terça-feira, 28 de abril de 2020

O Jeitinho Brasileiro para Driblar o Covid-19

Número de enterros nos cemitérios públicos de Manaus atinge novo ...
Imagem extraída das redes sociais. msn. (AFP Vista aérea de funcionários de um cemitério baixando um caixão de um caminhão para sepultamento na área de covas recém-abertas do cemitério Parque Tarumã, em Manaus, 21 de abril de 2020)
Por Belarmino Mariano

A "Lei de Gerson", ou o "Jeitinho Brasileiro" como é conhecida, vem sendo praticada no pior momento da história política, econômica e sanitária do país. Em plena pandemia mundial de Covid-19, com mais de 3 milhões de contaminados e mais de 214 mil mortes.
Hoje, os números oficiais do Covid-19, já ultrapassou os 71.882 casos, mas o pior é as mortes ocorridos no Brasil que ultrapassaram a China. Em apenas 42 dias, o Brasil já registrou 5.017 mortos, enquanto a China, notificou 4.632 óbitos em mais de 100 dias.

CONDE/PB - Câmara deve votar cassação de Manga Rosa na primeira sessão remota


Por: Esquerda Virtual
A PRIMEIRA SESSÃO remota da Câmara Municipal de Conde deve analisar um pedido de cassação contra o presidente Carlos Manga Rosa. Nesta segunda-feira (27), a advogada Sheila Rodrigues protocolou pedido de perda do mandato de Manga Rosa por falta de decoro e ausência de dignidade no exercício do mandato de vereador. A base da denúncia é a suposta prática do crime de prevaricação e de improbidade administrativa pelo presidente da Câmara Municipal (conheça os detalhes aqui e aqui).

domingo, 26 de abril de 2020

ÁFRICA E A PANDEMIA DO COVID-19

Ação de prevenção em Lagos, na Nigéria. Foto: Ojo/Unicef
Ação de prevenção em Lagos, na Nigéria. Foto: Ojo/Unicef
Por Belarmino Mariano*

A grande mídia internacional e nacional, quando se trata da pandemia mundial de coronavírus (Covid-19), só apresenta noticiais das grandes potenciais mundiais. Até mesmo na América do Sul, temos dificuldades em obter informações dos demais países. Só aparece alguma coisa, quando a situação já é algo assustador, como foi o caso do Equador, em que os mortos estavam sendo deixados nas calçadas e ruas, pois as famílias não estavam conseguindo enterrar seus familiares mortos.
Apesar de Tedros Grbreyesus, Diretor Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), ser etíope, sobre a África, não escutamos um noticiário, gráfico, mapa ou dados oficiais de Covid-19 naquele continente. Pensando nisso, a partir de um pequeno comentário de minha esposa Érica Mariano, resolvi escrever este artigo que trata dos milhares de casos de Covid-19 no continente africano.
De acordo com os últimos levantamentos da OMS, o continente africano será um dos mais atingidos pelo Coronavírus (Covid-19). No mundo já existem mais de 2,9 milhões de casos e mais de 203 mil mortos e, a expansão geográfica da doença se propaga muito rapidamente. 
No Continente africano, ainda em fevereiro eram apenas cinco países, com cinquenta casos. Ao final de março já eram 39 países e ao início de abril, já estavam contaminados, com médias de 7,7 mil casos, com picos de 300 casos por dia e casos de morte em mais de 35% dos países (AFP/OMS, 04/04/2020).
A BBC/Portugal construiu um mapa de atualização automática para todo o mundo, que registra casos, óbitos e recuperados, a partir da base de dados da OMS. após o mapa, segue uma tabela automática, com os casos mundiais, cerca de 2,9 milhões de casos; 203 mil mortos e 822 mil recuperados (BBC/PT, 25/04) para acessar dados de todo o mundo, Mapa Mundial do Covid-19.


Fonte: Universidade Johns Hopkins (Baltimore, EUA), autoridades locais
Números atualizados pela última vez em 26 de abril de 2020 09:11 GMT

De acordo com dados da AFP/OMS (25/04/2020), no continente africano "O número de mortes provocadas pelo Convid-19 para 1.331 casos, com 29.053 casos em 52 países". De acordo com as estatísticas, mesmo aparecendo países poucos representativos em escala mundial, a propagação da Covid-19 da África será arrasadora, devidos aos acumulados e graves problemas de saúde já preexistente em todo o continente.

