segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O Flamengo e a Arte da Guerra

 

Imagens adaptadas das redes sociais*

Por Belarmino Mariano Neto*

A Arte da Guerra (孫子兵法), que em chinês pode significar (tratado de guerra) é um pequeno manuscrito, atribuído a Sun Tzu que pode ter sido produzido em meados do século IV aC. Ao lado das obras de Confúcio e ao próprio taoísmo chinês, a Arte da Guerra se tornou leitura obrigatória, sendo traduzido para centenas de línguas em todo o mundo. Mas qual a relação entre o Clube de Regatas Flamengo e o antigo livro de Sun Tzu? Consideradas as atuais disputas pelas quais o time se envolveu em diferentes campeonatos de futebol e as treze importantes estratégias militares abordadas resumidamente em a Arte da Guerra?

Vendo os jogos do Flamengo, acompanhando seus treinamentos, suas táticas e estratégias de jogo, e considerando seus altos e baixos em diferentes competições, é muito importante sabermos se, seus treinadores, diretores de futebol, psicólogos e jogadores conseguem perceber que vivem em mundo de grande tensão geopolítica criada pelo mundo do futebol? Ficamos com um indagação sobre se, estes atletas e sua equipe técnica e empresarial, costuma fazer alguma leitura, e se o pequeno  e antigo livro "a Arte da Guerra", faz parte desse cardápio literário para fins estratégicos e táticos? Queremos apenas dizer que em essência, Sun Tzu, considera que essa guerra é travada dentro de cada um de nós, na qual somos os comandantes de nossas ações.


O Clube de Regatas Flamengo é um fenômeno cultural do mundo desportivo, investindo em diferentes modalidades, níveis e faixas de competições. O Clube se destaca nas regatas (remo), no futebol (masculino, feminino e de base), nos esportes olímpicos e em várias ligas de quadra (basquete, vôlei, futsal etc.). Neste artigo focamos apenas no futebol profissional  e no atual período, considerado como fase da pandemia do Covid-19 que começou a se desenvolver em março de 2020, provocando uma parada brusca dos jogos, em todas os níveis e competições. Para problematizarmos essa fase, consideramos que em 2019, o Flamengo conseguiu realizar grandes conquistas (Campeonato Carioca, Libertadores da América, Brasileirão Séria A, Recopa Sul-americana e Recopa Brasil), colocando o clube no mais elevado patamar do futebol do Brasil e do continente americano.

Sou professor de Geografia Política e Geopolítica pela UEPB e sempre indico a leitura de Sun Tzu para os estudantes que estão matriculados em meu curso. Como bom flamenguista, gosto de acompanhar o desempenho do meu time de coração, pois, independente das derrotas e dos empates, sempre me alegro em assistir jogos da Nação Rubro-Negra e também gosto de assistir jogadas mágicas, com os belos gols e com a capacidade de se reinventar que o Flamengo leva a campo. Nesse sentido, resolvi analisar algumas partidas do Urubu da Gávea a luz de Sun Tzu e a Arte da Guerra, pois mesmo em se tratando de uma obra com mais de 2.500 anos, nunca perdeu sua atualidade, pois os seres humanos e suas instituições sempre estiveram envoltos em disputas, nas quais estão envolvidos diferentes tipos de interesses (políticos, econômicos, sociais e culturais). 

Como costumamos dizer que o Flamengo é conhecido como a Nação Rubro-Negra, contando com mais de 42 milhões de torcedores, entre os quais, mais de 500 mil são de outras nacionalidades. Considerando que existem diferentes tipos de organizações de torcedores espalhados pelo Brasil e pelo Mundo, sendo considerados torcedores oficiais, sócio contribuintes do clube, torcidas organizadas em diferentes estados, com sócios e objetivos próprios, entre os quais, defender  e valorizar a cultura do futebol. 

