Não estou acompanhando o noticiário sobre a guerra na Europa pelo oligopólio midiático.
Assisto de vez em quando algo na mídia independente e, nas redes, leio alguns comentários.
Pelo que entendi até aqui - posso estar errado - a invasão russa pretende ser uma espécie de xeque-mate ao status quo que, desde a fragmentação da URSS, cerca militarmente a Rússia através da expansão da Otan.
A Otan é uma organização militar plurinacional criada pelos países capitalistas subjugados pelo poder estadunidense visando, originalmente, se contrapor ao poder da URSS.
Mas a fragmentação das repúblicas soviéticas em 1991 não tornou obsoleta a Otan.
Como braço armado norte-americano em território europeu, manteve-se funcionando como polícia do império americano numa macro-região além da Europa ocidental, atuando nos balcãs, no norte africano, no oriente médio…
Milhares já foram mortos pelas bombas lançadas pela Otan, sempre sob o comando dos EUA.
A Rússia de hoje não é mais socialista. Mas herdou o poder bélico da URSS, e manteve sua importância econômica na Europa e no mundo por causa de vários fatores, inclusive por seu imenso território de onde brotam enormes riquezas, em especial, o gás.
É a gélida Russia que aquece, durante o sempre impiedoso inverno do hemisfério setentrional, os cidadãos de Paris, Londres, Roma, Madrid, Berlim…
E é pela Ucrânia - a antiga Rússia de Kiev - que passam os gasodutos dessa commodotie q a Rússia moscovita vende ao restante da Europa.
Como todo sistema capitalista se baseia, em última análise, no saque, a função da Otan na Europa de hoje é dar as condições para q o sistema capitalista ocidental (cuja capital está em Wall Street) tome como seu aquilo que o capitalismo russo lhes vende. Na verdade, Wall Street quer a submissão da Rússia aos seus interesses - assim como o Brasil de Temer e de Bozo se submeteu, entregando suas riquezas ao capital estrangeiro - inclusive o pré-sal e fatias substanciais da Petrobras. Diferente do Brasil bozista, a Rússia tem um capitalismo que é de alguma maneira rebelde ao Império.
Por isso, ao governo de Moscou - que como todo Estado capitalista não gosta muito de respeitar regras - a reação diante da evidência do fracasso de sua diplomacia pela neutralidade ucraniana - acossada para aderir a Otan e abandonar de vez a “irmandade” eslava -, foi aquela típica das potências capitalistas: usar sua força descomunal.
O erro de origem da Ucrânia parece unicamente ter se transformado de Estado tampão a separar a Rússia da Europa submetida a Otan, em uma fronteira em disputa…
Enquanto a humanidade volta a correr risco de extinção, no oligopólio da mídia esforça-se para tornar verossimilhante uma visão maniqueísta na qual os mocinhos são aqueles alinhados com o capitalismo de Wall Street, que lutam contra a maldade mitológica intrínseca aos Russos ou a Putin.
Óra, sendo o mundo o que é, diante de mais essa guerra no seio do capitalismo reinante, o q afinal escandaliza os políticos e a mídia ligada ao mercado? Mortes? Para mim, para você, mortes escandalizam sim, claro, mas não creio que seja assim tb para a maioria daqueles que guardam no sistema um “lugar de fala” privilegiado. Recordem: apenas os EUA - desde as bombas Atômicas -, assassinou mundo à fora milhões de pessoas - no Vietnan, na Coréia, na Sérvia, no Iraque, na Síria, no Afeganistão… Quando a mídia e seus midiáticos se escandalizaram? Lembram com que volúpia diziam quase sorrindo que os bombardeios sobre o Iraque eram “limpos”, certeiros, contra objetivos exclusivamente militares?… E como depois, quando ficou óbvio que os americanos matavam também a população civil, fizeram força para normalizar a expressão farmacológica “efeitos colaterais” como se fosse uma justificativa prevista na “bula”?
Não. As mortes não escandalizam essa gente ligada umbilicalmente ao mercado…
Talvez o escândalo seja na verdade a evidência íntima, indizível, de que o fim da guerra fria (com a queda dos regimes socialistas europeus) não foi, afinal, o fim da história, e que é o reinado do capitalismo sobre o mundo, agora amalgamando russos e estadunidenses na disputa pelo maior quinhão de um mesmo mercado global, que poderá levar a hecatombe da espécie humana no universo.
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