Eita reboliço grande!!! Um monte de pais e jovens revoltados com o tema da redação, que tratou sobre: "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Os que mais reclamam do tema, falam de "um tema irrelevante", quando poderiam ter escolhido temas como Inteligência artificial, Tecnologia 5G, redes sociais, etc.
Minha filha de 15 anos, fez o ENEM pela primeira vez, como treineira e de cara, adorou o tema da redação.
Pelo rascunho, a escolha do repertório, e tópicos de construção, demonstrou que a cultura e a visão crítica diante do mundo, fazem toda a diferença.
Ela nos contou empolgada que ao ler o tema, puxou logo uma "Mama África" da cartola de repertórios e Chico César foi a linha de costura de sua primeira redação do ENEM.
Como é importante ouvir e ter em sua playlists, cantores e compositores com conteúdo crítico. -"Parecia mágica, quando vi o tema, cantarolei na mente: "Mama África, a minha mãe é mãe solteira, e tem que fazer mamadeira todo dia além de trabalhar como empacotadeira nas casas Bahia".
Ela comentou que a estrutura da redação se desenhou em sua mente, como se fosse um texto já escrito, mas na verdade, nunca tinha experimentado escrever sobre o tema.
Em "Mama África", explicou que encontrou de cara elementos como a questão de gênero e as desigualdades sociais, além das abordagens étnicas e discriminatórias, em relação ao trabalho desenvolvido, em especial pelas mulheres negras, pobres e periféricas.
Ela disse que chegou a ver no tema que, as suas posições feministas diante do mundo, em que os homens querem submeter as mulheres aos trabalhos domésticos e de cuidados, em uma tentativa machista de apagar ou deletar a mulher do seu papel histórico, em uma sociedade que deveria garantir a igualdade de direitos.
Ela comentou que enquanto alguns, chegaram a usar o repertório de "as empreguetes", abordado em novela da globo, sobre empregadas domésticas, outros se perderam sem perceber que nem todas as mulheres vivenciam essa invisibilidade, pois as damas da elite social desconhecem as mamas africanas que vivem nos morros, favelas e periferias desse país chamado Brasil.
Brenda disse uma coisa, esse tema pegou muita gente, com repertórios decorados e abordagens que se encaixam em vários temas.
A questão do trabalho invisível, desvalorizado que as mulheres executam, enquanto protagonistas de serviços essenciais, mas o mercado não dar a mínima.
Os direitos trabalhistas sendo atacados, os péssimos salários e as atividades cotidianas não assalariadas que afundam as mulheres em fossos de depressão, precisam ser revistos e nada como a Redação do ENEM, em que todos os meios de comunicação estão voltados.
Essa foi uma deixa importante para se discutir e questionar esses modelos desiguais, que estão cristalizados em nossa sociedade.
É como o debate sobre o piso salarial das empregadas domésticas e das enfermeiras, enfermeiros e técnicos de enfermagem (mulheres em sua maioria).
Para aqueles que consideram um tema sem importância, vai a dica. No Brasil, mais de 52% da população é de mulheres e mais de 90% destas, estão enquadradas nessa escolha temática acertada demais, em especial, nesse momento de tanta violência contra as mulheres. O machismo estruturante, jornadas triplas, cuidados com os pais envelhecidos, com os enfermos, acidentados, amputados e cadeirantes permanentes.
Não podemos esquecer das mulheres de familiares esgarçados pela pandemia do COVID 19, em que milhares de mulheres perderam os maridos, bem como temos os milhares de casos, de familiares que ficaram com varias comorbidades ou sequelados, sobrando para as mulheres, esse trabalho do cuidado permanente.
Outro quadro terrível é o caso das mulheres com câncer, além do crescente número de crianças nascidas com alguma síndrome irreversível, quase todos, são trabalhos executados pelas mulheres em jornadas desumanas. Em muitos casos, os maridos abandonam estas mulheres à própria sorte, doentes terminais ou mães de crianças com microcefalia em elevados graus de alguma síndrome. É disso que essa redação do ENEM precisaria tratar.
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.
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