Impactos do Covid-19 na África

A África, com 30,22 milhões de km² é o terceiro maior continente da Terra. Com mais de 1,22 bilhão de habitantes, que torna o 2º mais populoso, entre os seis continentes do Planeta. Existem 54 países e 9 territórios, entre os quais, 48 são continentais e seis insulares. Vale ressaltar que destes, 7 são Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP): Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, além de Guiné-Equatorial.
Este gigantesco continente é banhado ao Norte pelo Mar Mediterrâneo, região muito próxima do Sul da Europa e trechos do Oriente Médio (Ásia), ao Leste ou oriente, pelo Mar Vermelho e oceano Índico. Ao Sul temos o encontro do Atlântico e Índico e ao Oeste o oceano Atlântico. Estes dados demonstram que o continente tem suas fronteiras internacionalmente abertas em todas as direções. 
Como a pandemia de Covid-19 se espalha de fora para dentro, limites marítimos ou oceânicos da áfrica se tornam um perigo adicional, pois a doença, que se iniciou em dezembro de 2019, com os primeiros casos registrados no continente asiático, já atingiu todos os seis continentes do planeta.
Quando se trata das culturas e etnias, o continente africano é reconhecido mundialmente como o berço da humanidade, pois estudos antropológicos e paleológicos, registram fosseis com milhões de anos. Existem centenas de povos tribais ou ancestrais nativos do continente, muitos dos quais ainda vivendo como viviam seus antepassados. Além das culturas tradicionais originárias da África, existem fortes influências culturais de outros continentes, como da Ásia com os povos islâmicos e hindus; da Europa com com os colonizadores cristãos que invadiram o continente, entre os quais: portugueses, britânicos, franceses, belgas, alemães, italianos, espanhóis e holandeses. Essa dominação estrangeira e exploração seculares, ainda reflete os graves problemas existentes na África.
Na atualidade portanto, os países africanos apresentam sérios problemas socioeconômicos, refletidos nos mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH),  entre os quais destacamos, baixa qualidade de vida, pobreza absoluta, subnutrição, analfabetismo e precário sistema de saúde pública ou privada. Esse é o principal problema para se evitar a pandemia de Covid-19.
A África é um dos continentes mais ricos do mundo, quando os referimos aos recursos naturais e energéticos, como: petróleo, gás natural, carvão, urânio, ouro, prata, diamante, ferro, bauxita, manganês, cobalto, cobre, estanho, chumbo, zinco, entre outras dezenas de outros minerais. Ainda são explorados os recursos florestais das florestas equatoriais e tropicais, mas estes recursos são controlados por uma pequena elite dominante e grandes corporações capitalistas estrangeiras.
O continente africano possuí duas grandes regiões geográficas, A África do norte (Saariana) e África Subssariana. Estes territórios apresentam gigantescos problemas ambientais, entre os quais a escassez de água. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a maior parte das poluções africanas vivem um verdadeiro "stress hídrico", com 1,7³ por habitante. ainda e existem situações de "grave penúria de água), com menos 1000³ per capita. Esse é o segundo grande problema africano para combater o Covid-19, pois a população não tem como fazer todos os cuidados de higiene previstos pela OMS.
De acordo com dados da BBC News/Brasil (09 de abril de 2020), na República Centro-Africana, só existem em média, 3 respiradores para cada 5 milhões de pessoas. Esse quadro se repete em quase todos os 54 países africanos. Os dados se repetem em dezenas de outros países:
"Em Burkina Faso, a proporção é de 11 respiradores para 19 milhões de cidadãos. Já em Serra Leoa, são 18 para 7,5 milhões". 
Dentre os países mais afetados pelo Covid-19, se destaca a África do Sul, mas a doença se alastra por todo o país com crescimento de até 60% em diferentes regiões do continente. Como os registros da pandemia está com um atraso de pelos menos três semanas, em relação aos demais continentes, nem dos dados são exatos. Existe uma completa falta de notificações e testagem dos pacientes, ficando restritos aos casos de internações e óbitos hospitalares.
o Continente africano, em escala mundial será o mais afetado pela pandemia de covid-19, pois a fragilidade socioeconômica e ambiental dos países, irá deixar um rastro ainda maior de pobreza extrema, com previsões em que novos 30 milhões de miseráveis se juntarão aos mais de 400 milhões de miseráveis que vivem na África.
De acordo com dados do Banco mundial (BM, 2018), a África concentra mais de 40% de pobreza. Em dados de 2015, a pobreza mundial estava no patamar de 10%. para cada 10 países da África, 4 ainda vivem um quadro de pobreza extrema, com pessoas vivendo com menos de 2 dólares diários. Enquanto todo o mundo concentra mais de 735 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, 413 milhões vivem no continente africano. Esse lamentável dado é o principal motivo para a propagação da Covid-19 neste continente, fator que poderá ampliar ainda mais estas tristes estatísticas.

