quinta-feira, 6 de junho de 2019

Sobre a Greve Geral da Educação e as Jornadas Populares de Maio de 2019.

Por João M. C. e Andrade
Professor de História e Química
Especialista em Direitos Fundamentais e Democracia.
Fundador do Centro de Referencias em Direitos Humanos do Agreste da Paraíba.

Fonte: https://une.org.br/wp-content/uploads/2019/05/Sa%CC%83o-Paulo-SP.jpg

Nesses dias de grande mobilização popular, quando um tema é capaz de convulsionar a nossa sociedade, é comum ouvirmos os mais diversos discursos sobre o movimento, as razões, os motivos e justificativas. É evidente que sopesam sobre as falas o lugar social de cada um e, ainda, a pressão exercida pelas forças que se contrapõem na Luta de Classes.
Sim, Luta de Classes é um tema antigo e muitas vezes se apregoa que já foi vencido. Mas temos que observar mais de perto e levantar uma questão crucial: a disputa entre o capital e o trabalho foi realmente encerrada?
Para além disso precisamos lembrar que a teoria marxista clássica aponta que a Luta de Classes se dá em dois campos: o campo econômico – ligado as necessidades mais básicas do ser humano no que tange a sobrevivência diária, e aqui temos a produção de alimentos, vestimenta, transporte e moradia, somente para citar algumas das inevitabilidades do cotidiano; e o campo político – ligado aos projetos de sociedade necessários para a estabilização do próprio processo produtivo.
É no campo político que encontramos uma das principais arenas de disputa da sociedade que é, justamente, a Educação e mais precisamente a Escola.
Já não é de hoje que ouvimos o discurso de que a “educação é capaz de salvar a sociedade”. Mas cabe questionar: QUE SOCIEDADE? Aqui, então, está o ponto nevrálgico dos questionamentos sobre a legitimidade de algumas manifestações durante os eventos de grande mobilização nacional que aconteceram nas “Jornadas Populares de Maio”.
Alarmados pela desastrosa e irresponsável política de cortes promovida pelo Governo Bolsonaro na área da Educação, num ataque sem precedentes na história de nosso país, entidades populares, organizações da sociedade civil, sindicatos, entidades representativas dos estudantes (UNE E UBES) tomaram as ruas em protesto, levando à mobilização de mais de 5 milhões de pessoas, quando somamos a participação nos dois dias (15 e 30 de maio).
Mas, apesar do grande sucesso de mobilização, vieram à tona os sintomas da exaustiva campanha da burguesia contra o povo trabalhador:
...“política não deve ser discutida por pessoas comuns”
...“quem faz política não trabalha, quem trabalha não faz política!”
Esses e outros jargões espalhados aos quatro ventos pela Imprensa nacional comprometida com o capital, realizaram em nosso Brasil a sentença de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
O principal resultado desse processo de escamoteamento de mentiras em verdades é a abominação chamada “apolítica” ou “apartidarismo”. Ora, já os filósofos gregos afirmavam que não existe espaço vazio na política. Não há como não fazer escolhas. Viver em sociedade requer que determinemos nosso lugar, nossa posição e, em última instancia, o nosso lado, o nosso partido.
Nesse contexto é possível perceber que a principal arma utilizada pelo capital contra a Classe Trabalhadora é, justamente, o discurso da apolitização. O reflexo mais notório é ver-se advogar que não se devem lançar mão das organizações partidárias em eventos que, em tese, seriam “movimentos espontâneos do povo”.
Mas algumas reflexões são necessárias sobre esta questão.
Em primeiro lugar, não existe “movimento espontâneo das massas”, toda mobilização necessita organização e isso só é possível na Classe Trabalhadora através de instituições como Sindicatos, Grêmios Estudantis, DCE’s, UNE, UBES, Partidos Políticos. Pois são eles que elaboram as pautas, produzem o material de divulgação e tomam a frente do processo organizativo. Sem isso, não há manifestação.
