez” Guarabira, como os imigrantes italianos no século passado fizeram a América. Transitou, de forma sempre ascendente, de “puxador” de agave a auxiliar de alfaiate, de funcionário público a empresário. Plantou árvores, plantou filhos, plantou empreendimentos, declarando assim, de forma larga, o seu gostar por esta terra de céu rasgadamente azul nesta época do ano, fronteira de transição entre o molhado do brejo e a sequidão da caatinga, bonita de inverno a verão. Se nesta minha visão há algum exagero, este fica por conta do meu olhar explicitamente passional, quando se trata de Guarabira.
Minha primeira viagem para estas bandas foi feita em um “misto”, híbrido de caminhão e ônibus, de cargueiro e transportador de pessoas. A visão de menino que tudo agiganta fez a velha adutora de água localizada na entrada da cidade, nas imediações do posto fiscal, parecer um aqueduto romano. A adutora foi soterrada e o posto fiscal foi demolido. Coisas do nosso crescimento urbano.
Somente depois fui saber que Augusto de Almeida, com sua visão de sanitarista, havia transformado em realidade a construção da barragem do Tauá, da caixa d'água da Santa Terezinha e da adutora que até hoje transporta parte da água que consumimos. Eram tempos de Edvardo, de Consuelo e de Nino Toscano, fiéis escudeiros de Augusto de Almeida. Enquanto nos dias atuais algumas cidades no entorno de Guarabira já começam a gritar de sede, a água continua perene em nossas torneiras. Poucos se dão conta de que somente por isso já poderíamos ser considerados ricos.
A Santa Terezinha da primeira caixa d'água também foi paisagem da minha infância e do seu topo podíamos divisar quase toda a cidade de então, com exceção do Xamêgo (hoje Nordeste) e do Juá, que se escondiam por trás de elevações.
Santa Terezinha da Rua da Metade, do Cachimbo Eterno, da Nova Descoberta e do Cai Pau. Santa Terezinha de Joana Toco, Nicolau Pessoa, João Gavião, Zuca do Leite, Seu Antonio da Bodega, Severino da Malária, Mathias Pereira e do pastor Ananias; de Cunca, Roxo, João Doido, Raimundo Nicolau, Sôia e de tantos outros sapateiros, categoria politizada que tinha em Chico do Baita um de seus maiores expoentes.
Aos pés da Santa se esparramava a Estrela, o mais importante dos nossos cabarés, também apagado pela borracha do tempo, mas nunca esquecido na lembrança de quem chegou a vê-lo em seu auge, atraindo notívagos como as luzes atraem as mariposas. Teria sido realmente apagado se por baixo do novo pavimento não pudessem ser encontradas impressas as pegadas de Zé Vieira, Antônio Moura, Rui do Deocleciano, José Tavares, Belimário Cabral, Dedé Lira, Pedrinho Emídio, Manoel do Caroço e tantos outros guerreiros, que não se renderam à contrariedade das esposas e namoradas, nem tampouco a ira santa do Monsenhor, que transformava as queixas das mulheres segredadas ao pé do confessionário, em promessa de inferno para infiéis em seus ameaçadores sermões.
Privilégio mesmo era o de seu Zé Madruga, cujo armazém comercial tinha localização estratégica, na Praça Benjamin Constant, no centro da Estrela. A Praça da Estrela, o nome sugere, nasceu para brilhar, mas acabou sendo transformada, nos dias atuais, em uma laje quente, inóspita e subutilizada, além de saudosa do verde e da sombra das castanholas.
Seu Madruga, homem de posses, viúvo, reunia as condições que o deixavam tanto mais próximo quanto liberado para dos prazeres da carne. Antônio de Amália sabia que, dentre outros mimos patrimoniais, o comerciante era dono e senhor de muitas das casas do meretrício. Contam que ele recebia aluguéis dos tais imóveis “in natura” e isso o fazia se sentir muito mais rico que já era.
Também do alto da Santa Terezinha podíamos divisar a florada dos ipês na Serra da Jurema, moldura natural da cidade e importante patrimônio geográfico e paisagístico do município. Roxos de vergonha e brancos de medo, os ipês dessas colorações deixaram apenas os mirrados amarelos para testemunhar do que somos capazes quando se trata de degradação do meio ambiente. Casas de morro acima e água de morro abaixo, lá se vai a erosão descobrindo e carcomendo a velha serra, diante dos nossos olhos perplexos, porém permissivos.
Dos tempos de Augusto de Almeida também é o Mercado Novo, que de tão velho foi anunciada a construção de outro no mesmo espaço, e já não era sem tempo.
O que dizer então do Mercado Velho, cheio de arranjos e remendos como uma colcha de retalhos, antigo e ultrapassado, para não dizer, dos tempos de Sabiniano.
A nossa feira, que é uma das maiores do interior do Nordeste depois da de Caruaru, vai ficando a cada dia mais comprimida por falta de espaço. Ela desenha, de forma reflexa, o retrato da nossa pujança econômica fundada no comércio, comércio este que, por sua vez, se esteia na saga agropastoril da região polarizada. Hoje, a incipiente atividade industrial ajuda a compor esse quadro de grandeza refletido no nosso maior e mais constante evento comercial, que é a feira livre.
A diversidade do que é oferecido na feira de Guarabira é impressionante. Tem queijo de Caicó́, peixe de Cruzeta, carne de sol de Picuí, manteiga de garrafa de Caiçara, caranguejo de Marcação, bode e carneiro de Itabaiana, abacaxi de Sapé, fumo de rolo de Mari, feijão de Araruna, inhame de Araçagi além de gente destes e de muitos outros lugares, enfim, um luxuriante espetáculo de cores e de movimento, cuja beleza plástica não enche apenas os olhos, mas invade as narinas e atiça o paladar para a delícia das frutas e verdura e para tudo que é preparado em termos de comida, mexendo com todos os sentidos de forma sinestésica.
Em toscos bancos de madeira fumegam fogareiros de barro, com panelas de buchada, bode, picado e galinha, dentre outros guisados e ensopados. Todo esse cardápio pode ser saboreado acompanhado das mais honestas ou promíscuas cachaças produzidas na região, sejam elas brancas ou de “pau dentro”, as famosas infusões de ervas e raízes que prometem a cura de alguns males, inclusive os da lucidez e da sobriedade.
Sobre a feira de Guarabira bem disse certa vez Wilson Catacumba, convocado a concordar com alguns comerciantes e artesãos que começavam a ir buscar novas oportunidades, mascateando em feiras do vizinho Estado do Rio Grande do Norte. Descrente da empreitada argumentou Catacumba: “Dona Maria Doca, vendendo tapioca, bolo baeta e café, sozinha, ainda apura mais do que toda a feira de Nova Cruz.” A barraca de Maria Doca era madrugadora e atendia tanto os que se demoravam na farra como os que chegavam mais cedo para a feira. Ficava na Rua da Lagoa, em um recuo descalço de um dos armazéns de Cunha Rego.
Dos tempos de Álvaro Jorge, Bezerra Bastos, Mario Serrano, Cunha Rego e do italiano Seu Musce o que sei é de ouvir dizer. Marivardo Toscano é quem desfia como ninguém a Guarabira dessa época, percorrendo imaginariamente seus espaços, ruas e becos, remontando a cena do passado. A Guarabira que foi de Álvaro Jorge foi também de Luiz Carneiro, de Severino Gomes, de José Januncio e de Raul Mouzinho, comerciários que se tornariam comerciantes como tantos outros da época. De Cunha Rego restou apenas o frontão em ruínas da sua casa de morada, que após restaurada pelo Município, deu lugar a Casa da Cultura professor José Barbosa da Silva, seguida do prédio que abrigou o empório comercial. Os traços da arquitetura neoclássica continuam sendo irremediavelmente destruídos, dando lugar ao conceito favelar de paredes revestidas com cerâmica de piso. Se algo não for feito restarão apenas as fotografias.
Cheguei à cidade quando ela ainda era de Emiliano de Cristo, do seu rigor a serviço da obra de Deus, mas também da sua intransigência com os comunistas. Sua repulsa aos vermelhos era a mesma de Tenente Luna. Os vi algumas vezes em demoradas conversas na Praça da Matriz, hoje da Catedral. Eu, menino de calças curtas brincando na praça, observava, com um rabo de olho, o colóquio um tanto quanto habitual dos dois, mas estava longe de compreender do que falavam homens de tanto siso e de tão pouco riso.
A Praça da Matriz foi o endereço de figuras carimbadas das lides políticas e da aristocracia rural da região, conservando, até hoje, os resquícios dessa época, através do que sobrou do conjunto arquitetônico. Lá se instalaram o coronel João Pimentel e também Edson Cunha, filho e herdeiro político do também coronel Francisco Pimentel da Cunha, “Seu Cozinho”. Um pouco mais perto da Matriz morou Seu Bené, tio de Osmar de Aquino, cego e solitário. Vestido com desleixados ternos que um dia até poderiam ter sido brancos, calçado tamancos de madeira e portando à mão um jucá que lhe servia de bengala. Trazia na ponta da língua um destampatório de palavrões, sacado todas as vezes que era apelidado (?) ou que alguém ousasse falar mal de Osmar. Versado em zoologia, fez certa vez um discurso onde afirmou ter procurado no reino animal uma espécie que se assemelhasse a um dos adversários políticos mais renhidos de Osmar. Disse ele que depois de muita procura localizou o tal adversário exatamente entre os batráquios, ou mais precisamente o “bufo ictericus”, o popular sapo- cururu.
Alcancei a época em que o Rio Guarabira ainda não era a serpente negra e fétida que é hoje e para a qual a cidade deu as costas. Sua água cristalina passava frouxa pela ponte da Rua da Barra, seguindo em direção às pontes de ferro e a de tábua da Rua do Boi Choco. Nesse tempo não havia em seu curso qualquer empecilho de latas, garrafas plásticas, sofás ou pneus. O rio fluía tranquilo e cheio de vida. Depois das pontes o Guarabira se encontrava com o Riacho dos Cachorros, também reduzido à condição de esgoto. A paisagem urbana ia dando lugar à rural, mas não antes do Rio ter curvado lambendo o cais da Estação Conde D'eu e os quintais da parteira Rosalva, dos Ché, dos Pachecos e de Almeida Egito, egípcio que trouxe a primeira bola de futebol para Guarabira, artefato que  rendeu sua  prisão em Belém de Caiçara (a bola foi confundida com uma bomba) como conta Vicente Barbosa em seu livro. De lá o Rio seguia sereno para as bandas do Mamanguape. Suas margens férteis também forneceram a areia branca e fina que ajudou a cidade a aumentar de tamanho, sendo transportada em lombo de jumentos tocados por hábeis tangerinos e seus chicotes estaladores. Hoje a cidade retribui com lixo e dejetos o que recebeu e poucos se apiedam do Rio moribundo.
Da cena descrita o cais não mais existe, se foi junto com a garagem das máquinas, a roda de giro das locomotivas e a velha caixa d'agua de ferro, que enchia a pança das Marias Fumaça, para que pudessem movimentar suas caldeiras. A estação de passageiros e a plataforma estão em ruínas, enquanto a velha ponte de ferro, dos tempos do império, dá sinais de que aguenta mais um século de intempéries, se alguém fizer a gentileza de lhe dar uma demão de tinta.
O trem deixou saudades. Um dos mais saudosos, por certo, foi cabeceiro Bidu, com o seu chapéu de meia bola forrado com trapos servindo de rodilha. A chapa de ágata de número 6 presa na lapela do surrado paletó, indicava a sua autorização para carregar bagagens. Foi-se o trem, ficou Bidú, sorrindo chaplinianamente, caminhando com seu passo bêbado pelo entorno da estação, como se preso a uma força gravitacional, com olhar perdido no horizonte e a boca cerrada, sem dizer palavra.
Bom mesmo era quando ao invés de mercadorias e passageiros o trem vinha carregado de alegria, de palhaços, macacos, bailarinas, tigres, contorcionistas e música, muita musica. Vi poucas vezes as chegadas dessas cargas preciosas, mas foi o suficiente para se tornar inesquecível. Um trem todinho de alegria, que fazia meninos como eu perderem o sono. O pouco que conseguíamos dormir depois da chegada do circo, era para sonhar com o dia estréia. Muitos devem lembrar que Jurandir Feliciano um dia foi chamado de Jurandir  Cachacinha. Em uma ressaca dessas que o vivente costuma dizer que amanheceu com um gosto de manobra de trem na boca (para não sair do tema) ele se deparou, em pleno Beco da Candeia, com um elefante. Tal foi o susto que Jurandir correu para a bodega de dona Mocinha Toscano, sua mãe de criação, branco de susto e molhado do medo: “Mãe, tenho que parar de beber, acabei de ver um elefante no Beco da Candeia”. Não, dessa vez não era o fruto dos delírios que azucrinavam Cachacinha em suas ressacas, era mais um circo chegando de trem a Guarabira.
Imagino a paisagem quase cabralina com a qual se deparou Costa Beiriz e o que ele pensou ao resolver se fixar às margens da lagoa que a cidade encheu de alicerces de prédios, mas que volta na estação das chuvas a infernizar os comerciantes instalados no que seria antigamente a parte mais funda da aguada. Que digam antigos comerciantes da área como Seu Sena, Antônio André, João Porpino, Wilame Coelho, Manoel Maciel, Seu Tejo, Humberto Aranha, Walfredo e Eloi Pereira, Dona Tinôca, Ariosto Trócoli, Getúlio Henriques, Leodegário Nunes e Antônio Rato. Hoje talvez já saibam que razão foi essa através do próprio Costa Beiriz, a de ter escolhido lugar tão alagado para fundar a povoação. Das calçadas como a de seu Campelo, a água minava de inverno a verão e, ao pisar nos rachões do passeio, não raro, essa água esguichava sujando o nosso linho domingueiro.
Otacílio Martins sabe muito sobre os comerciantes que passaram pela Pedro II, pois tem o privilégio da boa memória, além de ter sido um dos últimos comerciantes de antigamente a fechar a sua bodega. Seu Otacílio, como é mais conhecido, é fonte viva da história do comércio local.
Os meus primeiros anos de Guarabira foram tempos políticos de ARENA e MDB; de Pimentéis, Paulinos e Amorins. Eram também tempos de Solon Benevides e da sua verve refinada e inteligente a distribuir títulos de nobreza a quem ele entendia possuí-la, como no caso do Barão da Pedra Branca, do Duque de Gravatá, do Marquês do Espinho e do Grão Duque do Jardim, sem deixar também de contemplar os clãs locais, como no caso dos Kennedy de Itamatai. Valia a pena, certas vezes, discordar da argumentação de Solon, só para que ele voltasse toda a sua carga retórica no sentido convencer o interlocutor. Quando mesmo assim não conseguia dobrar o refratário, levava as duas mãos à cabeça como se arrumasse o cabelo que já não tinha e disparava frases geniais como: “Meu filho... meu filho, você é de uma burrice mineral”
A míngua de historiadores interessados em mergulhar no nosso passado citadino de forma mais abissal. Empurrando por alguns amigos que dizem gostar da minha prosa, atrevo-me, vez por outra a buscar de memória, fundado em nossa rica tradição oral, os elementos necessários à construção de textos como o de agora, porém sem qualquer compromisso.
Isto fica mais fácil uma vez que fiz parte de uma juventude a quem foi dado sonhar. Acredito firmemente que onde houver um jovem saudável haverá uma utopia, haverá o desejo de construir um tempo melhor para os que habitarão o futuro, esse lugar para onde todos pensam que vão, mas acabam ficando pelo caminho.
Sou avesso a saudosismos, mas já fomos rotulados de Moscouzinha Brejeira, ameaçadora da ordem imposta após 1964, rebelde por essência, e mais ainda nos tempos de Agassiz Almeida, Bento da Gama, Henrique Miranda, Maria Cuba e Pedro Fogueteiro. Em tempos das Ligas Camponesas.
A oratória, o mais imediato dos recursos da mídia de então, fabricava heróis como Osmar de Aquino, Silvio Porto, Cleanto Coelho, Vicente Pontes, Martinho Alves, Jáder Pimentel e tantos outros, que iam do estilo clássico de oratória ao inflamado, motivados pelos aplausos da multidão. Nesse tempo ninguém perdia um comício para assistir uma novela.
A juventude a qual pertenci foi certa vez aglutinada por Zezinho Chinês, que contagiou a todos com o seu sonho libertário e com a sua irreverência. Armado de um discurso valente e destemido foi comparado, na aparência, a um guerrilheiro tupamaro. Dividiu o palanque em Guarabira com Lula, Ulisses Guimarães e outros destacados nomes da política local e nacional, nas grandes jornadas pela redemocratização do País. Na realidade Zezinho não era mais que um jovem vindo de Canafístula dos Félix que sonhava ocupar espaço na política local e acabou nos deixando no meio da caminhada. Não morreu a morte dos anônimos, ficou definitivamente inscrito na história da nossa rebeldia. Eram tempos do Grêmio Cultural, tempos de Nal Caveira, Isabel Cavalcante, Percinaldo, Cleoma Toscano, Beto de Ariosto, Vicente Barbosa, Calcélio Galvão, Homero Bezerra, Antonio do Amaral, Marcela Sitônio, Betinho Araújo, Buzuca, Saulo Benevides, Mazinho Sibito, Bié, Padinha e Chico da Farmácia, entre outros.
As certezas que carregávamos à época, muitas delas podem até ter se esfarelado ao longo do tempo. Contabilizem-se apenas as que se mantiveram monolíticas, e vamos descobrir que elas hoje são motor da nossa existência.
A musa dessas palavras é a cidade que escolhi para viver. Aqui também plantei árvores, filhos e dela recebi todas as benesses, participando, do meu flanco, das lutas que me foram postas, mas só e efetivamente daquelas que entendi justas.
Guarabira, como nos versos de Adelino Moreira, chega à sua maturidade centenária “menos ingênua e mais bela”. Quando me refiro à beleza, quero dizer da nossa geografia humana, da mescla homem território, sociedade e espaço; quero dizer das percepções, interações e visão crítica lançada sobre a nossa trajetória.
Que o amor a Guarabira não seja recitado periódica e farisaicamente como fazem alguns políticos. Ao agirem dessa maneira colocam desnuda a própria mediocridade, além de nos roubar tempo e paciência. Não raro nos deparamos com efusivas e escandalosas declarações de amor à cidade, feitas em palanque ou em microfones de rádios, que soam mais falsas que orgasmo de prostituta.
Sou dos que acreditam que o amor ao lugar onde se vive pode ser declarado de forma silenciosa, perene e cidadã, valendo mais o gesto que a fala, contando mais a atitude que o discurso.
Referenciar neste escrito políticos da atualidade e de um tempo recente, seria dar azo a passionalidade que cerca permanentemente a cena politiqueira da cidade, mas deixar de lembrar nomes como o de Antonio e Roberto Paulino, Jáder Pimentel e Zenóbio Toscano seria sonegar várias páginas importantes escritas por esses autores/atores da cena política que hoje, no imaginário, nos bastidores, na liderança de uma disputada fatia eleitoral e no papel principal, representam o estabelecimento político dos últimos 40 anos. A História, despida de emoções, nos dirá quem foi o conciliador, o astuto, o intelectual boêmio e o mais capaz, podendo ser considerada a concomitância da adjetivação, em alguns casos.
Precisaria mais que o espaço de uma crônica para caminhar pelo Cordeiro dos Tunilas, de Enoque Francisco,  Zé Cupeiro, Paulino da Matança, Gil Cândido e de Zé Paulo; pelo Rosário de Manoel Marcelino, João Fidelis, Damião Dupipa e de João, irmão de Bolo, ambos filhos de Maria Catita; pela a Rua da Barreira, de Galo, de Judite Carnaval, Seu Santiago, da poetisa Mariza Alverga e da Bodega de Vila; pelo Juá dos Cândidos, Mirandas, de Manoel Perigoso, Capitão Meia Noite, Barrão e Chiquino da Socic. Juá também da bodega de Neco Rato, que nos dias atuais e já há algum tempo, serve de caixa de ressonância de tudo que acontece na cidade; passar pela Napoleão Laureano dos Amorins, Medeiros Paiva, Martins e Meireles; seguir para confluência das ruas do Tambor, do Mosquito e do Arame, território de Bento Souto, Otávio Paiva, Genuino, Manoelzinho Tartaruga e dos Guandus; trilhar pela Rua João Pimentel Filho dos Gadelha Trócoli, dos Victores, dos Diogo de Lima, dos Tertos, Paulinos e Camilos; viajar pela Primavera de Zé Pereira e dos Bulhões; pelo Nordeste dos Matias, de Edgar Ferreira, de Quinca Pereira e de Josa da Padaria; subir o Tororó em direção ao São José dos Baltazares e dos Félix; percorrer a rua Rua do Boi Choco dos Pachecos, dos Oliveiras, dos Freitas, dos Pontes, dos Porpinos e dos Coutinhos; passear pela Almeida Barreto do bodegueiro Zé Gouveia, do músico Felinto e das professoras Madalena, Maria Eulália e ainda de Antônio Mendes, Bina Leite e de seu Elias pai de Totonho; andar pela Rua da Baixinha de Manoel Tenente; Joca Benedito, Bastinha, Estelita Cunha, Seu Rubens, Zezé Xerife, Anísio Paixão e João Barbeiro; seguir pela rua da Barra dos bodegueiros Cícero, Ademar Ferreira e João Viegas. Viajar no tempo pela Epitácio Pessoa, sentindo uma ponta de nostalgia, ao lembrar o Clube Recreativo e de Nanhã na janela da sua casa, com seu cabelo de puro bronze, plumas ao redor do pescoço e exibindo o seu inseparável sinal (feito a lápis) só comparável ao de Marilyn Monroe. Rua Epitácio Pessoa também de Carlos Moura, da Sorveteria de Heleno, do Clube Campestre, de Anísio Maia, Seu Joquinha, Bianor Amaral, Assis Leite e dona Bina da Miudeza. Palmilhar os espaços do bairro Novo (antigo Tapado) desbravado por Expedito Santos e Ulisses de Freitas.
Isso demandaria a feitura de outros escritos, que como este não viesse tão carregado de emoções e omissões, já que construído de um só fôlego, no mesmo mergulho.
Parabéns Guarabira pelos seus 136 anos.
*Alexandre Moca ahluc@uol.com.br