*Belarmino Mariano Neto - Prof. Dr. do Departamento de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba. Doutorado em Sociologia pela UFPB/UFCG, Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPB/UEPB. Graduado em Geografia pela UFPB.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Bolsonaristas Cospem na Cara da Democracia

.                                       (Arte de Paulo Kalvo).
Por: Belarmino Mariano
Quando vemos em plena pandemia mundial de Covid-19, grupos de brasileiros, saírem as ruas do Brasil para pedir a volta da Ditadura Militar, o fechamento do Congresso Nacional, do STF e do Ministério Público Federal, vemos que estes cidadãos, rasgam a nossa constituição e escarram na cara da Democracia brasileira e mundial.

domingo, 19 de abril de 2020

Bolsonaro colocou a Democracia em Xeque

Por Belarmino Mariano
Jair Bolsonaro (Sem Partido), vêm há meses, tentando encontrar um time para dar um Golpe Militar, contra o Brasil e suas instituições democráticas.
Hoje tivemos mais uma demonstração, mesmo que vindo de grupelhos de ultra-direita, que apoiaram a eleição de Bolsonaro e que alimentam o desejo em fechar o Congresso Nacional e STF, além de impor censura a imprensa e manter Bolsonaro como o líder de um governo antidemocrático.
Temos que invocar o artigo 85 da Constituição: atentar contra o "livre exercício do Poder Legislativo e do Poder Judiciário" e contra "o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais". Nessa hora, o presidente, claramente e declaradamente, pois discursou para aquela massa, cometeu, os crimes previstos no artigo 85 da CF.
O outro crime é o não cumprimento da quarentena, pois foi para uma aglomeração, sem as devidas proteções em meio a maior pandemia citológica da história humana.
Como o presidente vive seu pior isolamento político, sem partido e demonstrando falhas em suas faculdades racionais, se coloca como contrário a todas as orientações sobre a pandemia do Covid-19.
Em seu discurso aos manifestantes que defem um novo Ai-5, Bolsonaro deixou claro que defende uma intervenção militar. Nesse caso, cometeu crime de responsabilidade (Lei 1.079/53), pois apoiou o ataque aos demais poderes da República, fato que se agrava, quando um dia antes, fez declarações contra o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM) e o Governador de São Paulo, João Dória (PSDB).
Para completar, o Ministro da Justiça, Juiz Sérgio Moro, assiste a tudo calado, como se não tivesse nada haver com essa situação autoritária e inconsequente.
Esperamos que as forças democráticas desse país, estejam unidas, pois, nesse exato momento, ao se dirigir para um ato público em Brasília, que pedia o fechamento do STF e do CN, fazer discurso de apoio aos manifestantes, colocou o presidente na linha do crime de segurança nacional e feriu a Constituição do Brasil.
#ForaBolsonaro
#RespeitoaDemocracia
#FiqueEmCasa
(Fotos Bernardo Mello):