O número de torcedores do Flamengo representa a terceira maior população da América do Sul, sendo o Brasil o primeiro com cerca de 215 milhões e a colômbia com cerca de 48 milhões de habitantes, vindo o Flamengo com cerca de 42 milhões de torcedores, inclusive com centenas de embaixadas e consulados rubro-negros, espalhados por todos os Estados do Brasil, inclusive espalhadas por outros países das Américas e de outros continentes, ao exemplo do México,  EUA, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Itália, Japão, Coreia do Sul entre outros países, o que torna o Flamengo um clube com torcedores organizados em escala global. Considerando que, além da organização empresarial e das centenas de torcidas organizadas, existem milhares de páginas, portais, blogs e canais de divulgação de conteúdos sobre o Flamengo, também sigo nessa mesma linha, com o objetivo de gerar conteúdos reflexivos e resenhas que tenham o Flamengo em seu centro de discussão (IRMÃO JÚNIOR, 2020).

O Livro a Arte da Guerra, na verdade, são apontamentos ou sínteses, dirigidos para quem governa ou ocupa postos de comado nos antigos e fragmentados impérios do que atualmente consideramos como a Republica Popular da China e que no século IV aC. era marcado por um grande número de pequenos reinos em constantes disputas territoriais e imposição das suas culturas e tradições, sobre os reinos vizinhos. Transplantar isso tudo para a cultura ocidental para o mundo do futebol e para o protagonismo do Flamengo, não é uma tarefa fácil, mas a ideia é válida, pois o método é simples. Aqui se trata de uma análise pautada pelo método comparativo, em que de um lado teremos os 13 princípios elementares sugeridos por Sun Tzu e até que ponto, foram considerados, em relação as estratégias e táticas do Flamengo entre 2020 e 2021. O que Sun Tzu considera enquanto o General e Imperador, aqui iremos considerar enquanto Treinador, Presidente do Clube e/ou Diretor de Futebol.

No capitulo 01, Sun Tzu chama a atenção para o Planejamento e Conhecimento geográfico (caminho, terreno, clima ou tempo, liderança e administração de tudo isso). O autor considera a Guerra como algo a ser evitado, mas não tendo outra escolha, o general deve analisar estes aspectos para garantir êxito em sua difícil missão. 

Em se tratando do Flamengo, podemos considerar que o clube representa uma ideia de Nação Rubro-Negra, pois conta com 42 milhões de fieis torcedores e a defesa de um conjunto de símbolos e insígnias (cores vermelho, preto e branco 'rubro-negro', escudo, brasão, bandeira, hinos etc.) que os identificam enquanto Flamenguistas, sempre apoiando o pequeno e destemido exercito de jogadores, muitos dos quais nasce na base do clube e outros são contratados para defenderem a Nação. 

O terreno em que o flamengo atua é definido enquanto campo ou estádio de futebol, tanto campos de treino (Gávea, Ninho do Urubu), quanto campos em que ocorrem as partidas, sendo o Maracanã seu principal terreno de disputas (apresentações), arenas em que os milhares de torcedores ocupam para assistir as partidas e torcerem para que o clube obtenham bons resultados. O clima para além da geografia é muito tenso, marcado por rivalidades, por por disputas históricas e, em muitos casos, com chuva, calor ou frio, de dia ou a noite, ocorrem as partidas. aqui também podemos considerar o tempo, enquanto uma ideia de acontecimentos, que nem sempre podem ser controlado pelas nossas ações, daí considerar que podemos nos deparar com as incertezas e intempéries dos acontecimentos. 

A liderança e direção ou gestão de futebol do Flamengo, geralmente conta com os melhores treinadores, equipes médicas, nutricionais, psicológicas e de marketing que sempre consegue bons resultados. Mas isso precisa ser refletido dentro de campo, garantido a superação dos obstáculos impostos pelos adversários e isso depende muito, não apenas dos jogadores, mas, principalmente das estratégias e táticas propostas para cada uma das batalhas enfrentadas pelo Flamengo.

Mas será que estão preparados para enfrentar adversários que estudam bem o seu adversário.  Sun Tzu nos ensina que a primeira batalha acontece dentro de cada um de nós e precisamos nos preparar para isso. Conhecer as regras e usá-la em seu favor é um dos fundamentos pensados em a Arte da Guerra e que precisa ser levado em consideração, pois no mundo do futebol, existem o juiz de campo e seus auxiliares, então, muito cuidado pois estes interferem diretamente no desenrolar da partida, assim como a estratégia em usar as regras para beneficio da equipe. 

