sábado, 6 de outubro de 2018

REFLETI MUITO PARA TOMAR ESSA DECISÃO

Por: Belarmino Mariano*

Porque Hoje é Sábado? O dia em que os bares se enchem de homens vazios? Muitos criticam essa frase do Vinícius de Moraes. Talvez não tenham entendido, pois se trata de um texto com uma semântica e/ou sintaxe da dualidade, pois os homens sempre estarão vazios de alguma coisa. Vazios de bebidas, pois trabalharam a semana inteira, abstêmios do álcool? Vazios de sentimentos ou emoções, devido aos amores desfeitos ou não correspondidos. Vazios de soluções para o acúmulo de problemas da própria vida e, sábados após sábados, os bares se enchem de homens vazios. 
Talvez os sábados e bares da época do poeta tivessem poucas mulheres, de sorte que os bares do hoje não se enchem apenas de homens, pois as mulheres também galgaram e conquistaram esses territórios dos bares e das ruas.
Gostaria de me ater em específico ao sábado de hoje, dia 06 de outubro de 2018, véspera de mais uma eleição brasileira. 
Refleti muito para tomar essa decisão, ponderei todas as possibilidades, inclusive a de escrever essas palavras tortas. Isso mesmo, pois o que tenho que fazer afetará a vida de todos e todas as brasileiras, inclusive os/as que ainda nem nasceram.
É a minha Pátria, o território de parte dos meus ancestrais indígenas e que também acolheu, mesmo que na marra, brancos europeus e negroides africanos (estes últimos acorrentados e na condição de escravos). Esse é o país que também acolheu asiáticos e orientais do Indico e da Oceania.
Refleti sobre a importância da nossa bandeira, verde, amarela, azul e branca. Sobre o quanto é importante honrar e defender essa bandeira. Pois é "símbolo da Pátria amada" e do "lábaro que a ostenta estrela".
Pensei no quanto esse país é rico e diversificado, com regiões de mares e morros, matas e florestas, cerrados, cocais, caatingas, sertões, pampas e pantanais. Lembrei que tudo isso precisa ser protegido.
Também refleti sobre nossos heróis populares e vi o quanto temos heróis nesse país e todos vestidos sob o manto verde e amarelo, repousam sob o solo dessa "Pátria mãe gentil".
Enquanto tomava o banho matinal deste sábado, um filme foi passando pela minha cabeça, me veio o ano de 1964, 20 de janeiro para ser exato. Esse foi o ano em que nasci, nos rincões e serrotes do vale do Pajeú (limites da Paraíba e Pernambuco).
Muito tempo depois, na escola, aprendi que aquele tinha sido o ano da "Revolução de 1964". Mas o que a historia para uma vida tão curta e quem eram os feitores os fazedores de história daquela época, que nos confundem com a dualidade sobre Revolução ou um Golpe que implantou uma Ditadura Militar que se arrastou pelos meus primeiros  21 anos.
Os anos se passaram e cá estou com 54 anos e mais uma decisão para tomar pelo meu país. Estou sendo pressionado por todos os lados e não quero correr o risco de fraquejar, pois tenho uma mulher, duas filhas crianças e um filho jovem.
Juro que pensei muito para tomar essa difícil decisão. Confesso que lembrei de todas as minhas professoras e meus poucos professores, me ensinando lições para a vida e de que, eu seria o futuro desse "país que só vai pra frente".
Lembrei da minha mãe e pai que arrastaram seus 13 filhos, entre eles, 07 cegos, por entre secas e terras alheias, até conseguirem um pouco de pão e estudo para quase todos.
Nas vidas de pobreza e seca em que meus pais e parentes se meteram, lembrei desse povo pobre do meu país e pensei que, o que eu fizer amanhã, poderá, ou não, afetar as vidas de todos eles.
Hoje sou um professor universitário e me sinto em uma completa encruzilhada, pois tô vendo tudo acontecendo e tão rápido, mas é como se eu estivesse mudo e surdo.
São muitas e dissonantes vozes em minha cabeça, são muitas imagens e sons, que deixam um rastro de cores e um zumbido constante em meus tímpanos. Que fazer e o que não fazer?
Comecei a pensar em tudo  que já foi feito em nosso país? Em especial, nesses últimos 25 a 30 anos, pois foi quando comecei a me entender como adulto.
Juro que lembrei de um jovem magricela, de cabelos longos e barbicha rala, com uma camisa Hering e um desenho fraseado do irmão Henfil, que dizia "Diretas Já!". Nesse tempo pouco se usava #s. Uma luta inglória mas que valeu a pena, pois memorizei para meus filhos e netos.
Depois recordei de Tancredo Neves e  todo o drama de sua morte. Lembrei  José Sarney e todos  seus planos econômicos malucos.
Mas a coisa que não saiu  minha memória foi  era Collor  Mello. Eram tantos LLs, tanto amor a Pátria e a tradição da família brasileira, era tanta esperança  em verde e amarelo que contagiava até os mais velhos. Collor era um salvador  Pátria, um caçador de marajás corruptos, um restaurador da ética e  moral. De saldo, fiquei traumatizado com aquele eleito e o seu primeiro ato, o confisco da caderneta  poupança de todos os brasileiros. Lembro disso, pois muitos se  suicidaram com esse perverso ato da sua Ministra da Economia.
Depois lembrei das eras  FHC e depois  LULA com os acertos  e erros de ambos. Nestes últimos 20 anos, muita coisa mudou, estabilidade econômica, atrelamento cambial ao dólar e total integração do país ao neoliberalismo globalizante. Maior acesso a renda,  e consumo para  classes B, C e D e muito mais informação.
Foram anos de mais educação para todos e país neoliberalizado fez suas adaptações com cresmento e estabilidade econômica, em meio a grandes crises mundiais.
Também notei o crescimento da violência, da criminalidade  e as mortes banais, por um simples tênis da moda ou um aparelho celular.
O que fazer diante  disso? Jovens negros assassinados nas periferias urbanas, 60 mil mulheres estrupadas  ou violentadas, o ódio escancarado e a intolerância religiosa  homo-afetiva, o preconceito racial, étnico e até a xenófobia aos estrangeiros. Muito  que venho acompanhando, desde  Collor para cá têm cheiro  fascismo midiático, com toques de injustiças togadas e requintes  de crueldades de ditadores militares. Dito isso, pensando bem, por amor a Pátria amada, minha decisão nesse dia 07  outubro, será #elenão #elenunca #elejamais.
* Belarmino Mariano Neto
Prof. de Geopolítica, Teoria da Geografia e Biogeografia da UEPB.

