domingo, 29 de maio de 2016

Por Uma Geografia a serviço da Humanidade!

Imagem extraída do: blog geografia-ensino, 

Por: BELARMINO MARIANO NETO


GEO-LUTA! Por uma Geografia a Serviço da Humanidade, foi um dos lemas de minha época de Movimento Estudantil, isso há pelo menos  30 anos, quando eu estava entrando no curso de Geografia da UFPB. Se fossemos refletir sobre o dia do geógrafo nos últimos 40 anos, nos daríamos conta de que muitos movimentos ocorrem em defesa do meio ambiente e da ecologia, mais o capitalismo predatório e a sociedade de consumo e desperdício, nos afastou profundamente da natureza. Nesse sentido a Geografia precisa ser uma ciência a serviço da humanidade, assim nos obrigamos a lutar por uma sociedade ecológica. 
Este artigo se coloca enquanto uma analise crítica acerca dos encontros e desencontros internacionais sobre meio ambiente, típicos Rio-92 e Rio+20 entre outros. Em 1992, o Anarquista pernambucano Roberto Freire fez uma dura crítica ao modo de produção capitalista dizendo que se tratava de uma Farsa ecológica o que aconteceu no Rio-92, pois se discursava sobre a ideia de desenvolvimento sustentável. No fundo a ideia aparente que prevaleceu a partir do Rio-92, com a Agenda 21, parecia uma tentativa internacional em barrar as agressões que o sistema capitalista efetuava contra o patrimônio natural e contra as pessoas, que em grande parte do planeta viviam e ainda vivem abaixo da linha da pobreza.
O Rio+20 é uma versão muito piorada o que ocorreu em 1992 na Cúpula do Rio de Janeiro articulada pelas Nações Unidas (ONU) para o meio ambiente e para a sociedade. Mas na verdade, foram encobertas as intenções que esse sistema em sua fase de crise aguda reserva para o resto de natureza e humanidade. O modo de produção capitalista não se sustenta ecologicamente e agoniza crises sem precedentes em sua curta história de pouco mais que quinhentos anos. Seguir esse sistema é apostar na destruição socioambiental presente e futura.
Quando falamos de 40 anos de encontros ambientais estamos resgatando, a ideia de tomada de consciência ambiental planetária que culminou com movimentos pacifistas e ambientalistas, culminando com Estocolmo-Suécia (1972); várias ações da ONU para nosso futuro em comum (década de 1980); Rio 92 e Parafraseando Freire (1992) a farsa ecológica se repetiu no rio+20. Venceu a tese dos capitalistas degradadores e os representantes de governos e de Estados, advogou em defesa dessa tese antiecológica, inclusive o governo brasileiro, pois sabendo desse encontro, tratou de permitir que o novo código florestal entrasse em pauta no Congresso Nacional, para regularizar os crimes ambientais passados e recentes.
A humanidade ficou ambientalmente mais pobre em 2012 e não lhes resta mais quase nada de esperança no que tange as questões socioambientais presentes e futuras. A rio+20 enterrou em grande parte os passos dados há 20 ou 30 anos de preocupações com o meio ambiente. De fato os movimentos sociais não foram ouvidos, não conseguiram incluir nesse novo documento, as verdadeiras preocupações em relação às crises socioambientais existentes hoje e que se agravarão nesses 20 anos que seguem.
No ano de 2015, tivemos o melhor exemplo do que estou escrevendo nesse artigo. O Brazil que foi entregue as multinacionais pela privatização de FHC, agora sofre as consequências ambientais da exploração sem controles. Falo sobre o rompimento da Barragem de dejetos minerais da SAMARCO/Vale do Rio Doce. Esse é o modelo de exploração predatória utilizado pelo perverso sistema capitalista selvagem. Lucro, lucro, lucro. Em nome do capital, os governos de Collor a FHC privatizaram importantes estatais que extraiam minério em Minas Gerais. Todas passaram para as mãos de empresas multinacionais, como a Vale do Rio Doce e suas associadas. O pior é sabermos que esse era um mal anunciado. As pessoas, os animais e a natureza pouco importam para essa gana capitalista. Só uma sociedade socialista e ecológica, daria uma outra resposta a esse violento, vergonhoso e impune crime socioeconômico e ambiental.