Comentarios de Emília Mireira.
Lendo sua crônica me transpuz para meu tempo de menina quando brincava com os filhos de madrinha Hilda Paulino na rua da Barra. O grande quintal se abria para a rua da Estrela onde várias vezes vi meu pai, um grande boemio, que dizia com voz forte: entre e não diga a sua mãe que me viu. Lembro do Colégio da Luz e nele dos espetáculos de teatro montados e dirigidos por Paulo Cleto, das reuniões da Jec organizadas pela superiora irmã Alci Neiva Arraes, jovem, poliglota, de visão política progressista ligada à Teologia da Libertação, que me iniciou na trajetória política. Das minhas amigas de sala de aula que, a excecçao de Maria Carmem, perdi completamente de vista. Lembro- me da Graciosa de dona Zefinha loja sortida que ficava na rua da Lagoa, de Madrinha Virna num dos casarios da rua da Igreja onde ia todos os dias pedir emprestado os livros de coleção que tinha uma das suas filhas para varar as noites lendo. Lembro das minhas fugas para assistir aos comícios de Osmar de Aquino, político engajado e defensor das Ligas Camponesas. Senti muita saudade dos bolinhos de polvilho que tia Alta fazia e enchia minhas mãos quando a visitava naquela casa que ficava num alto e que eu, na minha apreensão de menina confundia com um castelo. Minhas primas Cema, Zélia, Estela e Socorro de quem nunca mais tive notícia. Me deu saudade, delas e da minha tia América e tio Zé Lira que eu adorava. Ainda moravam por lá tio Belisário e sua família e os filhos de tio Zé. Me recordo de tia Geraldo Lira e de sua esposa Marisa Alverga, mulher que se destacava por sua postura a frente de seu tempo, sua irreverência, que escrevia bem e tinha toda uma ligação com a cultura local. Seu texto Moca me fez reviver as festas da Luz quando o pavilhão central era levantado na rua da Matriz e tínhamos a casa de dr. Pimentel e dona Alda como apoio. Lembrei também de um farmacêutico cujo nome me falta agora que era considerado o médico da cidade. Na sua farmácia eu e meus irmãos íamos tomar injeção nas nossas crises de amigdalite. Os cinemas da cidade o Sao luiz e o Sao José. Os filhos de Clóvis Dias, sou madrinha de Neto. Faz muitos anos que não o vejo. Encontro mais seu irmão mais novo o genial artista Clóvis Dias Junior que carreguei em meus braços quando nasceu e que é afilhado dos meus pais, mas com quem depois de adulto não tive mais contato. Perdi o contato com essa família que me acolhia nas festas universitárias no seu casarão belíssimo, o mais belo da cidade. São tantas lembranças boas que seu texto me trouxe. Parabéns pela beleza da crônica. Concordo com o Sérgio que temos que te cobrar um livro para podermos usufruir da riqueza da tua arte literária.

