por Manoel Fernandes
Em 1914, em um atentado em Saravejo, mataram um arquiduque e logo os acontecimentos se desdobraram naquilo que ficou conhecido como a Primeira Guerra Mundial. Eventos de grande envergadura começam, por vezes, com assassinatos como o de Francisco Ferdinando e se espalham como um rastilho de pólvora que faz a barbárie quebrar correntes, sair de sua jaula e espalhar rastros de destruição humana inolvidáveis.
O inverso de fenômenos assim é a barbárie cotidiana que come os corpos e as vidas de modo meio invisível ou, para dizer de outra maneira, de modo silenciado, com milhões de assassinados em guetos, nas periferias, nos lugares da pobreza. A maioria são de anônimos negros, migrados, indígenas, mulheres, crianças, adolescentes que vivem a morte diária pela fome, pela violência, por não ter onde morar, por não ter escola, nem dentes e muitas doenças, raquitismos, inanição, dor. Para lembrar Albert Cossery, aqueles e aquelas que são esquecidos até de Deus.
A morte de John Kennedy foi vista por milhares em tempo quase real, enquanto os Estados Unidos matavam milhões de vietnamitas.
Marielle e Anderson, a exemplo de muitos dos seus, morreram depois de ser fuzilados covardemente, na calada da noite, sem que houvesse testemunhas e para deixar claro que para facistas os direitos humanos devem ser tratados como caso de polícia. Até hoje não sabemos quem matou Marielle e, muitos menos como matam milhões de outros brasileiros que habitam os campos de concentração em que foram transformados lugares como os morros do Rio e das grandes cidades brasileiras.
Dia desses, sem que ainda se saiba nada de Anderson e Marielle, um candidato a Presidência da República que: defende a tortura ao exaltar Coronéis como Ulstra - aquele que quebrou o maxilar de Dilma -, propõe se fuzile petistas, põe na mão de crianças símbolos de armas e espalha o ódio social como uma hidra de sete cabeças; recebeu uma facada em local público, televisionado pelos herdeiros de Goebbels e salvo por um médico do SUS.
A pergunta simples: quem é a vítima?
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