domingo, 12 de abril de 2020

O Covid-19 e os mitos de Prometeu, Pandora e Cronos

Belarmino Mariano
Só um vírus para buscarmos alguns mitos gregos. Prometeu, Pandora e Cronos. Trabalho e Ócio, Caos e Tempo. Os conflitos são muitos, as forças econômicas e seus agentes. A vida, os dias e o lucro do trabalho humano. 
Será que o atual governo do Brasil representado pelo Bolsonaro, essa figura marchista com jeito de Pandora, merece estes escritos? Será que o povo brasileiro ainda continua anestesiado por algum tipo de soro da ignorância, pois ainda acredita em mito, mesmo sem ter lido uma linha sobre mitologia?
Em tempos de globalização e de informações instantâneas, como é que ainda existe uma onda de seguidores de farsas sobre a negação de uma pandemia mundial de Covid-19?
Acho que existem duas questões em jogo, a primeira é relacionada aos elementos apalavrados e a outra diz respeito ao uso das palavras, pois a palavra é possuidora de muitas forças forjadas nos recônditos de nossa mente, elas expressam pensamentos, expressam sentimentos e, expressam vontades. Este trivium é minha maneira de viver e ver o mundo do qual sou participante.
Todas as palavras são de um potencial sacro fantástico. Elas são imantadas de significados e interesses tão divinos que podem ser encontradas no mitológico mundo de Hesíodo em “os trabalhos e os dias” e esclareço a escolha deste filosofo grego, pois nele encontramos o mito de “Prometeu e Pandora” que começa dizendo: “oculto retêm os deuses o vital para os homens; senão comodamente em um só dia trabalharias para teres por um ano, podendo em ócio ficar; acima da fumaça logo o leme alojarias; trabalhos de bois e incansáveis mulas se perderiam” (HESÍODO, 2006, p.23).
A escolha do fragmento de idéias gregas, tão primitivas e civilizadas encosta nos nossos dias de trabalho e de ócio. Temos muitas alegorias como: a “Caixa de Pandora”, enviada por “Júpiter” para castigar todos os homens mortais de um lugar. Percebam que ainda não estou querendo chegar à idéia instituída como Caos, nem a perspectiva de Nix ou de Eire. Figuras “erradas” e “iradas” que vivem surfando nas ondas olímpicas de nossa tradição filosófica e mitológica. Até porque, gosto por demais do Caos, da Noite e da Discórdia, pois é da deusa da Discórdia que nos alimentamos com os trabalhos e os dias.
Mas voltemos a Prometeu, pois lhe coube a dádiva de criação do homem, essa mistura de água, terra, ar e ocultos materiais divinos que lhes permitiram direcionar a face aos céus, se imaginando também um pouquinho deuses.
Vejam que estamos pensando em coisas essenciais que poderiam ser aqui representadas como elementos da natureza. Mas parece que na lógica da discórdia e na separação dos materiais, “o olho e o cérebro” (MEYER, 2002), preferem o cérebro matéria, memória expressa em neurônios e percepção visual da terra, do lugar ou do peso do firmamento.
Nesse momento, gostaria de invocar a mulher, pois “Pandora” parece ser o presente de grego, dádiva de Júpiter ao pobre Prometeu. Ela é um castigo de Júpiter e que atingirá de cheio a criação divina em forma de homem.
Nem gostaria muito de colocar o irmão de Prometeu nessa parte da história que lhes conto, mas foi exatamente Epimeteu, quem recebeu Pandora enquanto um presente, do qual Prometeu suspeitava e desconfiava. Pandora trazia em sua caixa, muitos e irados problemas para os homens e estes problemas escaparam antes que Pandora houvesse fechado a sua caixa, restando apenas um cantinho de esperança no fundo das coisas.
Vejam que estamos vivendo mais uma vez à sórdida história das tragédias humanas e colocadas enquanto antecipação de fatos e fantasias tão divinas e tão humanas, com os quais nos tornamos homens mortais. Assim, as coisas estão caminhando em nosso mundinho. O uso in-devido das palavras, fortalecem contradições e expõem as entranhas de tradicionais forças que vivem em subterrâneas camadas do nosso cérebro. Hoje estava me perguntando: Pensamento, memória e o consciente são mesmo de que matéria? Pelo que mesmo estamos lutando em nossos dias? Em que darão estas brigas de Titãs?
