Guarabira/PB é uma cidade atravessada. Aqui o calor é insuportável, muitos até acham que já estão nas soleiras do inferno de tão quente. Uma árvore para aliviar o calor a gente quase nunca encontra, pois as poucas, sempre sofrem podas radicais e ficam mutiladas por meses e até anos.
Mas acham pouco e com uma cajada derrubam pelo tronco, 12 apóstolos da natureza, árvores quase seculares ou seculares, pois foram plantadas entre a Estação ferroviária e rio Guarabira, para estabilição do solo, purificação do ar e paisagismo. Infelizmente, com a desculpa que estavam doentes e com riscos de queda, foram friamente abatidas.
O eucalipto não é nativo do Brasil é uma espécie originária da Austrália e Tasmânia na Oceania, por tanto alimentação dos coalas. O seu nome científico é Eucalyptus globulus Labill.
O eucalipto-comum é uma árvore de folha perene, de grande porte, que pode atingir 65 a 70 m de altura.
Seu uso é muito vasto e vai desde a médicina com óleos balsâmico e banhos relaxantes até a indústria de construção civil, papel e celulose, além da indústria química, com a fabricação de desinfetantes entre outros produtos.
O eucalipto foi introduzido no Brasil pelos portugueses, desde o século XIX, para ornamentação. Nesse caso, aqui em Guarabira, os mais de 30 árvores da antiga Estação Ferroviária que formam um pequeno bosque, talvez tenham sido plantados com a mesma intenção. Agora, parece que o poder público local não está mais se agradando desse paisagismo?
Não vou dizer que foi um "crime ambiental", pois não sou do Ministério Público, IBAMA ou SUDEMA, mas infelizmente se trata de um grande erro ambiental, em pleno mês de abertura da "Campanha da Fraternidade", que esse ano terá como tema a Ecológia e a Preservação Ambiental. Por isso fiz questão de considerar esses seculares pés de eucaliptos como apóstolos da natureza.
Observei cada um dos pés mortos e para minha tristeza, não percebi nenhum sinal de que estivessem doentes, infestados com algum fungo ou cupim. Os caules nitidamente saudáveis, a madeira dos troncos sem nenhum processo de apodrecimento.
Digo mais, uma das características do eucalipto é sua resistência física, no caso, é raríssimo que caíam e por isso são muito usados justamente para barrar o vento e possuem toxinas contra insetos e fungos. Onde tem um eucalipto não vemos nem ervas daninhas.
Se fizeram algum planejamento, não levaram en consideração os impactos ambientais e nem paisagísticos, pois agora temos uma paisagem funebre, com os troncos denunciando uma chacina ambiental. Precisam entender que derrubaram árvores com dezenas ou até centenas de anos.
Fui ao local desse assassinato ambiental e notei que os pés de eucalipto estavam liberando suas resinas e seivas normalmente, indicando que estavam sadios e em pleno vigor. O ideal era terem feito um planejamento, pois pelo que entendi, abateram 12 árvores de uma única vez. Os estudos de impactos ambientais sugerem que para cada uma árvore abatida dez devem ser plantadas. Ou seja, 120 novas precisam ser plantadas corretamente.
No local, percebi que de forma improvisada, para não dizer apressads diante das denúncias, foram plantadas algumas mudas em buracos rasos e apertados. Essas mudas sim, quando crescerem, da forma que foram plantadas irão tombar facilmente.
Precisaria de um berço, com covas alargadas, adubo e grades de proteção, nada disso foi feito.
Atualmente o déficit ambiental em Guarabira, rural e urbano, é de mais de 40 mil árvores. Se a prefeitura plantasse 4 mil mudas por ano, ajudaria muito. Mas parece que preferem abater, cortar no tronco. Agora a pergunta que se faz é: para onde foram levadas as árvores abatidas, valiosas madeiras retas e com muitos metros? E as outras árvores ainda vivas, terão o mesmo destino?
*Por Belarmino Mariano Neto, Doutor em Sociologia Ambiental, Mestre em Meio Ambiente pela UFPB/UFCG/UEPB. Prof do Departamento de Geografia da UEPB.
O poeta Magal Melo escreveu:
Os Doze Apóstolos Tombaram
Na manhã de anteontem, sem pena nem rito, Doze eucaliptos foram ao chão, num grito. Guarabira os viu cair, mártires verdes, Sangrando resinas, num pranto em rede.
O sol inclemente reinará absoluto,
Na praças vazias de sombra e em luto.
Mutiladas, as árvores que restam aguardam, A foice do homem, que as podam e retalham. Doze apóstolos da terra, do ar, do chão,
Firmavam o solo, limpavam a amplidão.
Mas julgaram-nas doentes, ameaças ao passo, Tombaram, sem culpa, num golpe em laço.
Eram centenárias, troncos altaneiros,
Erguidas ao céu, vigilantes guerreiros.
Não eram dali, vinham de outras paragens, Mas fincaram raízes, tecendo paisagens. Agora, a praça está nua, sem vida, sem cor,
Um solo ferido, um grito de dor.
E no mês da campanha, da fraternidade,
Ceifam os sonhos de sustentabilidade.
Não vi cupins, nem fungos vorazes,
Vi seiva pulsando em troncos audazes.
Resistiram ao vento, ao tempo, à lida,
Mas não resistiram à mão herbicida.
E o que se fez depois do massacre?
Desculpas rasas, raízes ao nada,
Mudas jogadas, sem berço ou afeto,
Madeira em queda num solo incompleto.
Se matam doze, cem sejam erguidas,
Que brotem do chão novas despedidas.
Que aprendam que a terra se nutre de vidas, E que a sombra é abrigo das dores perdidas. Que se replante tudo em tom de desculpas.
Ao meio ambiente, seus filhos da puta.
Pois não haverá um pingo de entendimento Derrubar um pé de árvore pra fazer um calçamento (Poeta Magal Melo).
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