Comentário de Ramalho Leite
GUARABIRA, QUAL A SUA IDADE? 
Surpreende a todos os guarabirenses e estudiosos de História, o jornalista Ramalho Leite, quando nesta bela manhã ensolarada de 26 de novembro, lança novas orientações sobre a data real de Guarabira Cidade. Muito, muito interessante e importante mesmo essa observação de Ramalho Leite quando afirma enquanto parabeniza nossa terra amada:
 “Guarabira, na verdade, completa 178 anos de emancipação política, quando desmembrou-se do território de Bananeiras, em 07 de abril de 1837, com o nome de Independência. No período monárquico, a VILA já era um município, com câmara de vereadores e administração própria. A condição de cidade era apenas uma ascensão simbólica, diferente de hoje quando a Vila é inferior em status à Cidade. Guarabira ganhou a condição de cidade a 26 de novembro de 1887, mas era independente desde 1837. Quando Bananeiras emancipou-se da Vila Real de Brejo de Areia, levou consigo os territórios de Guarabira, Cuité e Pedra Lavrada, isto em 10 de outubro de 1833. Guarabira/Independência só esteve sob a jurisdição da Vila de Bananeiras por cerca de quatro anos, apenas. Portanto, tanto Bananeiras como Guarabira comemoram em datas erradas as suas emancipações políticas. Bananeiras seria 10 de outubro e Guarabira 07 de abril, quando tornou-se Vila de Independência e separou-se de Bananeiras. Com a palavra Alexandre Moca, Waldir Porfirio e outros guarabirenses que amam a sua terra e estudam suas origens históricas. No Bom dia Brasil, da Rede Globo, hoje, Chico Pinheiro encerrou dando os parabéns a Guarabira. Depois da Globo os meus parabéns soam bem modestos, mas sinceros: Parabéns Guarabira!”
É chegada a hora então, dos estudiosos que abordam formação e desenvolvimento sócio, político e econômico de cidades, reverem conceitos e conhecimentos à luz dessa observação do jornalista Ramalho Leite, que está sem dúvida mexendo com todos os nossos tradicionais conhecimentos. É graças a estudiosos assim que a história vai se construindo e chegando à sociedade de forma mais verdadeira e legítima. 
Enquanto isso parabenizo-a Guarabira, bela cidade e rainha do Brejo Paraibano, pelos 177 anos de emancipação política, nutrindo a esperança de que prospere sempre proporcionando oportunidade de viver bem a todos que consigo vivam diuturnamente. 
Na verdade são 186 anos de emancipação política de Guarabira. Só passou 4 anos agregada a Bananeiras com o nome de Independência. Data a separação de 1823. Essa data comemorada não é a emancipação mas a elevação à categoria de cidade. Como Vila, sede de município, já vinha desde muito antes.
Que a amem muito os seus filhos e amigos também.