Se considerarmos a Ecologia Política e a Geopolítica veremos que esse é um problema da ordem econômica capitalista, que explora a natureza e os seres humanos sem compromisso algum com a humanidade e o meio ambiente. A bióloga Takako Watanabe fez as seguintes indagações: "Não é só a raça humana que sofreu com esse desastre! Falam de 20 pessoas mortas e alguns ainda desaparecidos, mas e os milhares de seres que foram exterminados? Os peixes podemos até ver, mas e os demais seres vivos desse ambiente? E o rio? E as consequências disso tudo? Dá para recuperar?" Samuel Basilio Costade Esplendor - Minas Gerais expôs em suas redes sociais que milhares de peixes aparecem mortos pela água, completamente contaminada pelos rejeitos industriais da mineradora Samarco, na ultima quinta-feira (05/11), entre os municípios de Ouro Preto e Mariana.
Este é o nosso saldo: agressões ao meio ambiente – poluição atmosférica, poluição dos mares, poluição dos rios, contaminação dos alimentos, desmatamento, extinção de espécies da fauna e da flora são quase todas permitidas pelos estados modernos e praticadas direta ou indiretamente por empresas capitalistas, que obedecendo às normas do mercado, buscam o maior lucro, custe o que custar para a natureza e para os seres humanos. No que afirma a ecologia política “a relação humanidade-natureza e, ainda mais precisamente, as relações entre as pessoas que se aplicam à natureza, ou o que os marxistas chamam de forças produtivas” (LEPIETZ, 2003, p.9-10).
O que destaco nesse arranjo teórico é uma nítida aproximação estabelecida entre o pensamento marxista de critica ao modo de produção e exploração capitalista e que a ecologia política incorpora um novo discurso crítico que inclui agora as questões de ordem socioambiental. O exemplo mais drástico de que os últimos 40 anos de consciência ambiental, de nada adiantam se a lógica do capital não for profunda e revolucionariamente transformada. 
Os diferentes estágios da humanidade são os diferenciais sociais em diferentes espaços. A produção do espaço geográfico é extremamente contraditória e afronta diretamente a natureza em todos os sentidos. “A noção de que o homem deve dominar a natureza vem diretamente da dominação do homem pelo homem” (BOOKCHIN, 1992, p.17).
Para Mariano Neto (2001, p.62), esta sociedade baseada no produzir por produzir, no lucrar em detrimento da natureza e do humano é vista como mercadoria de uns poucos, o reino natural é uma mera manufatura para o desenfreado mundo comercial e da concorrência. Essa sociedade gerou a globalização que de fato é uma submundialização, pois os impactos sobre as condições socioambientais estão levando a humanidade para atrasos sem precedentes na história.
a questão da pobreza humana no ambiente e mais particularmente sua estrutura social, com mudanças recentes em nível de padrão técnico e as condições de vida, trabalho, moradia na periferia das cidades marcam um ambiente de profundas contradições. Estes argumentos estão todos focados pela Geografia e pela ecologia política, pois quando se pensa, tanto em termos de uma ecologia cultural, quanto em termos de uma economia política, depara-se com as contradições estabelecidas ao longo do histórico e contraditório sistema capitalista.
Na contramão da rio+20 capitalista, a sociedade precisa reagir de maneira organizada. Nesse sentido, socialistas, anarquistas e comunistas, mulheres, negros, índios, jovens, religiosos, universitários, partidos políticos de matriz ecológica e anticapitalista, ONG´s realmente sérias, entre outros, precisam focar na defesa de uma sociedade ecológica como afirma Bookchin (1992). Uma sociedade ecológica e socialista com profundas liberdades e total cuidado com o meio ambiente.
Existe um novo discurso expresso em uma metanarrativa do mundo, da sociedade e do ambiente em que o meio ambiente e a sociedade começam a ser entendidos a partir de categorias concretas da história. Nesse sentido, novos arranjos e desenhos da existência humana se expressam nas concrectudes do mundo.