No capitulo 02, o autor se refere a guerra propriamente (combate) e a necessidade em ser rápido e objetivo para que a guerra dure pouco tempo e  a conquista ou o sucesso ocorram sem muitos prejuízos ou danos. É importante ressaltar que para que isso ocorra, a equipe precisa estar bem treinada e deve conhecer em detalhes o terreno e as armas para a batalha, pois no campo do inimigo, podem existir armadilhas, dificuldades para ascender ao campo de batalhas. Mas ser rápido, ser objetivo, sem cuidar da defesa, observando bem o deslocamento das tropas adversárias, podem surpreender e levar o general a sua derrocada.

Afinal, pelo o que estamos lutando, quais são nossos pontos fortes e fracos, quais as nossas vantagens e desvantagens? Conhecer seus objetivos, pelo que esta lutando e em quantas frentes de batalha atua, para não ser surpreendido pelo inimigo. O maior cuidado é vencer a batalhar, sem expor seu exército e os territórios já conquistados. No futebol, o valor da competição, as regras e os pontos conquistados são fundamentais para o posicionamento geral da equipe no conjunto da guerra. Aqui, tudo precisa ser bem estudado, os adversários, o cenário da partida e até mesmo a dissimulação ou parecer muito mais fraco, para na hora certa surpreender o adversário. 

Refletir sobre essas questões em se tratando do Flamengo é fundamental, pois já existem uma imagem propagada por todos, em que o Flamengo é o maior, o melhor, e o que mais ameaça, entre tantos outros atributos. Isso acaba por prejudicar o rubro-negro, pois os adversários sempre se preparam para  um campo de batalha, em que esperam a exposição do Flamengo, guardando suas estratégias e táticas para momentos de fragilidade para agirem.

Nestes casos, contra o Flamengo, a grande maioria dos adversários consideram que "o melhor ataque é a defesa". Então criam uma verdadeira armada de defesa, fechando todos os seus flancos e se defendo até onde podem aos desferidos ataques do rubro-negro e, na tentativa de acabar logo com a batalha, o urubu da Gávea, termina por se expor muito mais que o necessário, colocando em perigo a sua retaguarda. Mesmo o adversário, aparentemente mais frágil, quando descobre um ponto fraco do rubro-negro, costumam ser fatais.  

No capitulo 03, Sun Tzu nos dar uma lição em que: a maior força de uma armada e a união ou o coletivo, pois quanto mais unido mais forte. Nesse sentido, a equipe precisa definir estratégias seguras de ataque, construir um cerco ou aliança para enfraquecer o adversário , sempre estudando seus pontos fracos, mas nunca subestimando seus pontos fortes e suas capacidades. Dentre as estratégias de ataque Tzu admite que a grande habilidade de um general não é ganhar todas as batalhas, mas vencer o inimigo em combates que não desgaste seu exército.

Quando aplicamos esse ensinamento as ações do Flamengo, vemos que a equipe para para a Guerra de peito aberto, usa todo o seu poderio bélico para destruir o adversário o mais rápido possível, mas esse tipo de disputa, também desgasta muito a equipe, elevando o numero de soldados desgastados, combalidos e estropiados. Em vários combates, sai vencedor, mais parece que esquece que ainda existe muito campo de guerra e de batalha a enfrentar e em muitos casos, vai para um território em que o adversário se monstra menos hábil, mas o seu exercito já se encontra tão desfalcado que não consegue um melhor resultado. 

Sun Tzu nos ensina que, precisamos conhecer muito bem nosso adversário, mais será fundamental se conhecer mais ainda, se perguntar sobre os limites, sobre os obstáculos e medos interiores para no campo de batalha, ser mais comedido e mais cirúrgico. As vezes a nossa aparente superioridade precisa ser ponderada, pois o adversários sempre estará nos estudando,  conhecendo os nossos hábitos, as nossas estratégias e as nossas armas.

O capitulo 04, é dedicado a preparação de esquemas táticos do exército. Neste caso, o general nunca pode avançar em um terreno movediço, sem considerar que o que ele já consolidou está realmente seguro, pois do contrário, estará dando oportunidades para que seu inimigo conquiste espaço de atuação. Sun Tzu diz: "Ser incrível significa conhecer a si próprio, ser vulnerável significa conhecer ser adversário".