Em segundo lugar vemos que tal entendimento já foi adotado até o capital burguês no Brasil. Por isso construíram e financiaram o famigerado “Movimento Brasil Livre – MBL” que, inclusive, teve seus principais representantes eleitos para a Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo e para a Câmara de Deputados em Brasília.
É patente que o discurso do “apartidarismo” é uma das grandes armas do capital burguês para desorganizar as ações dos trabalhadores. Mas, como afirma o velho ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, se o capital burguês pusesse em prática esse discurso, a primeira coisa a fechar seria a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ou a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP).
Essas instituições defendem politicamente os interesses do empresariado, frente às estruturas do Estado. Se fossem, realmente, apartidários e apolíticos não teríamos empresários envolvidos com disputas eleitorais, e ocupando cargos eletivos nas mais diversas esferas de nossa federação. O governador do distrito federal é um exemplo típico desse comportamento.
Em terceiro lugar: todo fanatismo é nocivo, mas o partido é necessário. Não existem relações sociais sem haver a relação de poder e, consequentemente, a relação política. O que vêm acontecendo é a apropriação de um discurso perigoso da "apolitização", fazendo o ambiente político parecer inadequado ao tal "cidadão comum".
Mais do que isso, sem partidos não existe democracia. Se o sistema democrático prescindir dos partidos, restará apenas a autocracia ou o totalitarismo. A história está bem marcada com exemplos disso: o FASCISMO e o NAZISMO escancararam a virulência do discurso totalitarista e, com isso deixaram à mostra o que a humanidade pode fazer de pior.
Aqui no Brasil tivemos diversos momentos de quase extinção da democracia: na Ditadura de Vargas e na Ditadura Militar, por exemplo. Hoje o que temos é uma ampla propaganda contra os partidos para que o povo não se organize e deixe de participar do processo democrático, ficando à margem a espera de um salvador.
Precisamos ter clareza da real necessidade da organização popular, no sentido de garantir o funcionamento mínimo do processo democrático e republicano. Mas, ao passo que precisamos de organização, necessitamos ficar atentos aos aventureiros oportunistas, que engabelam os trabalhadores e o povo. O próprio presidente é um exemplo típico dessa personagem de que falo.
Por fim, vemos que o projeto de “dois Brasis” se confrontam agora: Um projeto voltado para o Povo Trabalhador: promovendo bem-estar social, desenvolvimento econômico, avanços na educação e desenvolvimento científico, reconhecido e respeitado internacionalmente;  e outro projeto voltado para o Capital, comprometido apenas com o lucro das empresas, que matam pessoas soterradas pela lama, que corta o pouco dinheiro da educação, que compromete o sagrado direito à aposentadoria, e que não consegue ter nenhum reconhecimento internacional.
Tal confronto de projetos de país se materializa em uma frase: “#LULALIVRE!". Essa manifestação em muito já ultrapassou o necessário fato da liberdade do Presidente Luiz Inácio. Ela contém, também a defesa do Estado de Direito Democrático, pois como já é amplamente conhecido o Presidente Lula está preso sem provas, é um PRESO POLÍTICO.
A simples ideia de que o Estado brasileiro permite que tal fato exista é uma execração. É algo extremamente perigoso, pois desrespeita a constituição e põe em cheque as Garantias e Direitos Fundamentais do Cidadão Brasileiro. Veja o caso do Rio de Janeiro, onde o próprio governador empunha uma metralhadora para matar os cidadãos de seu próprio estado.
A defesa da Classe Trabalhadora tem se tornado uma coisa cada dia mais urgente. Precisamos compreender nosso lugar social e nossa responsabilidade com todo esse processo.
Atualmente não faço parte de Direções Sindicais ou Partidos, mas, como professor, procuro sempre compreender meu lugar social: filho de trabalhador, neto de agricultor; professor de escola pública, preceptor de jovens pobres. Esse é meu lugar. E entendo que devo defender minha Classe, a dos Trabalhadores.


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