A Birosca de Ramiro e Suas ideias Criativas - Ficção Crônica.

Por Belarmino Mariano.
Era um boteco improvisado e apertado, localizado no Bairro das Laranjeiras, em Itapinga, interior de Minas Gerais. 
O proprietário do estabelecimento era Ramiro de Sousa, conhecido como Neto do Cangaceiro Aboiador, do Bando de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião.
Na birosca tinha de tudo um pouco, uma sinuca desnivelada, uns tacos tortuosos e uma empanada verde empoeirada, atraindo bebuns e apostadores de apostas pequenas. 
De lanches a garrafadas, de tiragosto feito na hora a lapadas de aguardente, eram servidos, entre uma e outra partida de sinuca. Assim, o tempo era consumido e consumia a todos que ali entrassem e demorassem, o pouquinho que fosse.
Em meio às mercadorias, as pequenas garrafas plásticas de refrigerante eram consumo certo e as embalagens intactas iam se acumulando.
Para burlar o sistema, Ramiro pensou bem e resolveu o problema, higienizar bem as embalagens e reutilizar com o mesmo produto. Uma atitude ecológica ou grandes garrafas, pequenos negócios?
Ao final do dia, com a quintana fechada, ele pegou uma garrafa do escuro refri de dois litros bem gelado, abrio e encheu as várias pequenas embalagens higienizadas, com o líquido preciso e, com um aperto no corpo da garrafa e um pequeno vazio para a circulação do gás, fechou a tampa bem arrochada e deixou o produto na velha geladeira por trás do balcão.
Para a freguesia rotineira e pouco exigente, ele vendia o produto mais barato que seus concorrentes e como estratégia, sempre abria as garrafinhas, fazendo um pequeno barulho do gás com a própria boca.
A manobra era rápida, imperceptível e sorrateira, lembrando os grandes comerciais da marca, espalhados pelas redes sociais, outdoors e TV, clips com jovens, praticando esportes radicais ao sabor do viciante líquido gasoso.
Ele sempre dizia, "- o capitalismo é assim, cobra engolindo cobra". A pergunta que não quer calar: sabotagem, reciclagem, expertise, distorção, divisão ou partição do líquido sagrado de fórmula secreta?
Uma coisa é certa, nem tudo é exatamente o que a gente pensa, sente ou ver. Mas um refri bem gelado com um prato de torresmo mineiro, é um sabor para ser guardado nas profundas entranhas da memória gustativa. 
Eli revelou que, ao descobrir que essas marcas usam parte dos seus lucros para financiar as guerras em favor do império, assim como a sua maior concorrente sionista, cujo o genocidio contra os palestinos é feito por seus pares,
#refrigerantenuncamais, a não ser que seja "a Cajuina Cristina em Teresina..."
Esse é apenas um alerta para doenças crônicas, como: diabetes, colesterol e câncer.
As vezes não é bom exigir muito, certo dia em uma dessas biroscas, uma amiga pediu um suco de laranja sem açúcar e sem gelo. Aí a atendente serviu, com açúcar e gelo. Ela ficou pocessa e raclamou, pouco tempo depois a moça trouxe o suco do jeitinho que ela pediu. Aí fiquei pensando, será que ela deu uma cuspidinha e mexeu o suco com uma colher?
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes. Ficção Crônica).

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Eu Sou Morador de Rua

Por Belarmino Mariano
Essa frase ficou presa em minha mente, como garranchos que se prendem às margens do rio e vão prendendo lixos humanos e acumulando mais do mesmo, como sacolas e garrafas plásticas.
Ele era um homem magro, de meia idade e maltratado pelo tempo na rua. 
Suas roupas eram trapos sujos e o sapato surrado, era bem envelhecido pelo tempo na rua.
Ele estava sentado em um banco verde da praça onde sempre faço caminhada e, por acaso o cumprimentei de passagem.
Como quem queria conversar ou desabafar, pedindo um pouco de atenção. Falou assim de supetão -"Eu sou um morador de rua!". Então parei e demonstrei interesse pela frase enfática. Aí respondi com um sim, demonstrando que entendia aquela realidede.
Ele queria contar o que o levou a ser um morador de rua, contarva sua história aparentemente desastrosa e real.
A cachaça, o desemprego e a fraqueza de um homem ignorante, que perdeu  o convivio familiar. Mas antes de tudo isso, a pobreza impediu que tudo desse certo.
Mas agora não era mais tempo para lamentar, tinha que viver, pois a vida como ela é, só se vive uma vez.
Ele disse que a vida nas ruas é difícil, a incerteza é tudo o que se tem, tudo é provisório, tudo é improvisado e quando não chove, o vazio da rua aumenta ainda mais, pois quando chove, a força da água preenche a noite, com o vendável e o barulho nos telhados das lojas.
Na medida em que a noite se aprofunda, a cidade parece que não é de mais ninguém, a não ser dos gatos, cães e humanos que perambulam pelas ruas, rasgando sacos de lixo, enquanto armam confusões por restos de comida.
Como os lugares para dormir, são bancos de praças e batentes de lojas forradas com papelão, dormida dura e insone, sua preferência é caminhar pelo centro da cidade, como um observador de si mesmo, um explorador do frio, como alguém que na solidão, escuta o barulho dos poucos carros e das poucas motocicletas que ainda circulam roncando ruidos de motores que pertubam o silêncio.
Confessou que não conseguia entender o mundo, que não sabia dar conselhos, mas as noites e dias sempre eram muito difíceis para ele.
Os olhares e as desconfianças das pessoas lhe perturbavam, mas existiam aquelas caridosas, em meio a fome de quase todas as noites. 
O mundo é injusto e a presença de Deus que nunca sentia, lhe colocava nas preocupações de ser um profundo pecador.
Mas disse que sempre faz um exame de consciência e que não faz sentido, pois nunca matou, nem roubou, e em um certo momento, a perda da família e a brutalidade em ser homem, não tem mais volta.
Ele disse que não se arrependia de quase nada, e se tivesse que se arrepender, não saberia de quê!? A vida nem sempre é justa ou razoável. Perder e ganhar é uma questão de sorte, mas também de azar, que só se sabe depois.
Ele insistiu em dizer, -"Eu sei que sou morador de rua, mas não sou o único, sei que é difícil demais, e o pior é não ter onde tomar um banho ou fazer necessidades simples".
Na rua é preciso ficar sempre à espreita, pois as coisas ruins acontecem e chegam como em um milagre. Álcool, drogas e confusões banais estão onde menos se espera.
-"Somos como cães abandonados e agimos como cachorro abandonado ou fugindo de casa". Ele se referia ao centro da cidade, as portas das padarias, restaurantes e lanchonetes. Além 
dos pontos para as sacolas de lixo. -"São lugares certos, mas nunca sabemos o que iremos conseguir encontrar".
Ele agradeceu pelo cumprimento de bom dia no começo de tudo e por ter ouvido sua história, disse que não valia a pena lamentar o que não se conseguiu na vida. 
Fui em minha carteira e lhe ofereci dez reais para o primeiro café do dia. Nos despedimos e essa frase ainda movimenta meus pensamentos.
Isso já faz uns dias e até então, ainda não o encontrei novamente.
Ao padre Júlio Lancellotti e aos que estão em situação de rua. Que o poder público em Guarabira crie abrigos com higiene, jantar e dormida, pois as noites são difíceis.
Por Belarmino Mariano.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Enigmas Divinos ou Deuses Mortos e Enterrados.