É nesse sentido que invoco Hesíodo em “os trabalhos e os dias”, pois pelo que me consta, existem muito melindro e vaidade entre as divindades do olímpico mundinho de nossa existência. Por isso os homens e mulheres que não são deuses, mesmo tendo sido projetados com o mesmo material e designe das divindades, precisam trabalhar, mesmo que muitos prefiram o ócio e confusões divinas.
Mas trabalhar em quais condições, pois sabemos que da caixa aberta de Pandora, saiu uma Pandemia catastrófica para a vida humana?
Será que nestes séculos de acumulação capitalista e de riquezas das nações, não teríamos como estancar o trabalho, para salvarmos a humanidade da irá de Júpiter?
Por outro lado, “O Prometeu acorrentado” acha que Pandora trás em sua caixa todos os tipos de males, uma narrativa em que o ódio, a inveja e tudo mais, recairão sobre o homem e seu lugar.  
Vejo que as nossas relações estão tão presas ao mito de Prometeu e Pandora que o mundo dos homens, a história, a tradição, parecem vinganças de Zeus contra um lugar humano, amaldiçoado para sempre.
Gosto da idéia de ser um mortal e de ver meus dias consumidos pela vida, pela imprevisibilidade, assim me sinto tão divino quanto às crianças que brincam despreocupas do amanhã, mas sei das minhas correntes e assumo a condição “prométeica” de ter que trabalhar os dias, de planejar meus sonhos e de fazer acontecer. Mas por agora, vejo que para além do mito, a ciência insiste em isolamento social e até quarentena, pois o Coronavirus ataca em todas as frentes, convertendo os próprio ser humano como cavalo de Tróia em forma de vírus.
Nesse sentido, todos os argumentos e sentimentos de pertencimento ao lugar possuem a mais fiel validade, todos os medos e atropelos na maneira de conduções das idéias são naturalmente aceitáveis por todos, mas a engrandecida e catastrófica idéia de que tudo vai acabar não ajudam na configuração das melhores argumentações para o presente. No fundo da caixa de Pandora, existe um pingo de esperança, mas precisamos ficar em casa, em um aparente ócio.
Claro que o cérebro, processa necessidade imediata, reação instintiva e o frio na espinha quando se é surpreendido pelo latido do cão nas pernas. Mas passado o susto, recomposto o estado da racionalidade pura, será possível dialogar com as três maiores e invisíveis forças da natureza: Cronos (o tempo), Cosmo (o espaço) Caos (aqui traduzido como a incerteza).
Falo do tempo, pois ele é o grande Senhor que a todos consome. No nosso caso, o tempo urge e precisamos ter clareza disso em nossas ações, pois depois que a areia escorre pelo fino gargalo da ampulheta, pouco se tem a fazer.
Acredito que nessa relação espaço-tempo, a “Intercomunicação dos Sentidos”, Sobre a incerteza, acredito demais nela, é o corpo teórico com o qual gosto de trabalhar. Defendo inclusive que a vida é imprevisível, que “só há um ponto fixo”, como afirma Kafka e que é daí que precisamos partir. Não acredito que o cérebro funcione apenas para transmitir e dividir o movimento das ondas neurais. Algo mais que motricidade e mecânica físico-química acontecem nesse órgão de seleção e ação. Meio que discordando de Bérgson citado por Meyer (2002), somos possuidores de memória pura antecedente e o que chamo de essência espiritual dos titãs. Assim, justifico tão enfronhado texto de mitos, homens, mulheres e divindades. 
Por isso, somos homens e mulheres mortais e sem culpas, nesse caso, conscientes dos papeis por nós assumidos entre “os trabalhos e os dias”, temos um poder reconhecido enquanto “lembrança pura”, transformada em “lembrança-imagem” (MAYER, 2002, p.24), e o conhecimento que podemos utilizar servirão para como Hercules, libertamos prometeu das correntes, pois sua luta foi conquistar o fogo para os humanos e por tal façanha foi acorrentado. Só os ignorantes continuarão nas trevas.
O lugar como um detalhe abre espaço-tempo para o uso da inteligência coletiva (LÉVY, 2000) e para a constituição de laços sociais e relações com o saber dos quais temos profundo censo de justiça, ética e mais uma vez inteligência coletiva. 
Não podemos aceitar que fanáticos religiosos,  políticos farsantes e empresário avarentos nos joguem no poço infinito das trevas ou na vala rasa da morte. 
Temos que nos libertar das correntes da servidão, pois só assim sairemos desta distópica pandemia.
#FicaEmCasa
#PraticaOcioCriativo
#SejaSolidario
#FiqueVivo

