domingo, 5 de outubro de 2025

Comunicado aos Acadêmicos de Guarabira

Eminente, Emiliano Camilo Sobrinho, presidente da Academia Guarabirense de Letras e Artes e demais membros:

Venho através desta comunicação, primeiro me desculpar pela demora em responder as suas mensagens e também me desculpar ao membro dessa honrosa Academia, o professor, artista plástico e escritor Elias Santos, por ter me indicado para integrar a Academia Guarabirense de Letras e Artes.

Inicialmente fiquei muito honrado pelo convite, pois já havia ouvido comentários sobre essa importante congregação de artistas e escritores locais. Confesso que sou bem ansioso e fiquei bem alegre com a indicação e posterior convite.

Mas, ao analisar meus escritos, minhas linhas de pensamento e o que produzo academicamente, vi que se manifesta de maneira muito radical. Confesso que escrevo com uma certa compulsão, mas me sinto um escritor relapso, meus poemas são pobres de rimas e distantes do lirismo de muitos acadêmicos.

Pensando sobre meus escritos, os vejo como produtos radicais, críticos e anárquicos. Textos que não respeitam a ordem positiva dos temas. São crônicas, contos e resenhas, em sua maioria, ácidos, azedos e amargos aos regrados produtos literários.

Minhas palavras organizadas em textos, ferem as normas cultas, em muitos casos questionam a fé e as crenças alheias, as ideologias e dogmas instituídos. Seria um contra censo ocupar uma cadeira da instituição, se meus escritos são marginais e contraditórios, mesmo dentro de uma racionalidade e competência argumentativa, vejo que fica estranho querer ocupar esse espaço de reconhecimento da sensibilidade dos autores e artistas eminentes.

Confesso que tenho alguns livretos de poesia, escritos quando ainda usávamos mimeógrafo a óleo. Tenho vários livros das teorias científicas, do mundo geográfico, fruto de especialização, mestrado e doutorado. Mas não os vejo como leituras populares.

Tenho algumas publicações em capítulos de livros em co-autoria com outras pessoas. Mas acho que os rigores, métodos e regras científicas, geram escritos enfadonhos e distantes da vida social, questões afastadas da arte e da literatura.

Tal qual Pedro, sou um homem de pouca fé, não que eu tenha negado Jesus uma, duas ou três vezes. Mas é que o vejo apenas como um homem que acreditava muito em Deus. Então, diante de muitas hipocrisias, vez por outra, escrevo textos ácidos e desagradáveis aos pensamentos menos críticos e, estando como membro da Academia de Letras, posso confundir as mentes e os corações, por desagradar membros religiosos dessa instituição.

Sou um homem que escreve sobre heterodoxias, pouco ortodoxo e sem dogmatismos. Como o profeta Oséas, que em pleno século VIII a.C., fazendo duras críticas aos seus conterrâneos, não sou aquele de medir as palavras, e muitas vezes desço o sarrafo em ideias ou coisas nas quais não vejo sentido. 

Uso espaços das redes sociais e plataformas digitais, alimento blogs e faço constantes publicações de artigos principalmente de geografia política e geopolítica, são muito mais exercícios para sala de aula e para gerar links de acesso aos meus alunos e ao público em geral.

Meus textos são relaxados, apressados e não seguem rigores e nem correções gramaticais rigorosas, apenas os torno públicos, diante das facilidades midiáticas e seus corretores automáticos, não fosse isso, talvez seriam apenas manuscritos desconhecidos, em alguma escrivaninha ou gaveta empoeirada, relidos apenas por mim mesmo.

Gosto de me envolver em temas políticos e polêmicos, bem como, em pautas de costumes e em muitos casos, me sinto radical em defender opiniões de minorias, sem poupar críticas, nem mesmo de aliados, e estando na Academia, poderia ter que pensar duas ou três vezes, antes de escrever sobre o que penso e sinto.

Recebi uma notificação de que minha cadeira seria a 39, representada pelo eminente patrono Gilberto Vilar de Carvalho, confesso que tenho pouquíssimo conhecimento sobre as suas obras e assim me sinto pouco representativo nesse momento.

Queria muito agradecer a indicação e ao convite, mas não me sinto em condições pessoais e nem intelectuais para aproveitar tão rica oportunidade. Talvez seja pura insegurança, medo de não corresponder e nem honrar essa cadeira e essa congregação de ilustres escritores e artistas. Espero que entendam minha decisão e declaração de declínio do convite. 

Atenciosamente, Belarmino Mariano.

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