Por Belarmino Mariano.
Na Geografia Cultural nos deparamos com categorias de análise como o espaço do sagrado (CORRÊIA; ROZENDHAL, 2003), bem como, apontamentos sobre fenomenologia e percepção geográfica de fenômenos das dinvidades e até mesmo dos territórios culturais de experiência com o sagrado.
A escolha teórica e metodoligica é reflexiva e questionadora, partindo do paradigma indiciário, tentando encontrar respostas essenciais sobre a escalada religiosa entre o politeísmo, henoteísmo e monoteísmo. E a questão central desse artigo, em primeiro momento, é saber o que ocorre com as divindades que o proto monoteísmo deixou de seguir?
Para além da Geografia Cultural que dedica espaço aos estudos do fenômeno religioso ou sagrado, também nos interessa a relação da geografia com a filosofia (SPÓSITO, 2004), pois para compreender o desenvolvimento do pensamento é preciso encontrar suas raizes.
Outro aspecto do estudo e entender algumas teorias naturalistas sobre os deuses como fenômenos da natureza ou seres vivos que eram relevantes e com as suas mortes, através da oralidade, foram transformados em lendas, mitos e passaram a serem cultuados e adorados através de imagens em madeira, pedras mármores e metais, entre outras simbologias.
A teoria mais importante a esse respeito é o "Evemerismo",  desenvolvida por Evêmero (IV aC). Seus exemplos vão desde um humano que existiu de fato e que era destacado em sua tribo ou clã e com a sua morte, passou a ser cultuado naquela comunidade para, com o tempo, ganhar espaço e representação do sagrado, chegando até ao panteão dos grandes Deuses de uma cultura, ao exemplo de Urano, Cronos e Zeus na mitologia grega.
De acordo com o evemerismo, os deuses antes de serem deuses, foram heróis, conquistadores, reis mortais e que em vida, eram  venerados, idolatrados e depois da morte passaram a ser cultuados em diferentes rituais, até sua definitava sacralização.
Parece que Evêmero, em teoria, se aproxima dos ateístas que negam a existência sacra de deuses, enquanto no evemerismo, os deuses são literalmente criações ou invenções humanas, adoradas como deuses e ou deusas.
Entre os vário deuses, alguns se tornam mais importantes, enquanto outros são esquecidos e nesse processo, surgem trindades, dualidades e unidades sagradas, que em muitos casos, só se tornam unidade devido a negação dos demais deuses.
Com base no evenerismo os judeus e até  mesmo os cristãos negam os deuses de outras religiões e afirmam que seus deuses são únicos, os outros são apenas imagens e ídolos irreais. Esse é o princípio fundamental do monoteísmo, mesmo sabendo das contradições que aparecem nos próprios escritos que fundamentam estas religiões.
Entre carne, metal, ferrugem, pedra, lodo, madeira e morfo, foram forjadas as imagens dos dos muitos deuses. 
Quando todos perderam o sentido, as imagens foram substituídas pelas ideias e subjetividades dos Deuses, estes se tornaram imaginários e invisíveis.
Esse é um estágio que fundamenta deuses invisíveis, que são sustentados através de narrativas de um mito criador, para que futuras gerações sigam como uma vedade inquestionável.
Daí uma filosofia teológica em que Deus reaparece refletido em luz, imagem fluida com o ar e a água, nas nuvens, nos trovões, tempestades e nos céus.
O inominável, resolveu a ideia de muitos e todos os deuses em apenas um.
Nas religiões o mono é a quebra da diversidade e só é um, se não existir materialmente, pois as contradições e discórdias tornam esse mono insustentável.
Essa construção de Deus nos dá uma sensação de existência de um ser para além da matéria, mas sempre nos deparamos com o paradoxo da image semelhança.
Sempre nos deparamos com a ideia de trindade que não bate com o mono. Que Deus estranho é esse que ao mesmo tempo é um, dois, três... Não faz sentido, mesmo assim, se justifica com argumentos contraditórios e provisórios que se sustentam há milênios.
Desde que esse genocídio sionista se intensificou na Faixa de Gaza (Palestina), que passei a questionar, se de fato, existe algum tipo de Deus mediando as ações do governo de Israel?
Isso sem falar no total apoio do Governo dos Estados Unidos e de Governos de alguns países da União Européia e do Reino Unido de matriz religiosa cristã.
Existem alguns enigmas dos deuses ou do divino, desde Javé - Oriente Próximo, passando pelos 
Sumérios, Assirios, Babilônios, até chegarmos aos egípcios, gregos e romanos, entre outros.
O que diz a Pedra Moabita ou de Estela de Danesha, sobre outros deuses semitas como: Deus Kemosh e 
Shassu, adorados e venerados pelos semitas e ou cananeus? Como Javé, que era um Deus do deserto, das tempestades e da guerra e, em algum momento se tornou único? E os outros Deuses tiveram que morrer?
Como Javé se fez um único Deus? 
Jave é o ser que faz o que foi feito. Um ser de paixão, possessivo e ciumento. 
Que homens inventaram um Deus que exige sacrifícios, obediência absoluta, amir incondicional?
No Javismo (YAHWH), em troca da fidelidade única a Javé, Ele enviaria um Messias ( + ou - 500 aC), para salvar seu povo dos inimigos e das atribuições (Adonai). Já são cerca de 2.500 anos de espera pelo enviado de Javé.
Javé elegeu os semitas como seu povo, ou foram os semitas que escolheram Javé entre tantos outros Deuses?
Sempre que leio o Velho Testamento, base histórica do Torá, Talmude e até da Kabala judaicas, me deparo com essas dúvidas. 
Também não entendo, qual a base teológica para que cristãos, especialmente algumas denominações evangélicas, usem o Velho Testamento em suas pregações? Não faz muito sentido, pois os judeus além de não terem reconhecido Jesus Cristo como o Messias, ainda lhe consideram um impostor, continuando a longa espera do seu verdadeiro Messias.
Mas os estudos apontam que acescolha de Javé se relaciona com Moisés e os 400 anos de cativeiro e escravidão dos hebreus pelos egípcios.
Como Javé, um Deus dos desertos, das tempestades, guerras e conquistas, que era cultuado pelos povos nômades dos desertos, se transformou em único para os hebreus?
Os escritos maometanos não negam as origens e fundamentos dos hebreus e a herança ismaelita em Abraão, mas não existe essa tentativa forçada de querer ser parte da teologia semita, como fazem os evangélicos cristãos consevadores.
Para onde foram os outros deuses que eram cultuados pelas varias tribos semitas do Oriente Próximo e até mesmo dos 400 anos de cativeiro no Egito, como: El, Asherah, Baalx e Utu-Shamash. Deuses da fertilidade, abundância, proteção, justiça?
Asherah era a Deusa cananéia israelita da fertilidade, base de estações dos anos, dos grãos, oliveiras e dos próprios pastos e animais.
Outro enigma que nunca compreendi ao longo do Velho Testamento. Nos 400 anos de escravidão na terra dos faróis, não existe nenhuma passagem bíblica, sobre as gigantescas pirâmides, esfinges e outros monumentos do Egito? É no mínimo estranho, pois como escravos deveriam ter trabalhado nestas construções.
Se estiveram de fato no Egito, será que ocorreram disputas de divindades e Javé saiu vitorioso, pois como o Deus do deserto, das tempestades e das guerras, estava em vantagem territorial?
Nesse conflito divino: Javé X El. X Asherah X Baal X Utu-Shamash. Todos caíram e foram vencidos?
Vale registrar que nenhum destes Deuses citados, se relacionam com os deuses egípcios. Todos eram divindades do Oriente Médio e até certo ponto, complementares em suas missões.
Muitos imaginam que os judeus sempre foram monoteístas, que só resistiram ao cativeiro egípcio, babilônico e romano, entre outros, por causa da sua fé em um único e poderoso Deus. 
Mas, o monoteísmo é basicamente um período inicial, entre 780 e 522 aC. Antes desse período, contados os filhos de Noé, temos pelo menos uns 5 mil anos, em que prevaleceram estruturas politeístas e ainda, muitos séculos de henoteismo (um Deus principal, além de outros deuses que eram cultuados).
Será que o Deus de Noé é o mesmo de Moisés, Abraão, Salomão ou David?
Será que os primeiros reis de Judá, como Davi e Salomão, foram as bases para um Estado Teocrático javístico? Será que os líderes religiosos e o Estado elegeram Deus, entre tantos outros, mas o povo e as tribos continuaram cultuando seus deuses ancestrais? Em algum momento houve uma imposição dos reis ao Deus Javé? Davi e Salomão sao bons exemplos para a definição de um Deus dos desertos, tempestades e guerras.
Nos relatos bíblicos, única fonte a tratar da história antiga do povo semita, não fica claro isso. Apenas em Moisés, quando ele vai ao monte e o Deus Javé exige fidelide e cunha os dez mandamentos, inclusive castigando o povo hebreu a perambular 40 anos no deserto, para fazer uma limpeza ideologica de cunho politeísta de gerações, até que os velhos morrecem e levassem consigo as velhas crenças, para que  os jovens seguissem o Deus de Moisés. Que Deus é possessivo era esse?
O Deus de Moisés foi encontrado no deserto, os seguidores de Moisés não foram fiéis a esse Deus, desviaram a fé aos seus Deuses e interesses pessoas, até parece que o Deus de Moisés parece estrangeiro, parece que não conseguia convenser os hebreus, mas o que era um castigo de 40 anos, diante de 400 anos como escravos do Faraó?
Se foi Javé que escolheu os hebreus como seu povo eleito, por quais motivos os deixou cativos de vários outros povos? Para uma lição de vida?
Ainda temos a ideia dos profetas, dos sábios, como a voz da consciência de Judá. Daí o culto a Javé e as dinâmicas de mudanças proféticas, da ideia de justiça, de igualdade, de compartilhamento de uma fé única, nesmo que outros deuses convivam e sejam tão importantes quanto Javé. 
Talvez, Javé fosse o Deus da proteção dos Reinos de Israel e Judá em longo período de guerras, mas os deuses e deusas da fertilidade, da paz e da justiça, continuasse nos cultos tribais.
Sempre tive essa dúvida de passagem teológica entre o politeísmo, henoteísmo e monoteísmo.
Encontrei em Max Miller, que o 
Henoteísmo era a adoração a um Deus, sem negar a existência e importância de outros deuses. Parece que foi o caso de 
Asherah Deusa da fertilidade que era uma espécie de consorte de Javé.
Como Asherah foi apagada ou deletada do panteão semítico, assim como outros deuses?
No livro Deuteronômio (Velho Testamento), Javé veio do Deserto do Sinai, acompanhado de uma presença divina (seria Asherah?).
Textos hebreus monoteístas de 515aC a 70dC. falan sobre a derrubada do segundo Templo de Salomão.
Será que a coisa do Messias que estava previsto nos textos de Javé, foi absorvida pelos cristãos da época?
Será que os Islâmicos interpretaram a mesma ideia com o advento do profeta Maomé, enviado por Alá? Os relatos históricos dão conta que, em 931aC., com a morte de Salomão, seu Reino dividido em norte e sul. 
Tida essa região era conhecida como Philistibe e os Hebreus escolheram Javé entre os vários deuses, do panteão do Oriente Próximo e médio.
Venerar, agradecer, pedir favores, cantar louvores a esse Deus unico, escolhido pelos hebreus. Mas, para onde foram e onde se esconderam os outros deuses e deusas judeus? Se Javé era um Deus entre outros, como explicar esse fenômeno do ponto de vista humano de uma época? 
O que estava envolvendo essa fé e que estratégias sócio-políticas para ocultar o nome de Deus?
De onde veio essa ideia de trindade? Será que foi outra estratégia de transição, entre o Henoteísmo e o monoteísmo?
Se Javé fosse um entre outros deuses de Israel, teria havido 
combates entre às figuras ou imagens de madeira ou pedra, também numa transição para um Deus imaterial?
Javé o Deus das tempestades, do deserto e da areia era maleável e não precisava de imagens?
Será que os outros deuses foram lentamente extintos e substituídos pelo Deus ideal, das narrativas sagradas, o Deus espírito, único, mono, invisível e enigmático?
Se os primeiros Reis são os representantes da teocracia,
Javé, se tornou o Deus herói dos exércitos celestiais? 
O Deus Supremo, o Deus da guerra, portanto violento, por outro lado, como o Deus Pai, o Deus Criador do Cosmo, o verdadeiro Deus de todo o mundo, com poderes de benção e salvação? 
Parece que os Romanos usaram as bases do monoteísmo judeu e adotaram o relegado Jesus Cristo, preso, julgado e condenado a cruz, pelis próprios romanis e judeus, a condição de o Messias. Assim nasceu o Cristianismo Apostólico Romano.
Os judeus viram escravos dos romanos e foram levados para outras terras colonizadas por Roma.
Quem pode conversar com Javé, além dos oráculos e profetas e qual a necessidade de enviar um Messias, se já é o todo poderoso?
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Por Belarmino Mariano, imagem das redes.
Alerta: Esse artigo é uma reflexão teórica baseada no Discordianismo essencialista e no paradigma indiciário, baseado em textos que deram base as três religiões monoteístas do Oriente Médio.
Fontes Diretas:
CORRÊA, R, L. ROSENDAHL, Z. Geografia Cultural: introduzindo a temática, os textos e uma agenda/ Roberto Lobato Corrêa e Zeny Rosendahl. In: CORRÊA, R, L. ROSENDAHL, Z (org). Introdução à Geografia Cultural/ Organização Roberto Lobato Corrêa e Zeny Rosendahl. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
History - Alienígenas do Passado. Série YouTube.
Velho Testamento on-line,
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus - De Abraão a queda de Jerusalém. On-line.
KERN, Lucas M. Annunaki, episódio 13. Logos/YouTube.
SPOSITO, S, E. Geografia e Filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico/ Eliseu Savério Sposito. – São Paulo: Editora UNESP, 2004