REFERÊNCIAS
Imagem das redes sociais.
HESÍODO. Os trabalhos e os dias. (Traduz. LAFER, M. C. N.). São Paulo: Iluminuras, 2006.
LÉVY, Pierre. A Inteligência coletiva – por uma antropologia o ciberespaço. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
MEYER, Philippe. O olho e o cérebro – biofilosofia da percepção visual. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.

Morte Espetacular


Por Belarmino Mariano
Quando ocupei o útero de gaia ainda não era homem, mas apenas sonho.
Gaia Gerou do sêmen solar a luz da vida que germina em suas entranhas fecundas.
Primeiro um pó de luz se espalhando pelos recantos e imaginários olhos de mulher, que chora, grita, e sorrindo cria nas profundezas do ser os cristais para o novo e desprendido movimento do nascer galáctico: o filho de uma nova idade, fluído de
uma aromática essência de mulher que chorando se corta por dentro e sangra um avermelhado e violento momento matriarcal.
"Eu vi a morte, (...) com manto negro, rubro e amarelo. Vi o inocente olhar, puro e perverso, e os dentes de coral da desumana. Eu vi o estrago, o bote, o ardor cruel, os peitos fascinantes e esquisitos. Na mão direita a cobra cascavel, e na esquerda a coral, rubi maldito. Na fronte uma coroa e o gavião, nas espáduas as asas deslumbrantes que ruflando nas pedras do sertão, pairavam sobre urtigas causticantes, caule de prata, espinhos estrelados e os cachos do meu sangue iluminado.
(...) Mas eu enfrentarei o sol divino, o olhar sagrado em que a pantera arde. Saberei por que a teia do destino não houve quem cortasse ou desatasse.
(...) Ela virá a mulher aflando as asas, com os dentes de cristal feitos de brasas e há de sagrar-me a vista o gavião. Mas sei também que só assim verei a coroa da chama e Deus meu rei assentado em seu trono do Sertão." (Ariano Suassuna, Poesia Viva, 1998, CD:14 e 15).

