domingo, 20 de março de 2022

Apesar de um tempo azedo, lagartas borbulham um futuro de asas.


Por Belarmino Mariano*.

Vai pensamento, flutua por estas cabeças e lhes rouba os espaços.
"Pai, não se preocupe por eu estar de cabelos longos, usando jeans e ter nas mãos minha viola. Se preocupe quando eu estiver de cabelos curtos, usando uma roupa verde-oliva e tiver nas mãos uma metralhadora para matar".
A história dos homens é feita de guerras, em que, "pessoas que não se conhecem se matam por pessoas que se conhecem e não se matam".
Uma casa não é feita de tijolos, mas de trabalho, sonhos e uma mistura de materiais. Nosso corpo é casa, com estruturas de ossos, paredes de garne e nervos articulados, guarda os segredos escritos pela dor, alegria e fantasia do nascer constantes. Uma moradia com portas e chaves de pensamento, sentimento e vontade.
Uma lar em que, muitos precisam morar verdadeiramente, sem se perder de vista. Pois "o corpo tem suas razões, nessa antiginástica e (cons)ciência de si"¹.
Quem somos além do nada? Construtores dos momentos e suas impressões, que dão continuidade a outros momentos. Somos movimentos em proporções incalculáveis e isso é nada em escalada loucura do viver, sendo o continuar, a contradição transitória do constante existir.
A consciência não se faz num dia, mas no dia da consciência de cada um. A vida é a diversidade pensada em todas as direções, em uma imaginária construção da existência.
Precisamos destruir o inquestionável (des)construir o existir, criar e viver o único e existentes movimento do ato constante, pois os momentos não são muitos, são únicos, e a tua liberdade amplia a minha em proporções alarmantes.
Da vida somos nada, frágil sentimento, pura carne. Fragilidade cristalina, apesar das presas caninas. Somos a antropofagia carnívora da calma, alma e alegria. Nossa mente espalha e espelha imagens e sentidos para o sonhar. Navegante de dores, cores e fantasias fermentadas pelos bolores moneras do tempo.
Minha liberdade estar presa ao casulo do espaço-tempo. Minha borboleta estar presa a um galho de limoeiro, uma liberdade vigiada pelos meninos da rua, que nada entendem sobre metamorfoses entre lagartas e borboletas.
Lagartas borbulham um futuro de asas, apesar de um tempo azedo que consome o vento de um mentiroso domingo. Quando te esgotares do vazio, certamente sentirás o forte frio do desequilíbrio da vida. São caminhos longos e sem ponto de partida. Sem luz perdi de ver o brilho dos teus olhos, perdi de ver de vez o que talvez não veja jamais.
*Fragmentos de texto impresso: Varadouro, Boletim informativo da AGB/JP. Ano 2, nº 4, Agosto de 1996.
"..." frases de autores desconhecidos.
¹. BERTHERAT, Thérèse. São Paulo. Martins Fontes, 1987.
Você, Lela Melquíades, Zilda Souza e outras 3 pessoas

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