A posição ou o terreno de batalha precisa ser consistente e defendido a todo custo. Ou seja, se pensarmos em termos de uma equipe, manter o campo de defesa é o primeiro passo. Assim, podemos falar diferentes táticas (4-3-3, 4-3-2, 3-4-2). Aqui não estamos sugerindo qualquer tática, mais querendo entender o que Sun Tzu nos alerta, para que precisamos garantir uma boa base de defesa da nossa posição, antes de pretendermos avançar para uma outra base.

Nos parece que, o Flamengo dos dois últimos anos, mesmo tendo investido pesado em atletas para a sua defesa, aos colocá-los em posições vulneráveis enfraquecem a sua retaguarda. Independente do adversário e do campo de batalhas, o rubro-negro tem colocado as suas linhas muito avançadas, criando oportunidades para que os seus adversários se aproveitem das brechas deixadas ao longo da batalha.

Capítulo 05, foi dedicado a capacidade criativa e o domínio do tempo (clímax), nesse sentido, o general precisa ensinar aos seus soldados sobre as potencialidades individuais e coletivas dos seus comandados, motivando-os a encontrarem suas melhores habilidades. Trazendo isso para o universo do futebol, podemos pensar no estado de espírito, objetivos e motivação dos atletas, pois precisam de muito equilíbrio físico e psicológico, o foco e o domínio emocional, são fundamentais para que o jogador possa despertar sua criatividade e seu jeito próprio de jogar. Em campo, o estado de satisfação e bem estar dos jogadores são fundamentais para o bom desempenho individual e coletivo.

Vemos que a alto estima dos atletas do Flamengo sempre se apresentam fortes, mas quando, acontece algum erro, alguma falha e essa se repete, geralmente ocorre uma inconstância entre os jogadores, afetando mais uns que outros. Cabe ao treinador e a equipe técnica, gerar confiança interna, mas para isso, todos precisam confiar nas táticas e estratégias propostas para equipe, pois o trabalho individual, depende em muito da compreensão tática de toda a equipe.

No capítulo 06, devemos explorar os opostos de um exército. Ele se refere aos espaços cheios e vazios, ou melhor, ataque os pontos fracos do adversário e defenda onde o inimigo parece não atacar, pois seu exército pode ser surpreendo, onde você menos espera.  O conhecimento geográfico do terreno de batalha e as forças e fraquezas do grupo, bem como as forças e fraquezas do seu inimigo. Geralmente, quando identificamos as nossas fraquezas e as comparamos com as forças do adversário, poderemos tirar proveitos das batalhas. O ideal é nunca subestimar as forças ou fraquezas do inimigos, pois em muitos casos o inimigo poderá estar usando um fraqueza disfarçada, nos atraindo com fingimentos para seus pontos fortes. 

Sun Tzu deixa bem claro que devemos atacar onde não há defesa e para se defender, cuide dos francos onde seu inimigo parece não lhe atacar. Em se tratando de Flamengo, nos parece que essa lição não tem sido colocada em prática, pois todos os seus adversários, dos mais fracos aos mais fortes, todos agem da mesma maneira. Não atacam o rubro-negro de frente e todos os que agem assim, acabam sofrendo derrotas flagrantes. Por outro lado, organizam uma grande muralha de defesa e preferem se expor aos ataques  frontais do Flamengo, para irem desgastando as suas linhas de ataques e criarem oportunidades de contra-ataques.

Assistir aos últimos jogos do Flamengo é o mesmo que acompanhar um longa-metragem entre os mongos ou trapas da mancharia contra as tropas chinesas ao longo da grande muralha da China. A grande muralha, com mais de 150 mil quilômetros, com trechos sobre montanhas e alturas médias de 7,5 metros, eram quase que impenetráveis. Esse é o atual dilema do futebol do Flamengo, pois a guerra é inevitável, o time tem um bom exército, mais esbarra justamente na grande muralha que os adversários estrategicamente, monta contra o rubro-negro.

Talvez, Sun Tzu, precise ser lido e relido pelos treinadores e jogadores do Flamengo, para o uso das fragilidades fingidas, deixando que os inimigos proponham seus jogos. Digo mais, em algumas partidas contra times da Copa Libertadores das Américas, a Nação Rubro-Negra usou um pouco dessas táticas e conseguiu importantes resultados, inclusive em regiões ou territórios pantanosos ou de elevadas altitudes, considerados terrenos perigosos para uma equipe acostumada e treinada em baixas altitudes (Aterro do Flamengo).

