Segue nossa coluna publicada hoje no Jornal A União.
Não sei se esse sentimento outras pessoas têm. Eu tenho. Sinto uma indignação com essa cobertura da guerra, a mais recente eu falo. Preciso informar que tenho ainda que melhorar minhas fontes. Mesmo assim, a sensação ao ver noticiário televisivo ou rádio, ou alguma rede social é que tudo parece propaganda de guerra.
Unilateralidade. Informação muito enlatada. E muita desinformação. Para minha vida cotidiana ligada ao ensino de Jornalismo, fica difícil largar o mundo das notícias. Seria algo como um divórcio. Enquanto isso me separo e reconcilio. Reconstruo esse relacionamento diariamente.
Tento me educar para as mídias, sobretudo nesse momento atravessado pela segunda vida online. Penso eticamente o que é possível fazer ou não fazer nesse mar de visibilidade em que a vida cotidiana midiatizada parece uma fratura exposta que ao invés de ser tratada, provoca anestesia e hipnotisa pelo excesso.
Recentemente observando a “cobertura” do conflito, cada vez mais midiatizado, causa uma estranheza a figura de um interlocutor que parece fazer um turismo de guerra. É como se tivesse passeando, fazendo turismo, só que entre escombros. Cabe a gente ser flaneur numa guerra? A violência simbólica em narrativas sobre uma guerra é assustadora.
A gente pode silenciar uma guerra? Claro que não. A guerra também não pode ser uma mercadoria, nem ser mitificada. A guerra é horror, é barbárie. Diante dessa inquietação da cobertura fui tentando pensar sobre os efeitos sociais da mídia. Algo que já é discutido faz tempo.
Dessa vez a inquietação que sinto é grande demais. Porque é preciso somar muito para que se faça parar a guerra. Ela está situada no território ucraniano, mas se desdobra globalmente. Além do fato de que não existe só essa guerra, há guerras espalhadas pelo Planeta. Outras mais evidentes, outras silenciadas, ignoradas.
A informação pode ser uma arma, e das muito poderosas. As informações influenciam nossos ciclos de vida desde a estadia na barriga de nossas mães. Nos forjam socialmente. Por isso é tão relevante estarmos mais atentas(atentos) ao quanto às más informações e a manipulação das informações (disponível hoje em larga escala) vão nos deformando. E não basta a gente desinstalar o aplicativo que concorre com o outro aplicativo. Talvez seja preciso um processo até de desintoxicação causada por enxurradas e mais enxurradas de imagens, textos, sons disparados numa velocidade estonteante.
A morte, as mortes, não podem se transformar em programa de entretenimento. Como diz um querido professor, o Cláudio Paiva, “corra Lola, corra!”, diante das armadilhas simbólicas. Desligar a TV, o rádio, o celular diante do grotesco midiático pode ser uma atitude sensata, dizendo não à mercantilização das diferentes formas de violência.
Emoções, cognição, nossas crenças são um caldo político importante que fazem parte da construção de poder por meio da capacidade de produzir imagens e de fazê-las circular socialmente orientando ou desorientando nossas vidas.
Penso sobre essas questões porque talvez reflita sobre a minha própria necessidade de dar um pouco mais de limites no consumo da violência onipresente como um tema na mídia e da mídia. Como afirma Giuseppe Mininni, em seu livro “Psicologia cultural da mídia”(Ed. A Girafa e Edições SescSP, 2008), é preciso se questionar sobre as repercussões que a imprensa, o rádio, a televisão, a Internet podem ter na organização das crenças, dos comportamentos e das condutas individuais.
*Jornalista e professora da UFPB.
Fonte: facebook da autora.
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