Autores como Faladori (2001), que trata a questão da sustentabilidade a partir dos limites do desenvolvimento e das crises ambientais do presente; Duarte (1986), que faz uma leitura de Karl Marx em relação à natureza em O Capital; Lipietz (2003), que estabelece um paralelo entre a ecologia política e o futuro do marxismo; Boeira (2002), por considerar a ecologia política enquanto um campo transdisciplinar; Alimonda (2001), que apresenta vários apontamentos sobre a ecologia política na América Latina de tradição marxista; Bookchin (2003), que apresenta uma preocupação básica em relação a ecologia social; Santos (2001), por fazer uma profunda crítica ao atual modo de vida capitalista e ao processo de globalização.
Com certeza, todos estes pensadores são críticos desse modelo cupular de encontro para tratar de um tema que interessa a toda a humanidade e concordam com uma coisa, não existem milagres, nem salvação do meio ambiente e da humanidade nesse sistema de perversidade contra o patrimônio natural e contra a humanidade. A geografia radical, a ecologia política e o estão teoricamente preocupadas em compreender a realidade social em dinâmicas materializadas, mas em se tratando de natureza a máxima vale também, pois o homem é primeiramente natureza (BURKETT, 1999, apud: FALADORI, 2001, p. 135).
É importante dizer que a sociedade capitalista levou ao extremo as contradições historicamente estabelecidas na relação sociedade e natureza, tanto em relação à proporcionalidade material (quantitativa e qualitativa) necessária para reprodução da sociedade, quanto na ideia de valores e acumulação capitalista que podem ser identificadas como responsáveis por profundas transformações sócio-espaciais refletidas enquanto crises ecológicas do presente.
A sociedade envolvida e as dinâmicas do meio ambiente que hoje são representadas por profundas alterações socioambientais, demonstram uma nítida combinação de atividades em situações conflitantes. No atual estágio de desenvolvimento científico, tecnológico e informacional (Santos, 2004) os problemas de ordem ecológica, econômica e social apontam para desequilíbrios naturais e conflitos sociais nunca vistos pela humanidade.
Para tanto é preciso uma profunda compreensão da história socioeconômica política, cultural e técnica estabelecidas, levando em conta os processos de apropriação da natureza em seus diferentes estágios e níveis. Esta é a principal preocupação do que considero enquanto geografia e ecologia política, pois entendo que os ecossistemas naturais, sistemas agrícolas e sistemas urbanos são focos de diferentes estudos. Nesse sentido existe uma convergência epistemológica das ciências sociais e naturais que aponta na direção das questões ambientais, não apenas enquanto campo da biologia, ecologia ou geografia. Pois “o ambiente não é a ecologia, mas a complexidade do mundo” (LEFF, 2001, p.139).
É muito importante resgatar o pensamento de (BOFF, 1995, p. 06), pois para ele “A Ecologia não trata apenas das questões ligadas ao verde ou às espécies em extinção. A Ecologia significa um novo paradigma, quer dizer, uma nova forma de organizar o conjunto de relações dos seres humanos entre si, com a natureza e com o seu sentido neste universo”.
Mesmo com a rio+20 fracassada, não podemos cruzar os braços diante desse modelo socioeconômico degradador. Temos sim que apostar em uma sociedade ecológica e isso passa obrigatoriamente pela transformação desse modo consumista e degradador da natureza e da humanidade.

Por uma Sociedade Socialista e Ecológica!
Guarabira, 29 de maio de 2016.
FONTES:
artigo publicado originalmente no: http://www.portal25horas.com.br/meio-ambiente-e-ecologia-politica-40-anos-de-desencontros-ambientais-em-um-capitalismo-predatorio/
http://www.geografia-ensino.com/2013/06/imagetica-e-identidade-nas-paisagens.html
DADOS SOBRE O AUTOR:
Belarmino Mariano Neto (belogeo@yahoo.com.br)
Mestre em Meio Ambiente e Doutor em
Sociologia com enfoque ambientalista.
Universidade estadual da Paraíba/Centro de Humanidades
Líder do "Olhares Geográficos - Grupo de Pesquisa em Geografia Cultural e da Percepção UEPB/PRPGP/CNPq.

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