O capítulo 07, Sun Tzu ressalta para o deslocamento das tropas e para as manobras militares, alertando para os cuidados redobrados quando se parte para o conflito frontal e inevitável. Quando as disputas são inevitáveis, como conquistar a vitória, com o mínimo de perdas diretas. Ele destaque que o general precisa  perceber os problemas e dificuldades como oportunidades camufladas, para delas conseguir obter êxito. 

Para a realidade de futebol do Flamengo, ficamos com a seguinte indagação: Será que o treinador estar movimentando corretamente a sua tropa? consegue perceber as dificuldades para transformá-las em vantagens? Ou seja, no futebol, não podemos partir para o ataque, sem um plano de defesa muito bem arranjado, pois do contrário, será o adversário que, em suas dificuldades, se aproveitará para tirar vantagens. Percebemos que isso vem acontecendo com frequência no time do Flamengo.

O capítulo 08, expõe a profunda necessidade de conhecimento do terreno de batalha e a capacidade de adaptação as circunstâncias dos embates. Os acidentes geográficos, caminhos de acesso, rios, pântanos, florestas, áreas abertas. Estudar o campo do adversário é fundamental e também precisamos conhecer seus interesses, aliados, vantagens e desvantagens podem ser tiradas, quando conhecemos cada metro quadro do território inimigo e como ele atua nestes cenários, inclusive prevendo surpresas dessagráveis, nestas rotas de deslocamento das tropas, tanto durante o trajeto, quando diretamente no campo de batalhas.

É preciso estudar as condições climáticas, o tempo e o clímax da batalha, será no verão, inverno, outono ou na primavera. Vale ressaltar que Sun Tzu vivia na China imperial e esse território é marcado grandes cadeias montanhosas, por regiões de grandes vales, trechos de neve, de pântanos e com grandes períodos de chuvas torrenciais, elevando nível de rios, destruindo pontes e provisões. O clima de monções com tempestades tropicais, grandes cheias, etc., eram algumas preocupações consideradas por Sun Tzu.

Trazendo estas situações para o futebol, Sun Tzu quer dizer que um bom e sábio treinador precisar pesar e ponderar o que lhe é favorável ou desfavorável para agir com temperança. Se é uma situação positiva ele terá melhores condições para executar seu plano, mas é uma situação negativa ele precisa encontrar as melhores soluções. O que estar em jogo é sabermos se o treinador do Flamengo tem conseguido prever essas situações? Será que ele precisa dar uma lida em Sun Tzu?

O capitulo 09, trata sobre o movimento das tropas. para tanto, Sun Tzu diz: "Um exercito deve escolher lugares altos, deve evitar os baixos, valorizar a luz e fugir da sombra". Ele também alerta sobre como as tropas devem se mover na água, na mata, nas montanhas e serras e também devem ficar atentos aos sinais e as ordens do seu comando. No futebol, nem sempre é possível escolher os lugares para as disputas, pois alguns estão relacionados a sorteios e as condições de classificação dentro das diferentes etapas das disputas. Mas no território das quatro linhas do gramado, mesmo que esteja em uma base plana, as táticas e estratégias do jogo, poderão ser pensadas nesta perspectiva do capitulo 8. 

No caso do futebol e considerando o Flamengo e seus adversários na análise, também temos tudo isso para observar. Uma equipe que geralmente participa de três ou quatro campeonatos em um ano, entre os quais a Taça Libertadores da América, tendo que jogar com times de áreas extremamente frias, montanhosas, sendo obrigado a realizar grandes deslocamentos em pontes áreas, trajetos de ônibus, tendo que manter seus atletas distantes da família, concentrados, entre outros fatores, precisam ser estudados cuidadosamente. No próprio território brasileiro, apesar da equipe, contar com torcedores (aliados) em todas regiões do país, também precisa considerar que a arena dos adversários interfere profundamente em suas batalhas.

