Tapa nas costa de Gervásio Maia (PSB), divulgada em suas redes sociais. |
A escolha do título é fazer uma aproximação das teorias de Foucault (1996) em "A Ordem do Discurso", com fatos banais e corriqueiros da política brasileira e paraibana. Será que existe alguma relação?
Em um grande comício do Governador João Azevedo (PSB-40), em Guarabira, neste último sábado (17/09), acompanhado dos seus candidatos majoritários entre um discurso e outro, entraram em cena as "raposas da política" para tentar tirar vantagens, na "Ordem do Discurso". Nem queria dizer nada, mas uma briga entre os próprios aliados, em cima do palanque e com uma multidão assistindo, balançando bandeiras e filmando, isso não passaria despercebido, pois vivemos na era da informação.
O Candidato a Deputado Estadual Célio Alves (PSB), depois de concluir sua fala, já anunciou o seu candidato a Deputado Federal Gervásio Maia (PSB). A partir daí começou o "quebra-pau", "empurrões e tapas nas costas", pois o candidato a Estadual Renato Meireles (PSB) se sentiu prejudicado na ordem dos discursos.
Parece um trocadilho para chamarmos a atenção para o que diz Foucault em seu livro "A Ordem do Discurso". E é, mas apenas para dizer que a lamentável situação local que "viralizou" nas redes sociais, "rivalizou" o que seria um discurso de aliados que falavam para seus apoiadores, muitos ali obrigados por ocuparem cargos comissionados e seus familiares.
Uma triste situação, em que a política rasteira e o baixo nível de alguns candidatos, deixam muito em evidência a nossa crise de representação e o despreparo entre muitos candidatos a cargos públicos por eleições. Mas não podemos colocar todos e todas em um mesmo nível, pois existem muitos políticos sérios, inclusive em cima daquele palanque, pois o governo de João Azevedo, com muitos serviços prestados ao povo paraibano, nunca poderá ser medido por "brigas provincianas como esta".
Briga muito pior também aconteceu em Soledade/PB, na semana passada, dentro da coligação bolsonarista, em que até armas de fogo foram sacadas, entre candidatos e apoiadores do mesmo grupo de Nilvan Ferreira (PL). Na ocasião, os candidatos se xingavam de ladrões, pois parece que alguém estava ficando com o dinheiro da campanha, mas também, brigavam pelos votos dos pobres eleitores. Essa briga foi tão grave que repercutiu nacionalmente, pois os aliados do presidente Bolsonaro, vivem uma verdadeira "Guerra" para disputar os menos de 20% dos votos paraibanos, pois aqui na Paraíba, segundo as pesquisas, Lula (PT) já lidera com mais de 60% das intenções de votos.
Nesse caso de Guarabira, o mais grave é sabermos que essa ordem pouco importava, pois já se tratava de uma encenação política, em que partidários se reúnem na frente de um palanque para gritarem e aplaudirem discursos que nem estão escutando direito. Nesse caso, parece que os discursos sejam vazios de sentidos e que "a ordem dos discursos nem alteram os votos".
Foucault escreveu "A ordem do Discurso para proferir em sua aula inaugural no Collège de France (1970), quando assumiu a vaga do pensador hegeliano Jean Hyppolite, que podemos considerar uma síntese de suas principais obras escritas na década de 1960.
Alguém pode perguntar, em que isso tem relação com as brigas de candidatos por votos? o autor indaga que, “se a filosofia deve começar como discurso absoluto, o que acontece com a história e o que é esse começo que se inicia com um indivíduo singular, em uma sociedade, em uma classe social e em meio às lutas?” (FOUCAULT, 1996, p. 77). Talvez falte a ordem nos os discursos que geram as brigas, mas os candidatos se colocam como representantes de uma classe social e se dizem lutar em defesa das diferentes categorias e classes sociais.
As brigas de Foucault eram com a academia, com a ciência e com a política, enquanto ideologia e filosofia. As brigas dos candidatos é por cargos e pelo discurso para representar seus eleitores, que em muitos casos, só representam mesmo, os interesses dos seus grupos políticos.
"A Ordem do Discurso" segue uma trilha histórica do autor, pois ao trabalhar com temas pouco convencionais como "A Loucura", "As palavras e as coisas" e "Arqueologia do Saber" (1960), segue com a "Microfísica do poder" e "Vigiar e Punir", entre tantas outras obras. Assim, podemos dizer que Foucault resume: “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta, o poder de que queremos nos apoderar” (FOUCAULT, 1996, p. 10).
Alguns dos elementos da ordem do discurso merecem destaque, pois para Foucault existem procedimentos para o controle e delimitação do discurso, com a ideia de interdição, exclusão exclusividade, constrangimento entre outras situações de validade ou não dos discursos. A materialidade e as estruturas do poder estão no arco de análises de Foucault (1996).
O Palanque era do PSB e mais uns dez partidos aliados, em uma salada ideológica sem tamanho, incluindo aí partidos de direita, centro direita e esquerda. Mas poderia ter ocorrido em qualquer outra coligação, pois agem dentro de uma mesma ordem, aquela dos interesses do grupo, dentro do geral. Outro aspecto da disputa são os candidatos locais, que brigam com lideranças estaduais e sabemos que os aliados, muitas vezes brigam como se ainda estivessem nos anos 1930, quando os currais eleitorais eram a práxis política.
Poderíamos perguntar, quantos destes candidatos a representantes do povo já leram esses pequenos e importantes livros do escritor francês, pois todas estas obras já foram traduzidas para o português e tratam sobre as nossas práticas cotidianas e das relações de poder dos que comandam nossas instituições públicas, políticas, sociais e culturais.
As brigas políticas ocorridas em diferentes lugares desse país, independente de serem entre aliados e adversários políticos, em um mesmo espaço de poder, são muito mais sobre ignorância e mentiras que, sobre os reais interesses de uma ordem, ou organização de discursos que atendam e respeitem regras básicas como a democracia e a garantia justa ao diálogo político saudável.
Em um momento histórico, em que grupos fascistas ameaçam a ordem e as instituições, alguns brigam apenas para falar o que nem sempre é um discurso com sentidos de fato. Enquanto milhões passam fome, estão desempregados, sem moradia e sem segurança, os representados ou candidatos a representantes, saem aos tapas ou puxam armas de fogo e de palavras uns contra os outros.
Fonte:
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola, 1996.
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