domingo, 7 de abril de 2024

Igreja Evangélica das Mulheres Vestidas de Preto

Por Belarmino Mariano.

O local era uma esquina da avenida Tambiá, entre o centro e o Bairro do Roger, em João Pessoa, Paraíba. Em um casarão estilo neoclássico se encontrava o pomposo prédio da Igreja Cristã Nobilis (ICN), em letreiro azul e como símbolos, a estrela de Davi e um coração vermelho, alusivo ao Sagrado Coração de Jesus.
A expressão Nobilis me chamou atenção, pois lembrava marca de uísque, vinho, papel tolha e chá de chachês.
Lembrei até dos gases nobres, das camadas superiores da atmosfera, em pleno céu azul e também me veio à mente a camomila que em árabe, significa "athemis nobilis".
Mas estava diante de uma igreja cujo significado tinha sua origem no latim, com destaque para a ideia de nobre, notável e superior. O termo também compreendia a ideia de fidalgo, ilustre e honrado. 
Por se tratar de uma Casa do Filho de Deus, pude imaginar que em todos os sentidos, significados e simbologia da palavra, se aplicavam muito bem. 
Achei estranha aquela mistura teológica do Coração de Jesus com a Estrela de Israel, pois os judeus sempre consideram Jesus Cristo como um falso profeta e não como o filho de Deus, mas quem sou para tentar interpretar os novos signos da teologia cristã?
Mas onde entram as mulheres de preto e qual a relação com aquele Templo? Foi um sonho daqueles pesados que aconteceram às três da madrugada, em um grau de detalhes que você lembra de quase tudo ao acordar. A rua, as casas, as calçadas, os automóveis e os transeuntes em seus caminhares.
A calçada do Templo religioso era toda com fragmentos de mármore e símbolos da estrela de Davi em fragmentos de granito com o coração em quartzo rosa, encaixados, formavam um mosaico em ladrilho perfeito.
Ao longo de toda a calçada existiam cones de trânsito e fitas plásticas em cores amarelo e preto, alertando para as pessoas passarem pelo percurso guiado, meio que nos obrigando a irmos de encontro àquelas mulheres de preto.
Não havia nenhum aparente perigo, pois as mulheres estavam todas em longos vestidos pretos, com lenços pretos com finos bordados todos iguais e bíblia nas mãos.
Na medida em que a gente pisava naquela calçada, elas pegavam em nossos braços e tentavam nos puxar para dentro da igreja, nos convencendo de que iriam orar para nos afastar dos demônios invisíveis que nos rodeavam.
Naquele momento me vi diante de um assédio físico profundo, como se meu corpo estivesse sendo violado e a minha alma dilacerada, diante de uma força descomunal e o que parecia um sonho neo expressionista, foi se transformando em pesadelo pós surrealista macabro.
Consegui escapar dos braços de uma das mulheres, enquanto as outras tentavam me segurar e era como se meu corpo não tivesse tanta força ou estava meio anestesiado.
A duras penas, consegui sair dos braços daquelas mulheres de preto, mas vi algumas pessoas sendo arrastadas para dentro do Templo. 
Quando saía dos limites da calçada e dos cones com as fitas, um homem de paletó preto, com um broche da estrela de Israel na lapela, uma bíblia e um revólver nas mãos, tentava me alcançar aos gritos de "pare, pare se não altiro"!!!
Nesse momento, enquanto tentava correr como se estivesse em câmara lenta, olhei para trás e percebi que a arma era uma réplica e tinha na ponta do cano um plástico vermelho.
De repente parei bruscamente e me choquei contra ele, e aos gritos de pavor e indignação, gritei: "-atire, atire, atire"!!!, naquele momento acordei assustado e aliviado, respirei fundo e saí daquele transe sonhático.
Belarmino Mariano (Contos Dominicais). Fotografia de Luisa Mariano .

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