Me autodefino como “socialista desejante e comunista utópico”.
Ninguém pode me acusar de lulista. Ele não é socialista, muito menos comunista, e já afirmou em várias oportunidades sua vocação populista de “pai dos pobres”, concorrendo com Getúlio Vargas na missão de fazer pelos pobres o que eles não são capazes de realizar — segundo seu argumento protetor e mantenedor do populismo.
Já fui petista, mas desde que deixei a militância, não me adequo a quaisquer partidos, preferindo a posição (cômoda, por que não?) de livre pensador. Palpiteiro independente, melhor dizendo. E sem significância, já concordando com vossa crítica.
Dito isso — necessário para a continuação do meu raciocínio — já não tenho paciência para os ataques da direita à pessoa do Lula ou ao PT. O neutro aqui, que diz falsamente não ser de direita nem de esquerda, é de direita. Não é possível neutralidade entre esquerda e direita, por mais relativos que sejam. Na presença da extrema-direita, o PT parece quase extrema do outro lado — embora não seja. É que, no torcer, se aumentam as cores do clube. Portanto, contra a direita, não me importa ser confundido com lulistas ou petistas, embora eu não o seja.
Agora, entre as esquerdas, ser contrário a Lula — não tendo outro possível de ser colocado em seu lugar — geralmente carrega tintas do mesmo preconceito da direita limpinha: na sua procedência de classe e, como o Brasil inventou um Nordeste diferente de si, em suas raízes sertanejas. Aí, o “como pode?” fica mais angustiante, procurando entender que o estadista, respeitado em todo o mundo, foi forjado na negociação do peão com o dono da fábrica, e o “pai dos pobres” no sertanejo que sofreu da fome que tenta saciar.
Ora, precisamos avançar dessa posição política — estamos de acordo. Mas onde está o substituto intelectual burguês que teorizou na academia o que Lula vivenciou na prática? Porque, para avançar, é necessário entender as raízes do populismo. Não adianta achar que Lula atrasa o que ainda não chegou a se formar na frente. Nem é culpa dele que líderes mais consequentes não apareçam.
Se, por enquanto, o que temos é ele, cerremos trincheiras ao seu redor para defendê-lo. É um avanço contra a direita que sempre tivemos. É uma opção muito mais avançada em relação à extrema-direita que hoje cresce no mundo.
Criticar Lula agora, sem um substituto — nem do mesmo tamanho, ainda mais sem alguém que ultrapasse o populismo com viabilidade eleitoral — é ajudar o inimigo na outra extremidade do matiz ideológico.
*(Texto: Edmar Oliveira. Desenho: Gervásio)
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