Recentemente o Flamengo jogou com o Clube Atlético Paranaense em sua arena. É um estádio climatizado e possui um gramado sintético. Mesmo estando acostumado a esse tipo de território, o time adversário contou com a sua torcida, fechou o teto de sua arena colocou o estádio em uma baixa temperatura, condições de adaptação ideal de sua equipe e muito diferente das condições climáticas do Maracanã. Não queremos ser deterministas, mas será que isso pode ter interferido positivamente para o Atlético PR e negativamente para o Flamengo?

O outro aspecto a ser considerado em relação as condições ideias ou negativas para o movimento das tropas no campo de batalha é a própria rivalidade estabelecida entre as equipes futebolísticas, pois em muitos casos, temos jogos clássicos ou longas e históricas disputas, em que as equipes já se enfrentaram, aumentando a tensão ou clímax para o jogo, em que os aspectos psicológicos e os desfalques de cada equipe, interfere diretamente nos resultados de cada disputa. A não observância dos sinais enviados pelo treinador e até mesmo os sinais entre os adversários e as sutilezas na armação de jogadas, podem ser cruciais, tanto para a vitória, quanto para a derrota.

O capítulo 10, é onde o autor destaca a importância do terreno ou território e o tempo ou momento em que se desenrola a batalha. Nesse caso, Sun Tzu alerta para a ideia de que conhecer a si mesmo e ao seu adversário poderá lhe garantir a vitória, mas o tempo e o terreno é fundamental para a certeza da vitória.

Trazendo essa lição para o universo da bola e das partidas de futebol, vale muito. Uma coisa é você jogar em seu campo, com a sua torcida lhe apoiando e dominando cada metro quadro do gramado. A outra é jogar no campo adversário com a torcida contra e em uma terreno com nuances e peculiaridades que não domina é um possível infortúnio na batalha. Nesse caso, será preciso investir em informações, em detalhes, em movimentações do inimigo naquele ambiente.

O outro elemento a ser considerado é o tempo. Claro que as partidas são de 90 minutos, mais sempre precisamos considerar se é uma primeira partida de duas e quais as vantagens que o inimigo possuí para trabalhar com o tempo em seu favor. movimentar as tropas com cautela pois o tempo tanto pode funcionar em seu favor, quanto contra. Se é uma situação de vulnerabilidade, mas poderá ser revertida mais na frente, evita-se maior exposição ao inimigo. Se não tem como evitar esse controle, agir com calma e escolhendo o tempo certo para atacar.

No Capitulo 11, Sun Tzu nos apresenta a ideia de nove (09) situações territoriais do campo de batalha. Entre as quais: fronteira, chave, disperso, aberto, interseção perigosa, difícil e cercado mortal, além de ataques surpresa e deslocamento em velocidade. Vejamos como se comporta o Flamengo em relação a estas situações desde o inicio de um campeonato, as fazes mais críticas de mata a mata, classificações ou eliminações. Até parece que Sun Tzu, estava escrevendo sobre as táticas e estratégias para os jogos de futebol.

Quando o Flamengo ou qualquer equipe, consegue, ao longo do ano anterior, se classificar para uma disputa internacional, ao exemplo da Copa Libertadores da América, estamos ultrapassando os limites das nossas fronteiras, buscando uma melhor colocação em um campo muito mais vasto ou disperso, inclusive com grandes possibilidades de atingir uma competição mundial.

Essa é uma das fazes mais difíceis e perigosas, pois nessa competição, chegam as equipas melhor preparadas de cada país e dependendo da chave ou do sorteio, as equipes de maior peso, podem se enfrentar e serem eliminadas bem antes que outras. Os longo dessa guerra para ser campeão da Libertadores, o Flamengo já consegui conquistar dois títulos e se encaminha para mais uma final contra o Palmeiras, em 27 Novembro, as 17 horas com partida única, em Montevideo (Uruguai). Estamos diante de um cerco mortal, pois qualquer erro se é derrotado ou vitorioso. Caberá a cada treinador, estudar profundamente todos os aspectos para essa batalha, pois se trata de um território neutro e de grande rivalidade entre as duas equipes.

Esse capítulo 11, poderia ser trabalhado detalhadamente para cada situação ou tipo de campeonato com o qual o Flamengo se envolveu ao longo do ano de 2020 e 2021, pois entre os campeonatos estaduais, nacionais e internacionais, o Flamengo se comportou de maneiras muito parecidas, sendo assim, poderíamos perguntar: será que os treinadores e a diretoria de futebol do Flamengo estão considerando a possibilidade de uma aprofundamento em a Arte da Guerra de Sun Tzu?

