Por Matheus Siqueira
Para entender o que aconteceu ontem no STF é preciso, mais uma vez, compreender corretamente o que está em jogo. Com o mapa mundi em mãos pode-se apontar três epicentros das crises políticas mundiais: Irã, Venezuela e Brasil. Nestas áreas do globo a intervenção política e militar norte-americana é direta. Não importa se o governo é republicano ou democrata: golpes, locautes, subornos, sanções, espionagem e ameaças tornaram-se comuns. Afinal, o que estes países têm que tanto incomoda o império estadunidense? Certamente não são os governos autoritários, bombas atômicas ou desinteresse pelo Mickey. O fato é que todos possuem uma quantidade quase inestimável de petróleo, a fonte energética mais cobiçada do mundo.
No caso do Brasil, após o descobrimento do pré-sal no governo Lula, foram criadas leis que garantiam a exploração do petróleo de maneira autônoma, pela estatal Petrobras, de modo que toda a riqueza gerada fosse destinada em benefício do país. Com essa descoberta, foi possível vislumbrar um futuro promissor, com distribuição de riqueza, desenvolvimento socioeconômico, tecnológico e, principalmente, na soberania nacional. Uma pausa: a soberania nacional é a capacidade que um país tem de decidir os próprios caminhos, sem depender dos pitacos de países mais ricos.
Além da autossuficiência em petróleo, de 2006 em diante o Brasil começou a se colocar como uma potência econômica e diplomática no continente americano, no hemisfério sul e entre todos os países em desenvolvimento. Pela primeira vez, sob a iniciativa brasileira, foi possível criar novos grupos econômicos e políticos contra-hegemônicos, ao lado da China, Rússia, Índia, países africanos e latino-americanos. Toda essa movimentação indubitavelmente cutucou os Estados Unidos com a vara curta. Mais cedo ou mais tarde seríamos atacados por tamanha insubmissão.
Apoiado pela mídia tradicional, o ataque veio em 2016 com o golpe em uma presidenta democraticamente eleita com 54 milhões de votos, derrubada por um judiciário vendido e um congresso antinacional e corrupto a serviço dos interesses estrangeiros. Na semana de sua posse ilegítima, o presidente golpista Michel Temer tirou das mãos da Petrobras a autonomia da exploração do petróleo brasileiro e concedeu, na cara dura, às petroleiras americanas. Sabendo que toda essa maracutaia poderia ser desmontada na eleição de 2018 com a provável vitória do ex-presidente Lula, o judiciário fez a sua parte o prendendo sem provas e impedindo de participar da disputa eleitoral.
Cá estamos; um ano e dois meses depois em meio a um governo fascista obstinado a entregar de vez todas as nossas riquezas, acelerar o retrocesso e destruir todos os serviços públicos do país. Um governo tão ruim que fica difícil de descrever tudo. É nessa conjuntura que o maior líder da classe trabalhadora brasileira encontra-se na condição de preso político. Portanto, o resultado de ontem no STF, que já era esperado, é fruto de um contexto geopolítico de desarticulação do nosso povo. Não querem a liberdade de alguém que tem a capacidade de organizar uma revolta ou, até mesmo, derrubar o atual governo.
Entendido isto, é preciso estar consciente de que Luiz Inácio Lula da Silva está além do jogo político cotidiano. Seus feitos, suas vitórias e seu martírio são testemunho da história do Brasil. A única maneira de libertá-lo é criando uma correlação de forças que se sobreponha às divergências e incompreensões do campo político democrático e progressista. É preciso fazer entender que a luta pela liberdade de Lula sintetiza a luta contra a tirania e pelo Estado de Direito. Ela não será conquistada facilmente na justiça. Só conseguiremos tirá-lo deste sequestro e trazê-lo de volta à cena se continuarmos denunciando dentro e fora do país o Lawfare e os desmandos do atual governo, reunindo as forças de esquerda e mobilizando todos nas ruas numa luta de resistência pelo Brasil que nos foi tirado.
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