Estes fragmentos de sonetos, carregados de signos, enigmas e imagens únicas são os elementos da morte, percebidos por Ariano Suassuna. Neste imaginário, as figuras da morte, vestida com adereços de elementos da natureza sertaneja, nos fazem viajar pelas palavras para na morte a sublimação da carne, onde o sol é um testemunho vivo de tal sede. Assim, símbolos da natureza semi-árida são ressaltados como poderosos e sagrados, no ponto do divino centralizar sua força nestas terras. 
Em outras partes do soneto, Suassuna ressalta a morte como um toque inapelável do divino, maciez, vida e obscuro toque de um Deus no homem.
O lugar e seus elementos como o gavião, a cascavel, a coral, a vida e a morte como figura feminina, que em suas palavras ganham um profundo significado. 
O destino, outro elemento muito forte na cultura nordestina, que em sua “triste partida” pode estar traçado, e diante da morte é preferível vagar pelas terras alheias, na espera de um dia voltar. Pois o destino traçado em suas mãos vai além de seus poderes terrenais.
Morte espetacular, em todos os seus elementos de arte. A morte possui a arte de matar. A morte mata o tempo e morrer é muito natural. Todo tempo é de morte, é de morrer. O ato de morrer parece o fim da vida, animal ou vegetal.
Pode ser uma entidade imaginária, crânio humano sobre ossos e cinzas.
Morte agônica, súbita, neurocerebral e irreversível. A morte cósmica de uma estrela, grande e natural morte. Morte matada não natural. Morrida, natural.
Morte por doença, violenta, rápida, imprevista. Desastre, homicídio, suicídio.
Chorada, cantada, lastimada, irremediável.
A morte de um amor ou de um rancor. Cores incolores pouco vivas, pálidas, mortas, brancas, pretas almas. Um espetáculo. Milhares de pessoas todos os dias e noites.
A cor incolor da morte tecida em luz e trevas, ausenta e apresenta-se sai dos esconderijos e em seu
clandestino silêncio, representa a contemplação nua dos deuses com seus toques mágicos de mulheres em seda, morim e cetim. Tintas e cores tecidas no multicolorido matar incolor. 
Um espetáculo aos vivos. Bandeiras sobre os caixões, fogo das paixões cremam em lágrimas, enquanto as flores murcham e as moscas acompanham o cortejo fúnebre.
Era um anjinho, menos de um ano. Cedo de mais para seus oitenta e cinco anos de vida lúcida e pública. Apenas um ano e o câncer se espalhou por toda sua vida acumulada em rugas.
Um espetáculo de cores que para o trânsito e muda o sentido das conversas. Breve, curto, longo sentir. Apenas um tremor de terra, quase tudo pelos ares. Via satélite, aos vivos. Um espetáculo de imagens em escombros. Quase tudo fora do lugar. Um resgate pelo cochilo da morte. É o que é a morte em todos os lugares, um complemento ao ponto final. Um espetacular cálculo estatístico que preocupa os órgãos de saúde.
As covas são valas rasas e coletivas, para os milhares de mortos infantis por desnutrição transcontinental.
Um espetáculo, assistido em propagandas de iogurtes, promoções de supermercados ou recordes de produção nas safras de grãos, contrastando com a fome mortal.
Um espetáculo em imagens para a hora do almoço e do jantar. Uma morte que fica bonita e ganha vida própria. Colorido, trilha sonora, visitas ilustres e cenas de choro e lenços. Populares e ilustres tecem curtos trechos de filosofia vã (vida/morte, ser/existir, desistir).
A tristeza se reveste de pompa, os óculos pretos e modernos contrastam com as faces rubras de peles bem tratadas.
A morte ganha todas as cenas, gera audiência, redimensiona a memória/imagem de passados que já estavam mortos. Os filtros das câmaras criam um ar acinzentado e mórbido. Flores quase mortas avivam os entornos do espetáculo mortal. 
Uma princesa, um velocista, um bandido, um índio Galdino, a vida de uma floresta inteira, um mega star, um caminhão de sem terras no click de Sebastião Salgado ou mesmo, um simples popular do corpo de bombeiros, que arriscava a vida para salvar vidas. Todos filhos da morte. 
Tons e sons de morte sobrevoam o local do cortejo. É uma pessoa ilustre, um chefe de Estado, era integro honesto e bravo. Álbuns de família são focados pela panorâmica das câmaras. Uma desatinada busca e alucinada espera. Cortante e bruto alimento do pensar, desconstrução de destruição na construção de uma miragem. 
A Morte veio em busca dos filhos do estupro ou abortados pelo medo, homens, violação patriarcal do divino, violência matriarcal em estar vivo. 
Morte calada que rebusca nas cinzas a poeira cósmica da noite, que esconde o sono e que não permite a embriagues dos sonhos.
Um espetáculo mortal, monumental. Milhares foram soterrados pela truculência da natureza, em um simples tremor de terras. Milhares encobertos pela lama do estouro da barragem de detritos minerais da Minas Gerais. Cenas globais repetidas dezenas de vezes pelos diversos canais, via satélite, aos vivos.
A tragédia é brasileira,  africana e européia. Combina morte/ rivalidade, alimento/ fome. Um espetáculo mortal e louco de vacas loucas e aves gripadas, que são inocentemente sacrificadas aos milhares.
Tragédia euroasiática africana, oceânica americana, de vacas, aves, florestas incendiadas e homens contaminados. Quantas vidas para cada morte. Uma morte, uma vida.
vírus, bactérias, fungos e agrotóxicos. Uma epidemia ou pandemia e a morte chega para sua colheita secular. Serão milhões de infectados, milhares de mortos, como em uma guerra contra o invisível. Medo, desconfiança e pânico, tudo junto e misturado. Já não existem cortejos fúnebres, as covas são essas e coletivas.
Uma cena midiática assustadora e espetacular, que desencadeia todos os pensamentos que a lucidez consegue roubar da mente em uma loucura. 
Um viajar imaginário do ser e penetrar na seda fina do subatômico momento do sábio nadar e, no demasiado sendeiro do escuro da luz nada encontrar. 
É grande a noite se resumida a uma madrugada da morte. Parece uma nevasca eterna. São tantos os espaços da morte que até o vazio se desespera.
É espetácular a certeza da morte. Como garrafas de vinho vazias, representa os devaneios humanos, a morte das uvas e o nascimento dos sonhos que, embebidos pelo doce/amargo, seco/suave traz na sua idade o sabor de uma vida presa, enfrascadora de energias que, em estado líquido, tinto, branco ou rose, pode derramar-se sobre o corpo, a alma, a calma e a alegria. Por libertar-se, ser vinho, rio correndo pelo pensar e passar dos que se tornam vinhos em suas fantasias
fermentadas. 
Te vê do alto com um voar de homem-pássaro, tua contradição dilacera todos os sentidos de um apocalíptico alfa do gradativo vitral nadesco a se apagar.
Sem luz perdi de ver o brilho dos teus olhos, perdi de ver de vez o que talvez não veja jamais.
(Fragmentos de textos e poéticas publicados originalmente no Manifesto Caleidoscópico da Paixão Poética Pelo Nada).

