Nunca imaginei que a vida precisasse de um sentido, pois é possível escolher muitos caminhos de possibilidades. Até achava essa pergunta meio sem sentido. Vendo esse soldadinho ou viuvinha queria muito entender qual o sentido da vida? Sou daqueles que pensam que a vida é imprevisível como a vida de um simples inseto que lembra o capacete de um soldado.
Mas, quando minha filha de 11 anos me contou que passou todo o intervalo da escola, discutindo com as amigas, as melhores maneiras para escapar de um possível atentado em sua escola, me veio logo essa danada dessa questão.
Ouvindo esse relato, me deparei com uma pergunta sem sentindo, pois se um grupo de crianças, que entre estudar contam com o ato de brincar no recreio e, perdem o momento mais bacana da escola, que é brincar, se divertir, correr pelos corredores da escola, exercitar o lúdico, para se preocupar com estratégias de fuga, de um assassino em série, temos alguma coisa muito errada em nossa sociedade.
Estamos diante de uma distopia, em um mundo cinza, de violência e medo. A mente infantil registrando os sintomas das tragédias humanas. Sofrer passa a ser a grande questão. Qual o sentido do sofrimento humano?
Depois que esses ataques as as escolas brasileiras se tornaram frequentes, inclusive em escolas privadas, de classe média e por jovens de famílias abastadas, ficam nítidos desajustes sociais em nosso meio. Fico imaginando o sofrimento dos familiares que tiveram seus filhos assassinados a sangue frio, por um jovem, aparentemente bem de vida?
Notei que minha filha argumentos em favor de uma possibilidade de escapar desse possível ataque em sua escola. Me falou que era alta e corria bem, duas vantagens aparentes. Também me falou das rotas de fuga, pois lembrou que sua sala do sexto ano (A) é a primeira do térreo, logo seria a primeira a ser atacada.
Olha que pensamentos de sanidade ou insanos, pois existe um terror instalado em seu imaginário infantil.
Se o sentido da vida vir a busca da felicidade, primeiro teremos que destruir o medo, o ódio e o estímulo a violência, pois em ambiente hostil, violentos a tendência é termos pessoas desequilibradas.
Se o problema do sofrimento por violência extrema tem batido nas portas da classe média e alguns grupos acham que a saída é armar as pessoas, estamos entrando em um beco sem saídas, em que, teremos mais violência.
Agora imagino o sofrimento das crianças extremamente pobres que vivem nas periferias, com fome, sem agasalhos, sem moradia digna, com um córrego em putrefação passando no meio da rua improvisada do seu barracão.
A incerteza de dias melhores, o desemprego do pai e mãe, que encontram sentidos no álcool e nas drogas.
A violência doméstica e o trabalho infantil constante, joga essas crianças extremamente pobres, para uma completa falta de sentido da vida.
Minha filha ainda não sabe direito o que é pobreza extrema mas, já vive um sintoma de medo e sofrimento que estão sendo gerados em nossa sociedade.
O grande inimigo social, usa a pobreza e o sofrimento das pessoas para para justificar a sua gana por lucro com o mercado de armas.
Daí perceber que esses ataques são induzidos, são ideológicos e justificam campanhas como "fazer arminhas com as mãos", liberar o indiscriminado comércio de armas e que, a violência se combate com mais violência.
Algo do tipo, "bandido bom é bandido morto", " sou favorável a tortura, tu sabe disso", que a "ditadura deveria ter matado uns 30 mil", entre outros absurdos, como as práticas de racismo, homofobia e defesa do politicamente incorreto.
Esse modelo da violência e do ódio e o pior sentido para a vida. Ele foi alimentado pela extrema direita brasileira, executada pelo último governo e agora, tenta dar vasão a esse projeto fascista e neonazista que a maioria da sociedade reprovou nas urnas. Então, não temos como não politizar esse projeto político distópico.
Soldadinho.
Dado o grau de comprometimento e a distorção de suas visões de mundo transformaram-se em fundamentalistas.
Como não conseguem ver a si mesmos, transformaram-se naquilo que criticam e atribuem aos seus adversários.
Não temos ideia de que seja possível um esclarecimento em massa.
Por isso as pessoas de bom senso passaram a ter medo do futuro, porque eles são muitos e estão entre nós.
Um retrato do nosso Brasil."
Noticias de atentados extremistas que ocorriam com frequência nos Estados Unidos da América do Norte, estão acontecendo cada vez mais no Brasil.
Os extremistas de direita que sonhavam em sair das trevas, com o clã Bolsonaro conseguiram e mesmo com a sua derrota eleitoral, estão soltos, bloqueando rodovias, interditando portões de quartéis, depredando o patrimônio público e causando pânico em escolas, com ataques de fanáticos extremistas.
Esses ataques demonstram esse claro adoecimento mental que se transforma em crime hediondo. Já são dezenas de ataques e assassinatos coletivos em que as crianças das escolas se transformam em reféns e vítimas.
Quando vasculhamos as redes sociais desses extremistas, todos tem uma coisa em comum, apologia a Bolsonaro e aos ideais extremistas. Esse é o resultado da instalação de ideias fascistas que ao longo das últimas décadas e com o adivento das redes sociais, foram se fortalecendo e conseguiram eleger esse monstro fascista.
Você "cidadão de bem", que ainda continua achando que ao votar em Bolsonaro, apenas exerceu a sua cidadania, comece a refletir sobre a possibilidade de ser parcialmente responsável por esses crimes doentios e desumanos.
De acordo com Reinaldo Azevedo, através das suas redes sociais informou que: "no Brasil, dos 22 ataques a escolas, ocorridos nos últimos 21 anos, 12 desses ataques foram de 2019 para cá. O que era esporádico, virou corriqueiro após o incentivo às armas e o discurso de ódio como forma de disputa política".
A escritora Klicia Freitas Albuquerque, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, resumiu em detalhes toda essa saga.Aqui reproduzo suas ideias na íntegra:
"Um imenso hospital psiquiátrico a céu aberto, como nunca se viu, milhares de pessoas em delírio, dizem coisas sem sentido, desconexas e mentirosas.
Elas saíram de um mundo que não se sabia existir e esperam por um salvador, um líder, ou qualquer coisa que lhes conforte e acalme a alma perturbada.
Há uma curiosa identificação entre estes seres de todos os lugares.
Eles têm dificuldades imensas em aceitar os outros como são (juízes, libertários, mestres, cientistas, especialistas, progressistas, filósofos, jornalistas, entre outros).
Gritam por liberdade, divindade, família, propriedade e patriotismo reverberando o próprio grito, sem saber direito o que significam.
Ao dispensar a ciência e a filosofia e acreditar cegamente em alguma religião só sabem valorizar coisas unilaterais e práticas em suas vidas egoísticas.
Dado o grau de comprometimento e a distorção de suas visões de mundo transformaram-se em fundamentalistas.
Como não conseguem ver a si mesmos, transformaram-se naquilo que criticam e atribuem aos seus adversários.
Não temos ideia de que seja possível um esclarecimento em massa.
Por isso as pessoas de bom senso passaram a ter medo do futuro, porque eles são muitos e estão entre nós.
Um retrato do nosso Brasil."