domingo, 19 de novembro de 2023

Israel, Ataque do Hamas e o Fogo Amigo?

Por Luiz Carlos Azenha - Revista Fórum*
Um helicóptero de Israel que atacou combatentes do Hamas no dia 7 de outubro, minutos depois deles terem rompido a cerca de isolamento de Gaza, atirou nos invasores mas também acertou jovens que estavam em fuga da rave Supernova, informou neste sábado o diário israelense Haaretz, citando fontes que tiveram acesso à investigação policial.

A rave teve a participação de 4.400 pessoas e a grande maioria conseguiu fugir: não foi pega de surpresa pelo ataque do Hamas, pois sirenes de alarme soaram meia hora antes. De acordo com estatística oficial, 364 pessoas morreram na rave. Yasmin Porat, uma sobrevivente do 7 de outubro, já havia apontado para a possibilidade de fogo amigo ao contar que viu um tanque de Israel atirar contra uma casa de sua comunidade, que havia sido ocupada pelo Hamas.

Citando uma investigação da Força Aérea de Israel, o site Ynet descreveu algumas horas de confusão, em que helicópteros atiraram mísseis Hellfire contra alvos sem identificação exata: Segundo o Haaretz, a investigação policial concluiu que os homens do Hamas não sabiam antecipadamente da rave.

Buscavam reféns quando foram atacados pela primeira leva de helicópteros.

As primeiras suspeitas de fogo amigo surgiram por causa de imagens de danos a veículos que pareciam incompatíveis com os armamentos empregados pelo Hamas no ataque: lançadores de granadas e AK-47.

A destruição causada pelos mísseis Hellfire é compatível com automóveis completamente destroçados e corpos carbonizados, mas só uma perícia pode concluir o tipo de armamento utilizado em cada episódio.
*Revista Fórum. Columnista Muiz Carlos Azenha.
https://revistaforum.com.br/global/2023/11/18/helicoptero-apache-matou-fugitivos-da-rave-diz-policia-de-israel-147980.html

sábado, 18 de novembro de 2023

"Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?"

Eduardo Galeano [*]
Para se justificar, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que essa carnificina de Gaza, que, segundo seus autores, pretende acabar com os terroristas, logrará multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito de eleger seus governantes. Quando votam em quem não se deve votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições de 2006. Algo parecido ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições em El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com nenhuma pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E, ao desespero, ao ponto mesmo da loucura suicida, é a mãe de todas as bravatas a que nega o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto as muito eficazes guerras de extermínio estão negando, há anos, o direito de existência da Palestina. Já resta pouca Palestina. Israel a está apagando do mapa.

Os colonos invadem e, atrás deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser uma guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel traga outro pedaço da Palestina e os almoços seguem. O devoramento justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos que observam.

Israel é um país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que zomba das leis internacionais. É também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhes deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com a qual Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não pode bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA nem o governo britânico pode arrasar a Irlanda para liquidar com o IRA. Por acaso a tragédia do holocausto implica uma licença de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência imperialista que mais manda e que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata para causar horror. Às vítimas civis, chamam de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam-se aos milhares os multilados, vítimas da tecnologia de despedaçamento humano que a indústria militar está ensaiando exitosamente nesta operação de limpeza étnica.