Um comentário:

  1. Prezado, na condição de cidadão já tinha visto uma exposição do sistema política dessa magnitude?
    Vamos recordar que começou com um sistema de propinas do mais alto cargo aos demais partidos e políticos em troca de aprovação de projetos de lei.
    Somado a favorecimento de um grupo de empreiteiras que detinham o país nas mãos
    Sabendo da existência de uma lei que visa proteger a classe política do julgamento comum de crimes e que só é possível acabar com esse privilégio ao não se reelger
    Sabendo que o ex presidente que orquestrava todo esse musical precisou de muita mobilização popular e protestos para provar que ele não está de fato acima da lei.
    Sabendo que ainda que submisso a punição esse mesmo ex presidente orquestra seus fantoches políticos e nutre o fanatismo de uma política do pão e circo.

    Agora na condição de cientista, era algo tão inesperado que houvesse essa reação popular?
    Elenão é um salvador, nem traz a solução. A única virtude que possui que comove o povo é o fato de ter sido um dos únicos recusando o esquema de propinas do sistema. Não é inimaginável que exista um sentimento comum de revolta e que o único recado que a população quer passar é contra o sistema corrupto?
    Ele não representa a opinião pública, não é o mais preparado, mas é o único "semelhante" que o eleitor identificou para representar o repúdio ao sistema.
    Te incomoda a falta de postura dele que lembra alguém do povo e não um político?
    Incomoda mais que a própria manutenção do sistema vigente que lesa os ricos e os pobres, brancos e negros, homens e mulheres?
    Será que estamos a beira de tanto totalitarismo por conta de algumas declarações polêmicas?
    Incomoda mais a possibilidade remota de uma Ditadura militar que a manutenção do mesmo partido político no governo?
    Onde é que está a ciência que não previu essa manifestação e agora propõe como solução ao problema do sistema não eleger um candidato?
    Será que essa dualidade não piora com o uso indiscriminado de tantos "ismos" culpando um coletivo mas sem propor um alvo que possa ser atacado para diminuir o problema?
    Se existe amor a pátria deve haver compreensão a pátria que sofre por falta de um mecanismo de atingir o sistema, e quanto mais a mídia ataca esse mecanismo mais o ideal se fortalece.
    Não sei se vamos ter justiça social mas com toda a certeza vai ser melhor se pudermos falar de justiça social num sistema democrático.
    Os cientistas da área parecem ignorar esse direito do povo de se rebelar e é uma atitude extremamente anti-democrática criar uma campanha com atrizes globais para usurpar esse direito.
    Diante da sua ponderada decisão de não eleger alguém eu escolho ouvir e respeitar o clamor da massa e torcer pra que a pancada seja forte no sistema, depois é que se transmitir a mensagem poderemos falar de representatividade na democracia brasileira.

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