No Capitulo 12, o autor nos coloca diante da tático do uso de fogo contra o inimigo. é inclusive o título do capítulo. No qual ele destaca cinco (05) maneiras de ataques com o fogo. Mas ele ressalta que essa arma deve ser secreta e você precisa saber manejar muito bem, do contrário, essa ferramenta pode se  voltar contra você. Para tanto, exige-se conhecimento do campo de batalha, da posição dos ventos, das condições climáticas ou ambientais e da situação exata para promover esse ataque, pois tudo deve ser calculado, quanto a posição das chamas, velocidade e efeitos combinados aos outros elementos do ambiente.

Acho que capítulo 12 é uma das lições que melhor de aplica as atuais estratégias e táticas adotadas pelo Flamengo contra seus adversários. Desde o técnico português Jorge Jesus, que treinou a equipe Rubro-Negra durante o segundo semestre do ano de 2019, provocando vitórias avassaladoras contra seus adversários e gerando os melhores resultados de uma equipe no menor espaço de tempo. O Flamengo da época de Jorge Jesus era incendiário, malvado, pois aproveitava as condições favoráveis e desferia poderosos ataques contra seus inimigos.

Entre 2020 e 2021, sob a liderança de diferentes técnicos e a quase toda a mesma base de jogadores liderados por Jorge Jesus, o Flamengo, apesar de ter mantido um jogo parecido e ter conquistado importantes copas, nunca mais foi o mesmo. Sempre ficando uma interrogação entre os comentaristas desportivos, torcedores e a própria diretoria do Flamengo. Por que o clube não consegue imprimir a mesma força de 2019? 

Talvez, precisamos considerar os capítulos 11 e 12 da Arte da Guerra, assim como os demais capítulos, para entendermos, onde estão as falhas ou erros do time e dos seus treinadores e auxiliares. Talvez o Flamengo precise de um maior autoconhecimento para perceber que seus adversários, se rearticularam e minimamente se reposicionaram em campo, se precaveram contra as armas adotadas pelo Flamengo, inclusive o seu vigoroso e incendiário ataque. Vimos isso ocorrer ao longo de todos os campeonatos que o Flamengo enfrentou entre os anos de 2020 e 2021 e mesmo com a grande superioridade da equipe Rubro-Negra, adversários com menor poder de fogo, conseguiram derrotar o urubu da gávea em algumas batalhas, ou lhe arrancaram importantes empates. 

O Capítulo 13, foi dedicado a estratégia da espionagem e da busca de informações sobre os adversários. Sun Tzu deixou claro que "um sábio soberano e um comandante habilidoso são capazes de infiltrar ou usar pessoas inteligentes e influentes como espiões que lhes garantam significativas vantagens sob seus inimigos"

Se compararmos esses ensinamentos ao mundo do futebol, podemos dizer que entre os jogos, pré-jogos e pós-jogos, existe um verdadeiro frisson sobre as estratégias, táticas e condições de cada equipe que será escalada para as partidas. Quem joga, quem fica no banco, quem completa ou desfalca uma equipe, como será o jogo e que estratégia se apresentará para a partida. Em seguida, o adversário tenta, esconder ou expor suas melhores armas e oportunidades, em tom ameaçador e de intimidação. 

Conhecer a si mesmo e conhecer o seu inimigo, descobrir suas fraquezas e conseguir esconder as suas. observar os detalhes, interpretar o dito e o não dito, analisar cada movimento e posição do inimigo aumenta as possibilidades de êxito nas disputas. logo, possuir uma forte rede de informantes, conseguir infiltrar aliados no território adversário e conseguir o máximo de informações pode alterar profundamente o resultado de uma guerra.

Imaginamos que no IV antes de Cristo, conseguir arrancar informações de um exército inimigo, não era nada fácil, mais nos dias atuais, diante do meio técnico e informacional, com textos, imagens e registros da áudios, ou até mesmo dos movimentos financeiros das equipes, através do mercado da bola, com investimentos em tecnologias, equipes técnicas, contratação de jogadores etc. Além da constante cobertura midiática da vida dos jogadores, dos Centros de Treinamentos (CT´s), coletivas, entrevistas e exposição dos jogadores e dos torcedores nas redes sociais, parece que todo mundo é espião de todo mundo.