E, como sempre, sempre o mesmo em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, a cargo dos meios de manipulação de massa, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a crer que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel ou que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e belicistas? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se atribuem quando fazem teatro? Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial vem à luz uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E, como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza como de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus sempre foi um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue, uma conta alheia.

(Este artigo é dedicado a meus amigos judeus, assassinados pelas ditaduras militares latino-americanas que Israel assessorou)

*Algumas das suas obras podem ser descarregadas em https://resistir.info/livros/livros.html
A tradução encontra-se em www.novacultura.info/post/2023/11/03/galeano-quem-deu-a-israel-o-direito-de-negar-todos-os-direitos
Este artigo encontra-se em resistir.info
16/Nov/23

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A Volta de um Salvador


Todasas grandes religiões e seus mitos criadores, adiram a máxima de que um Messias virar salvar seus escolhidos. Assim:
- Os indianos estão esperando por Kalki há 3.700 anos.
- Os budistas estão esperando por Maitréia há 2.600 anos. -
- Os judeus esperam pelo Messias há 2.500 anos.
- Os cristãos esperam por Jesus há 2.000 anos.
- Sunnah está esperando pelo Profeta Issa há 1.400 anos.
- Os muçulmanos esperam por um messias da linha de Maomé há 1.300 anos.
- Os xiitas estão esperando por Mandi há 1.080 anos.
- Os Drusos estão esperando por Hamza ibn Ali há 1.000 anos.
A maioria das religiões adota a ideia de um "salvador", e afirma que o mundo continuará cheio de maldade até que esse salvador chegue e o encha de bondade e justiça. Talvez o nosso problema neste planeta seja que as pessoas esperam que alguém venha resolver seus problemas em vez de fazê-lo elas mesmas!
Por Luiz Carlos Flávio. Das redes sociais.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Um Jerimum, nada mais.

Por Belarmino Mariano.
Foi apenas um em todas as suas ramagens. Mas queria o quê? Ele nasceu por conta própria, sozinho em meu beco com saída para o quintal.
Se estendeu e se arrastou pelo beco cimentado, beirando a parede do vizinho e encontrou uma pequena área de terra, onde deitou raízes e se fixou por lá.
Era realmente uma área muito pequena e densamente ocupada por uma grande erva cidreira, um pé de uvas pretas, um pé de chuchus e uma pequena laranjeira, além de ervas daninhas.
Esse pé  de laranja, colado ao muro do vizinho, evito seu crescimento e uso para colher as folhas e espinhos.
O jerimum tentou florir e chegou  a colocar umas três vingas que não vingaram. Um jerimum chegou até a nascer por cima do pé de babosa, mas também não vingou.
Como sabia dos poucos nutrientes em seu nascedouro, fiz um pequeno coquetel de casca de ovo, casca de banana e pó de café, batidos no liquidificador e lhe ofereci. 
Observei que ele se ampliou bastante e resolveu seguir o caminho da área cimentada do quintal, ainda tentei voltar duas ramagens, mas ele teimou e dias depois, uma dessas ramas seguiu o trecho de cimento até encontrar uma caqueira de cebolinhas, onde jogou raízes por lá.
Na parte cimentada, por debaixo da goiabeira, ex que surgiu uma linda flor laranja amarelada e em poucos dias vingou um pequeno jerimum. Pensei como os outros, esse não vai durar muito. Ledo engano, erro grosseiro, pois a gente não conhece todos os segredos e mágicas da natureza.
O jerimum resistiu e vingou, verdinho e com rajadas branco amareladas foi ganhando corpo, se tornando único em meu quintal. 
Tudo bem, é só um jerimum, porém, com tudo, toda via, expressou força, residência e a importância da vida natural. E me deu lições em momentos de alegria e reflexão, pois todas as vezes que pegava a mangueira para aguar as plantas do quintal, ao som mental e melódico de "vem me ragggaer mãe, vem me haggaer"... sempre penso, regar é uma expressão forte para quem quer a vida florindo nos pequenos quintais do grande mundo. É assim que precisamos cuidar da "Mãe Terra". É isso aí, nada mais...
Por Belarmino Mariano, imagens do autor e das redes.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Mudanças Climaticas e Efeitos Catastroficos

Por Belarmino Mariano.
A natureza não tem porta voz, a espécie humana não é porta voz da natureza.
Pela primeira vez na vida, passei mais de 15 dias para curar uma gripe pesada, acompanhada de uma crise de sinusite sem precedentes. Vejo como um problema ambiental me afetando, com vírus mais resistentes e até letais.
Em 23 anos que estou em Guarabira, nunca tinha passado tanto calor em minha vida. E olha que sou frequentador de Patos e já fui em Teresina (PI), umas três vezes.
Nos anos 1992, tivemos a Eco-92, nesse período, o escritor anarquista Pernambucano Roberto Freire, escreveu um pequeno livro intitulado "Farsa Ecológica" (FREIRE, Record, 1992). Foi meu primeiro contato com a Teoria de Viragem Ecológica, em que, o ritmo acelerado e continuo de poluição, desmatamento e exploração indiscriminada da natureza, irá levar o Planeta Terra a um ponto sem retorno. 
Parece que chegamos a esse ponto de viagem ecológica, pois a natureza responde diretamente pelo descontrole dos seus antigos padrões de equilíbrio ambiental, gerando catástrofes naturais cada vez maiores.
Por incrível que pareça, as grandes potências, ignoram todos os alertas científicos e o mercado, segue com as mesmas práticas de super exploração da natureza.
Um geógrafo anarquista francês do século XIX, chamado de Eliseé Reclus, escreveu que: "O homem é a natureza adquirindo consciência de se própria". 
Realmente, enquanto Sapiens-sapiens, atingimos esse nível de consciência, mas os grupos econômicos que controlam o mundo capitalista, se interessa mais pela exploração lucrativa, do que pela a ideia de consciência.
Somos a parte consciente da natureza, mas a natureza não tem como se defender das nossas sanhas exploratórias. 
Por mais que surjam grupos ambientalistas, cientistas que consigam explicar e mensurar os riscos ambientais, enquanto estivermos sob a lógica do lucro a qualquer custo, seremos vulneráveis e colocaremos a natureza em situações, que poderão ser irreversíveis.
Aos Negacionistas, isso é uma Viragem Ecológica. Nada disso é apocalipse. Isso é uma viragem ecológica prevista e científicamente calculada desde os anos de 1980 a 1990. Desde a "primavera silenciosa", passando pela Eco-92, ocorrida no Rio de Janeiro, que os ecólogos, geógrafos, meteorologistas, físicos e outros, alertaram para mudarmos os ritmos e as práticas anti ecológicas, sob pena de riscos de destruição da vida para o Planeta.
Os negavionisras dizem: "Que nada, são uns alarmistas, a natureza é forte e se adapta. A economia é sensível e o mercado não pode parar o ritmo do desenvolvimento".
Vejam que o negacionismo se ampliou para várias áreas e na atualidade os efeitos catastricos estão invadindo a nossa praia.
Negação da educação, negação da ciência, negação dos vírus e vacinas, negação das mudanças climáticas e agora estamos diante de pandemias, vivendo ondas de calor, grandes tempestades, secas e inundações, entre tantas outras situações de viragem ecológica.
No Brasil da era bolsonarista tivemos derramamento criminoso de óleo diesel nas praias do Nordeste, grandes queimadas no Pantanal, Cerrado e Floresta Amazônica, com ataques genocidas aos territórios dos povos indígenas, com queimada, extração ilegal de madeira e garimpo ilegal, entre tantos outros crimes ambientais.
Agora querem profetizar, querem jogar para o campo do sagrado e da vontade de Deus, diante dos pecados do homem.
Bada disso, não se trata de pecados desse ou daquele homem. 
A questão é de crime ambiental em uma sociedade capitalista, desigual e de profunda exploração do homem e da natureza.
Essa viagem ecológica está apenas no começo e vejam pelas imagens que envolve tidas as regiões da Terra.
Por uma Sociedade Ecológica!
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Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.

