Foto de Fernando Amorim - Agencia atarde.com.br
Por: Rodrigo Aguiar
PSOL ganhou 3.945 filiados entre dezembro de 2012 até julho de 2015 e hoje tem 8.939 na BA
Em um ano marcado pela crise na economia e pela repercussão de escândalos de corrupção protagonizados pelo governo federal e partidos aliados, o PSOL foi a legenda que mais ganhou filiados na Bahia e em Salvador, ao mesmo tempo em que o PT foi o que mais perdeu, entre janeiro e julho deste ano, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral.
De janeiro a julho de 2015, o PSOL contabilizou 1.951 filiados a mais no estado, e 727 a mais na capital baiana. No mesmo período, o PT registrou uma queda de 407 e 41 filiados, respectivamente.
A comparação de dados feita em um período maior aponta ainda para uma diferença entre as duas legendas: a manutenção de uma tendência de crescimento do PSOL e um recuo, no caso do PT.
Entre dezembro de 2012 e julho deste ano, os três partidos que apresentaram o maior crescimento no número de filiados, tanto em Salvador quanto na Bahia, foram PSOL, PT e PCdoB, nessa ordem.
No entanto, enquanto o PSOL continuou em ascensão este ano, o PT recuou. No entanto, se o Partido dos Trabalhadores teve a maior diminuição de filiados, pelo menos pode apontar, no caso da Bahia, uma tendência geral de queda.
Das 32 legendas, apenas três tiveram crescimento de filiados no estado entre janeiro e julho: além do PSOL, somente PROS e SD, os dois partidos brasileiros mais novos, criados em 2013.
Já em Salvador, das 32 siglas, 11 mantiveram a mesma quantidade de filiados ou tiveram aumento (PSOL, PCdoB, PSDB, PRB, SD, DEM, PSB, PDT, PSC, PCO e PCB).
Corrupção
Para o presidente estadual do PSOL, Marcos Mendes, o crescimento do partido pode ser explicado principalmente pela não vinculação da legenda a casos de corrupção. "Todos os partidos do Congresso, com exceção do PSOL, estavam envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras", diz Mendes.
Segundo ele, o PT tem um desgaste de imagem maior por estar no governo, mas o problema seria "sistêmico" e ligado ao financiamento privado de campanhas. "O PP e o PMDB, por exemplo, foram beneficiados. O PSDB também, com Furnas. Mas Dilma é quem está na vitrine, o que faz com que as pessoas se desencantem", diz o socialista.
Mendes afirma ainda que, ultimamente, o PSOL tem se aproximado de pessoas e movimentos descontentes com o PT, como grupos de luta pela terra e quilombolas. "Essa população tem procurado muito a gente para discutir, movimentos outrora ligados ao PT que entendem que esse projeto faliu", diz.
O crescimento do PSOL não deve ser, porém, atribuído a uma simples migração de petistas, até porque o aumento de filiados da primeira legenda é bastante superior aos que deixaram a segunda, afirma o sociólogo Joviniano Neto.
"O crescimento do PSOL não se explica só pela saída de petistas, pela diferença nos números. Ou seja, o PSOL incorporou também pessoas de outras origens ou que não participavam dessa forma do processo político", afirma Joviniano.
Já o professor do Departamento de Ciência Política da Ufba Jorge Almeida relaciona o robustecimento do PSOL ao longo dos últimos dois anos e meio com as manifestações de 2013, por considerar que, neste período, houve um desgaste maior dos grandes partidos.
Jorge Almeida também cita as consecutivas boas avaliações de deputados federais do PSOL e a última campanha presidencial da sigla, com Luciana Genro, que teria sido "simpática a uma faixa grande do eleitorado, mesmo para quem não votou nela".
"Acho que esse conjunto de fatores provavelmente criou um clima favorável, porque não há uma estrutura forte para filiações em massa e o tempo de televisão é muito pequeno, ao contrário de outros partidos", diz Almeida.
"Saída mínima"
Apesar de os dados do TSE mostrarem que o PT foi o partido que mais perdeu filiados este ano no estado, o presidente da sigla na Bahia, Everaldo Anunciação, diz que a saída de pessoas é "mínima".
Segundo o dirigente, há cerca de 10 mil filiações "represadas" - ou seja, não oficializadas - porque o partido alterou o método de filiação. "É uma resolução nova. Antes, era livre. Agora, para se filiar, você precisa participar de uma plenária de formação. A gente precisa criar um quadro de militantes, e não simplesmente filiados. Assim, qualificamos mais", diz Everaldo.
PMDB: redução de filiados
Entre dezembro de 2012 e julho deste ano, o PMDB foi o partido que apresentou a maior redução de filiados na Bahia, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No período, a legenda perdeu 1.030 filiados. Em seguida, aparecem o PP, com 637 filiados a menos e o DEM, que contabilizou um recuo de 620 filiados.
O presidente do PMDB baiano, Geddel Vieira Lima, diz que os números “não assustam” e atribui o resultado ao fato de o partido ter rompido com o governo do PT, em 2009, e passado a fazer oposição nos anos seguintes na Bahia.
“As pessoas são atraídas por quem está no governo”, diz o peemedebista. Segundo Geddel, “o importante é que continuamos sendo o primeiro partido em número de filiados, mesmo estando na oposição”.
Conforme o TSE, o PMDB tinha, em julho deste ano, 93.346 filiados. Na sequência, estão DEM (86.347), PT (83.812) e PP (71.565).
Em Salvador, o ranking de filiados é liderado pelo PRB, partido ligado à Igreja Universal. São 20.644 filiados à legenda na capital baiana. Depois, surgem PT (16.198), PP (12.978) e PSC (8.942).
Propaganda e fundo
Apesar de fazer a musculatura de um partido aumentar, o crescimento do número de filiados não tem nenhum benefício imediato para a sigla.
Tomando o caso do PSOL como exemplo: apesar de ser o partido que mais cresceu na Bahia nos últimos anos, não conseguiu eleger nenhum deputado estadual ou deputado federal pelo estado.
O tempo de televisão e a proporção de recursos recebidos via Fundo Partidário são determinados pelo tamanho da bancada da legenda na Câmara Federal.
Por isso, as recorrentes propagandas veiculadas pelos partidos pedindo que as pessoas se filiem muitas vezes têm como objetivo principal, na verdade, promover algum provável candidato ou atacar algum adversário político.
“Normalmente, essas propagandas esculhambam A, B ou C ou promovem os candidatos. No final, coloca-se um ‘filie-se ao partido’ para disfarçar”, diz o advogado Ademir Ismerim.
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