quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Irã: A iminência ou continuidade de uma guerra?

Por Diego Pessoa
O mundo vive um espectro de tensões que podem levar a mais um conflito sem precedentes no oriente médio. É o que parece sugerir o estopim aceso com o assassinato do General iraniano Qasem soleimani, por bombardeios americanos na cidade de Bagdá, Iraque. Esse fato acirra um conjunto de tensões que de certa maneira estavam sob relativa estabilidade desde de 2015, época em que entrara em vigência um acordo entre EUA e Irã referente ao enriquecimento de urânio (circunscrito pela ONU que duraria até 2031), consenso que iria logo ser rompido unilateralmente pelo país ocidental. Esse aspecto é algo que não é frizado na grande mídia e o Irã aparece como violador deste tratado. E assim, na guerra entre um suposto "bem (EUA)" e o "mal" (irã) a maior potência militar do mundo, com seus mais de 44 mil soldados no oriente médio, ameaçada bombardear 52 pontos iranianos, dentre os quais lugares culturais, o que se caracterísa crime de guerra. Mas isso não é TERRORISMO praticado pelos EUA? 
O recente atentado, muito bem protegido midiaticamente sob o rótulo de "ataque preventivo" e sob o pretesto de salvar vidas americanas, parece sugerir uma tentativa de controle territorial na região, especialmente do país que por ser oposição representa uma ameaça aos EUA, "conincidentemente" pouco tempo depois de ter anunciado a descoberta de novas reservas de petroleo que chegam a cerca de 53 bilhoes de barris. Ao que parece, assim como foi com o Iraque, em 2003, com as pseudas "armas de destruicao em massa" e biologicas, não se necessita mais de justificavas "racionalmente" plausíveis para se encabeçar uma ofensiva, basta ver o relato de Mike Pompeo quando relata a não existência do risco para percebermos a contradição o ato bélico. Mas então, o que motivaria o império americano a mais uma desastrosa guerra no oriente médio, depois dos custos humanos e financeiros anteriores? Será que estaríamos num contexto semelhante ao que Harvey já descrevera nos idos de 2003, em que valia "tudo pelo petróleo"? Ou talvez, estaríamos diante de mais uma irracionalidade sistêmica do sistema do capital, que tem na promoção da guerra não apenas a possibilidade de lucrar com a indústria bélica como também destruir capitais e recriar oportunidades lucrativas? 
Essa imposição de uma Pax (sem voz) americana, como se os EUA encarnasse o cerne da razão, da justiça e da liberdade, é característico da hipocrisia e do cinismo proferido por Dolnald Trump, no dia de hoje, um dia depois de o Irã ter respondido com o bombardeio a duas bases dos EUA, no Iraque. Traços importantes do discurso muito bem arquitetado para fins eleitorais: primeiro, diz Trump defender a paz no momento que promove a guerra, ou seja, transfere para outrem uma característica sua; segundo, diz para o Irã mudar o seu comportamento ao passo que amplia a retórica do poderio bélico americano, sugerindo que não desejaria usar, mas ...; terceiro, que aos EUA não interessaria o Petróleo da região, algo que depois do Iraque e das corriqueiras tentativas de desestabilizar politicamente a Venezuela só pessoas muito ingênuas acreditariam. Em suma, o que percebemos:
a) retórica cínica dos EUA, guiado pela lógica do controle incondicional, e apoiados por países como Inglaterra, Israel, Brasil em contraste aos pedidos de cessar fogo da União Europeia e o repúdio da China e da Rússia; 
b) Milhões de pessoas nas ruas no Irã comovidas pela morte do General, o que amplia os riscos de atentados devido ao acirramento do ódio ao ocidente como um todo (lembremos vem aí a copa do mundo no Catar- oriente médio, que pode não ser tão pacífica quanto aquele jogo em que o Irã entregou flores aos EUA);
C) Milhares de pessoas nas ruas nos EUA contra mais uma Guerra; 
D) Cinismo da mídia ao colocar a vidas americanas a cima dos milhares de civis que já morreram em guerras inventadas no Oriente Médio, basta lembrar o avião abatido por mísseis americanos na guerra Irã e Iraque, nos anos 1980. Na ocasião morreram mais 200 civis e Ronald Reagan cinicamente disse que se tratava de "um engano". 
Avaliemos juntos essa problemática que deixará não só "os mercados nervosos" como dizem os analistas especuladores, mas tem implicado em perdas de milhares de vidas.