Sionistas e Aliados, Genocidas Seculares

Por Belarmino Mariano.
Em 33 dias de massacre, enquanto quase 1 milhão palestinos caminham para Sul da Faixa de Gaza, por determinação de Israel, estão sendo bombardeados pelo exército de Israel.
Caminhar em uma rodovia desértica a mais de 40 graus, bombardeada, escutando o barulho dos mísseis, com idosos, crianças, feriados e cirurgiados, em seu próprio território é um ato desumano.
Caminhar por quatro horas, sem alimentos, sem água, sem medicamentos, em gigantesca fila de trapos e farrapos humanos, essa foi uma das piores cenas vistas desse massacre.
Ficaram no Norte de Gaza, quase 1 milhão de palestinos, que simplesmente não conseguem andar, não quem deixar seus anim e seus velhos, que perderam todas as esperanças e preferem ser mortos em sua Terra do abandonala por irdens de um governo tirano.
Isso não é saída, isso não é oportunidade, isso é uma tragédia humana, um genocídio a céu aberto. Uma carnificina humana, ao vivo e a cores para todos assistirem atônitos e omissos.
A ideia do governo dos Estados Unidos é que todos assistam o cumprimento de suas ordens e o grande sonho do governo de Israel, destruir o povo palestino e herdar seus escombros, pois abaixo desse solo existe muito petróleo e gás natural.
"A Doutrina Manifesto" dos USA, no começo do século XX, ultrapassou os limites da América, por isso, eles construíram plataformas militares em todos os oceanos e continentes. Israel é a mais avançada do Oriente Médio.
O mundo civilizado, se é que ainda existe esse tal mundo? Precisa parar, precisa impedir que esse genocídio sionista prosiga indefinidamente. Não podemos tolerar tanta selvageria, não podemos permitir que Israel propague tanto ódio entre a nossa espécie. Esse governo sionista de Benjamín Netanyahu precisa ser derrubado com urgência, pois não são os judeus em si, mas esse modelo fascista que conta com o apoio dos USA e outros ligados a OTAN.
O governo de Israel diz que só vai parar os ataques em Gaza, quando os reféns israelenses forem libertados. Mas estão bombardeando toda a Faixa de Gaza, querem mesmo cumprir essa determinação ou desejam que os próprios reféns israelenses sejam mortos para culpar o Hamas?
Benjamin Netanyahu disse que os israelenses reféns nas mãos do Hamas estão em túneis, mesmo assim ele autorizou ao exército bombardear os túneis que podem ter reféns israelenses.
Israel declarou que é o Hamas que impede a saída dos brasileiros. Se assim fosse, o Hamas também estaria impedindo saída de norteamericanos e britânicos, seus principais inimigos.
No ano 2023 D/C, Israel em 31 dias já matou mais de 11 mil palestinos, dos quais, mais de 4 mil eram crianças. Isso é um genocídio com limpeza étnica.
Durante o ano 33D/C, Israel pediu o julgamento e a morte de Jesus Cristo, que foi considerado um impostor para os religiosos judeus da época. Hoje, falsos profetas que se dizem pastores evangélicos, apoiam esse massagre genocida dos sionistas contra o povo palestino. 
Se Maria e suas primas lamentaram a morte de Jesus por crucificação, hoje são as mães palestinas que lamentam a morte dos seus filhos, estraçalhados por mísseis lançados por porta-aviões dos Estados Unidos, pilotados por judeus.
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Noam Chomsky: Sobre Inteligência Artificial IA.


Melhor definição do ChatGPT e da IA pelo genial Noam Chomsky sobre inteligência artificial:
"A mente humana não é, como ChatGPT e seus semelhantes, uma máquina estatística e glutona de centenas de terabytes de dados para obter a resposta mais plausível a uma conversa ou a mais provável a uma pergunta científica".
Pelo contrário...
"A mente humana é um sistema surpreendentemente eficiente e elegante que opera com uma quantidade limitada de informações.
Não tenta lesionar correlações de dados, mas tenta criar explicações. [... ]
Vamos parar de lhe chamar "Inteligência Artificial" e chamá-la pelo que é e faz:
um "software de plágio", pois "não cria nada, mas copia obras existentes de artistas existentes, alterando-as o suficiente para escapar às leis de direitos autorais.
Este é o maior roubo de propriedade intelectual desde que os colonos europeus chegaram a terras nativas americanas."
Fonte:
Noam Chomsky, New York Times - 8 de março de 2023.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Redação do ENEM - As Mulheres Invisíveis

Por Belarmino Mariano
Eita reboliço grande!!! Um monte de pais e jovens revoltados com o tema da redação, que tratou sobre: "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Os que mais reclamam do tema, falam de "um tema irrelevante", quando poderiam ter escolhido temas como Inteligência artificial, Tecnologia 5G, redes sociais, etc.
Minha filha de 15 anos, fez o ENEM pela primeira vez, como treineira e de cara, adorou o tema da redação. 
Pelo rascunho, a escolha do repertório, e tópicos de construção, demonstrou que a cultura e a visão crítica diante do mundo, fazem toda a diferença.
Ela nos contou empolgada que ao ler o tema, puxou logo uma "Mama África" da cartola de repertórios e Chico César foi a linha de costura de sua primeira redação do ENEM.
Como é importante ouvir e ter em sua playlists, cantores e compositores com conteúdo crítico. -"Parecia mágica, quando vi o tema, cantarolei na mente: "Mama África, a minha mãe é mãe solteira, e tem que fazer mamadeira todo dia além de trabalhar como empacotadeira nas casas Bahia".
Ela comentou que a estrutura da redação se desenhou em sua mente, como se fosse um texto já escrito, mas na verdade, nunca tinha experimentado escrever sobre o tema.
Em "Mama África", explicou que encontrou de cara elementos como a questão de gênero e as desigualdades sociais, além das abordagens étnicas e discriminatórias, em relação ao trabalho desenvolvido, em especial pelas mulheres negras, pobres e periféricas.
Ela disse que chegou a ver no tema que, as suas posições feministas diante do mundo, em que os homens querem submeter as mulheres aos trabalhos domésticos e de cuidados, em uma tentativa machista de apagar ou deletar a mulher do seu papel histórico, em uma sociedade que deveria garantir a igualdade de direitos.
Ela comentou que enquanto alguns, chegaram a usar o repertório de "as empreguetes", abordado em novela da globo, sobre empregadas domésticas, outros se perderam sem perceber que nem todas as mulheres vivenciam essa invisibilidade, pois as damas da elite social desconhecem as mamas africanas que vivem nos morros, favelas e periferias desse país chamado Brasil.
Brenda disse uma coisa, esse tema pegou muita gente, com repertórios decorados e abordagens que se encaixam em vários temas. 
A questão do trabalho invisível, desvalorizado que as mulheres executam, enquanto protagonistas de serviços essenciais, mas o mercado não dar a mínima. 
Os direitos trabalhistas sendo atacados, os péssimos salários e as atividades cotidianas não assalariadas que afundam as mulheres em fossos de depressão, precisam ser revistos e nada como a Redação do ENEM, em que todos os meios de comunicação estão voltados.
Essa foi uma deixa importante para se discutir e questionar esses modelos desiguais, que estão cristalizados em nossa sociedade.
É como o debate sobre o piso salarial das empregadas domésticas e das enfermeiras, enfermeiros e técnicos de enfermagem (mulheres em sua maioria).
Para aqueles que consideram um tema sem importância, vai a dica. No Brasil, mais de 52% da população é de mulheres e mais de 90% destas, estão enquadradas nessa escolha temática acertada demais, em especial, nesse momento de tanta violência contra as mulheres. O machismo estruturante, jornadas triplas, cuidados com os pais envelhecidos, com os enfermos, acidentados, amputados e cadeirantes permanentes.
Não podemos esquecer das mulheres de familiares esgarçados pela pandemia do COVID 19, em que milhares de mulheres perderam os maridos, bem como temos os milhares de casos, de familiares que ficaram com varias comorbidades ou sequelados, sobrando para as mulheres, esse trabalho do cuidado permanente.
Outro quadro terrível é o caso das mulheres com câncer, além do crescente número de crianças nascidas com alguma síndrome irreversível, quase todos, são trabalhos executados pelas mulheres em jornadas desumanas. Em muitos casos, os maridos abandonam estas mulheres à própria sorte, doentes terminais ou mães de crianças com microcefalia em elevados graus de alguma síndrome. É disso que essa redação do ENEM precisaria tratar.
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

A Civilização em Questão

Por José Ethan Lucena Barbosa*
Certa vez, um aluno perguntou à antropóloga Margaret Mead o que ela considerava ser o primeiro sinal de civilização em uma cultura.
O aluno esperava que a antropóloga falasse a respeito de anzóis, panelas de barro ou pedras de amolar.
Mas não. Mead disse que o primeiro sinal de civilização numa cultura antiga era a evidência de alguém com um fêmur quebrado e cicatrizado. 
Mead explicou que no reino animal, se você quebrar a perna, morre. Você não pode correr do perigo, ir até o rio para beber água ou caçar comida. Você é carne fresca para os predadores. Nenhum animal sobrevive a uma perna quebrada por tempo suficiente para o osso sarar.
Um fêmur quebrado que cicatrizou é evidência de que alguém empregou tempo para ficar com aquele que caiu, tratou da ferida, levou a pessoa à segurança, e cuidou dela até que se recuperasse. “Ajudar alguém durante a dificuldade é onde a civilização começa”, disse Mead.
*Biólogo e prof.da UEPB. Imagem das redes sociais.