Como este artigo ganhou um tamanho muito maior do que desejamos, escolhemos apenas duas situações problemas que justificam a urgente adoções de uma equipe de inteligência máxima e integral para que os generais ou equipe técnica e diretoria de futebol do Flamengo, reveja suas táticas e estratégias e, a primeira delas é um curso profundo, adotando todos os princípios sugeridos por Sun Tzu em a Arte da Guerra. Para tanto, escolhemos a situação Juventude (MG) 1 x 0 Flamengo e Internacional 4 x 0 Flamengo, jogos ocorridos entre junho e agosto de 2021, pelo Campeonato Brasileiro da Série A, nos quais o Flamengo perdeu seis (06), que poderão lhe deixar de fora do primeiro lugar neste campeonato.

Acho que a melhor situação para analisar  essa situação foi uma das primeiras derrotas do Flamengo contra o Juventude, que aproveitou um dia de grande temporal, construiu uma muralha de jogadores contra o rubro-negro e ficou entocado, esperando uma única oportunidade para nos 90 minutos de jogo, encontrar um falha na linha de defesa da Nação e lhes desferir um golpe mortal. Essa derrota de Juventude MG 1 x 0 Flamengo, ocorrida no dia 26 de junho de 2021, gerou uma gigantesca frustação em toda a equipe, pois era um time que havia subido da série B. Ou seja, o poder de fogo do Flamengo não gerou resultados contra um adversário que aproveitou de uma ambiente de muita chuva, jogando em seu território e fechando todos os seus flancos.

o outro e mais recente exemplo de que o fogo, se não for bem usado poderá provocar grandes estragos foi o jogo Internacional 4 x 0 Flamengo, que ocorreu no Beira Rio, em Porto Alegre (RS), em 08/08/2020, em que o Inter gaúcho se apropriou das estratégias de retranca total com a apenas um homem no ataque e depois de violenta pressão incendiária do Flamengo, foi aproveitando os tropeços e no contra ataque, massacrou um Flamengo super adiantado e quase que completamente sem linhas de defesas. Com jogo com expulsões, com contusões e um profundo desgaste do urubu da gávea. Este e muitos outros jogos, com adversários de diferentes níveis colocaram o Flamengo, tanto em vitórias avassaladoras, quanto em derrotas estupendas, sendo eliminado ou diminuindo fortemente as suas possibilidades de atingir o clímax da glória.

A guisa de nossa conclusão, podemos dizer que neste pequeno artigo, foram expostas todas as principais argumentações ou reflexões militares de Sun Tzu, em um manuscrito que varou um longo período, desde o século IV aC., até o século XXI, pois esse pequeno livro, se tornou leitura obrigatórias de todas as grandes e pequenas empresas do mundo capitalista, que vão do oriente até o ocidente.

Essa obra é base da estrutura de poder político, econômico, social e cultural de governos e países como a China, Japão Coreia, Vietnã e tantos outros. Incorporado aos princípios éticos, morais, filosóficos e religiosos do confucionismo, taoísmo, budismo, xintoísmo, zen-budismo, xamanismo e religiões ancestrais, sempre representando a ideia de guerra interior, em que cada ser precisa vencer seus egos, seus medos e suas fraquezas, pois o seu grande inimigo ou adversário mora dentro de você mesmo. 

Caso queira utilizar essa referencia:

MARIANO NETO, Belarmino. Flamengo X Arte da Guerra de Sun Tzu. Guarabira: flabr123, quinta-feira, 28 de outubro de 2021. link: https://flabr123.blogspot.com/2021/10/flamengo-x-arte-da-guerra-de-sun-tzu.html.

Fontes e imagens: 

TZU, Sun. A Arte da Guerra. São Paulo: Editora Principis, 2019. 3ª ed.

IRMÃO JÚNIOR, José Virgínio. Na geografia do futebol, o Flamengo é uma Nação. Guarabira/PB, 2020. link: https://flabr123.blogspot.com/2021/10/na-geografia-do-futebol-o-flamengo-e.html

 https://www.souflamengo.club/urubu.html


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