sábado, 11 de abril de 2020

O COVID-19 NA UTI AO LADO


Por Márcia Lucena*
“Intubando uma mãe cujo filho já faleceu por COVID 19 na uti ao lado, e a mãe ainda não sabe. Passando boletim/visita médica por telefone (antes feita presencialmente) falando pra uma mãe que a função renal do seu filho de 36 anos,  piorou e que o jovem saudável, precisará entrar em diálise. Dando notícia de óbito pra uma filha que IMPLORA pra se despedir do seu pai que ainda não tem resultado covid positivo (assim como muitos) sem poder deixar uma filha ver seu pai mesmo sem saber se o mesmo está de fato infectado. Conversando sobre cuidados paliativos (conversa mais difícil que um médico pode ter com uma familia) por telefone e explicando que o caso já é muito grave. Tudo por telefone,ouvindo familiares chorando e gritando pra outros parentes continuarem a ligação pois não estão aguentando as notícias. Sem ao menos poder segurar suas mãos ou abraçá-los pra confortá-los como antes fazíamos. 
Escolhendo se aquele idoso acamado que não fala e começou a tossir no hospital ou a fazer febre, mesmo tendo procurado a unidade para fazer apenas um exame de urina.. precisa ficar em isolamento se contaminando com infectados..ou se mantenho esse idoso (que não consigo ao menos coletar perfeitamente a história devido o alzheimer) na emergência comum podendo infectar os outros que ali estão sem queixas respiratórias. Assistindo colegas médicos (que trabalharam comigo há poucos dias) sendo levados a UTI em estado grave e a maior referência de neuroanatomia do Brasil, autor do livro que todos nos baseamos durante a faculdade..morrer também sem velório em tempos de COVID. Assistindo enfermeiras que tanto admiro apresentando síndrome do pânico e a mesma sensação de cada profissional de saúde se sentindo um otário por se expor e se isolar de suas famílias enquanto o brasileiro leva uma vida normal em plena pandemia..
Talvez um dia as pessoas percebam o fardo que estamos carregando, e sim, optando por carregar. Muitos de nós não precisaríamos estar ali, mas estamos tentando, não queremos desistir. O mínimo de respeito com um profissional de saúde que opta por se expor (ou precisa se expor) e trazer toda essa carga emocional e viral pra dentro de suas casas, seria escutar nosso pedido. Inglaterra perdendo 828 pessoas em um único dia, e o brasileiro segue optando pela ignorância achando que aqui o jeitinho brasileiro nos salvará. Não, não será o jeitinho, será o profissional de saúde que está esgotado te pedindo, FICA EM CASA!”
*Educadora e Prefeitura do Conde-PB.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Sobre Mandetta

Não precisa ser apoiador de Bolsonaro para abrir o jogo sobre o oportunismo de Luis Henrique Mandetta. A eminente demissão do Ministro será mais um ato político do presidente, que poderá ampliar a crise em sua base, em especial com o DEM partido do Ministro e do presidente da Câmara Rodrigo Maia.

Por Inaldo Gomes

“Mandetta está longe de ser apenas um médico ortopedista, um técnico no ministério da Saúde. Ele é de uma família de políticos e entrou na política para defender a causa dos profissionais de saúde e dos ruralistas de seu Estado, Mato Grosso do Sul. Seu pai, Hélio, foi vice-prefeito de Campo Grande, a terra natal do ministro. Já teve um tio e primos como vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais e senador. Foi pelas mãos de um de seus primos, o hoje senador Nelson Trad Filho (PSD-MS), que Mandetta entrou para a política partidária. Era secretário de Saúde quando Trad Filho governou Campo Grande. Por sua atuação na pasta, foi investigado por suspeita de fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois. A denúncia, acusação formal feita pelo Ministério Público, nunca foi apresentada. E é nisso que embasa a sua defesa."
Enquanto ele obedecia as ordens de Bolsonaro, estava tudo ok, quando passou a usar dados científicos, dados da OMS, pois sabia do seu juramento médico, a relação com Bolsonaro se complicou. Foi um ardente defensor do fim do Programa Mais Médicos e da saída dos médicos Cubanos. Era um apoiador de corte de recursos do SUS e da privatização de setores da saúde pública. 
Do seu Facebook.

sábado, 4 de abril de 2020

Guarabira e os riscos com o Coronavirus



Por Belarmino Mariano

Em Guarabira-PB vivem apaixonadamente 58.492 mil habitantes, 352,9 hab./km2, em uma área de 165,744 km2 (IBGE, 2018). 
Faz parte da Região Imediata de Guarabira-PB e da Região Intermediária de João Pessoa, ficando a uma distância de 98 km da capital. Guarabira é um município que congrega e influencia uma área imediata com 26 municípios e uma população de aproximadamente 320 mil habitantes (IBGE, 2019).