terça-feira, 27 de março de 2018

Sputinik ao extremo...

imagem de redes sociais de Lau Siqueira.

Por Lau Siqueira (Poeta)
Era o auge da Guerra Fria. Sputinik era, também, como chamavam um cara que caminhava pelas ruas de Jaguarão-RS, onde nasci. Irônico, não? Ele andava como se estivesse em órbita. Não sei se ainda vive. Era estudante de agronomia até ser preso pela ditadura. Em 1977 fui novamente morar em Jaguarão para cuidar do meu pai, doente. Foi quando conheci Sputinik. 
Certa vez estávamos conversando em frente a Confeitaria São Jorge (point da época) e ele chegou. Do nada, olhou para a rapaziada que estava comigo e disse: "O maior líder da história da humanidade foi Mao Tsé Tung". E saiu correndo. Nunca mais esqueci. Destruíram o cara. Deixaram vivo para assombrar os demais. Ser motivo de riso.
Dizem que ficava numa sala, cercado de símbolos nacionais, ouvindo o hino em altos volumes. Não era tortura física. Era tortura psicológica. Os que sofreram tortura física, retornaram. Exceto os que foram assassinados sob tortura, como Vladmir Herzog. Ou os que foram jogados nos fornos das usinas. Os que sofreram tortura psicológica, não. Esses tiveram a decretação da tortura perene.
Hoje, quando leio algumas barbaridades escritas com seleta arrogância nas redes sociais, ditas por jovens que até mesmo se dizem "de esquerda", penso que o AI5 fez lobotomia mesmo foi no Brasil. Não sinto raiva. Ódio nenhum. Essa rapaziada é vítima do que nem imagina. O desconforto que sinto, na verdade, é de uma profunda tristeza. Já li gente aqui dizendo que "nem homofobia existia". Se ia de Tambaú para Jaguaribe caminhando, na madrugada. Não tinha assalto. Imagina que maravilha. 
Às vezes penso que o AI5 produziu um país que não existe mais. Esmagaram qualquer possibilidade de raciocínio sensível. Por isso precisamos de ídolos, mitos, heróis... O AI5 e a tradição oligarca nos deixaram um legado sinistro. Parece que temos uma necessidade extrema de não existir.

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