Eu me propus não fazer qualquer tipo de manifestação pública
referente às eleições para a reitoria da UEPB, e vou manter isso. Mas, como votante, também tenho opiniões e impressões. O que segue é uma impressão. Ou uma procura por respostas.
Incomodam-me certas posturas que beiram a obscuridade e que vão passando despercebidas nas campanhas, por vezes sob uma retórica rupturista ou salvacionista. Acho muito bom e oportuno que haja 4 chapas concorrendo ao pleito. Dessas 4 chapas, 3 se apresentam como oposição. Isso é natural e é positivo para o debate político. Mas isso é só uma parte da narrativa.
Concretamente, ao menos dois desses 3 outros candidatos estiveram vinculados diretamente à reitoria, em posições ligadas ao alto escalão (vice-reitor, coordenador de relações internacionais). Nesses cargos, participavam, em diferentes níveis e poder de decisão (não tinham o mesmo papel, claro), da mesma gestão à qual fazem oposição. Aliás, um deles está em dedicação exclusiva em outra função que não a UEPB. Não há problema algum em mudar a perspectiva, a opinião, a posição política, isso é parte do processo democrático. Mas é um problema questionar o tempo todo a gestão em curso se, quando faziam parte dela em algum nível, se sentiam muito cômodos e ausentes.
Estou lotado no câmpus VI (graduação) e no câmpus I (pós-graduação). Trabalho na instituição há 8 anos e meio. Não me lembro de termos recebido a visita de nenhum desses candidatos opositores no câmpus VI em épocas anteriores (nem enquanto exerciam suas funções ligadas à administração central ou como parte dela, nem como docentes ou indivíduos com um projeto de instituição a ser apresentado à comunidade acadêmica). Aliás, corrijo-me: um deles esteve lá, passou pela minha sala de aula com sua então candidata a vice, na noite anterior às eleições passadas para a reitoria. Nunca tinha estado antes e nunca mais voltou. O então vice-reitor nunca esteve lá. O terceiro opositor nunca pôs os pés no câmpus VI nos últimos 8 anos e meio. Prova disso é que, no último debate, mostraram um desconhecimento lamentável da UEPB: um não sabia nada sobre a extensão na instituição, o outro nada sobre nossa atuação na formação de professores da educação básica (colaborando, desse modo, com o plano de desenvolvimento do estado sim), o outro provavelmente nem sabe onde fica a sede da maioria dos câmpus do interior.
Aliás, o desconhecimento da instituição e a falta de diálogo com os câmpus do interior ajudam a entender o tanto de tangenciamentos vistos nas repostas às perguntas apresentadas no último debate.
Então eu me pergunto: se, por um lado, é necessário e desejável que haja melhoras de gestão, que haja mais investimentos, que haja descentralização das ações da gestão central, como acreditar que esses candidatos que criticam a gestão atual (à qual eu também tenho críticas, e isso é inclusive fundamental para o funcionamento da instituição) serão diferentes dela, se até hoje nunca estiveram presentes nos espaços que requerem descentralização, nos câmpus fora da sede (exceto quanto estão lotados num deles), se não conhecem as ações desenvolvidas neles, se nunca são encontrados para debater a instituição? Concretamente, quem não ler as respectivas cartas de intenções e apenas vir os debates saberá o que esses candidatos criticam, mas não o que têm como propostas. Eu acredito que merecemos um debate mais elevado. A UEPB merece isso!
Os problemas da instituição eu já conheço, porque eu, como tantos outros colegas professores, técnicos e alunos vivemos a instituição diariamente. Não precisamos que ninguém apareça num vídeo ou num debate para apenas fazer acusações sobre isso. Queremos que apresentem propostas concretas para solucioná-los. Propostas concretas. O quê? Como? Quando? De que modo? Para quê? São perguntas básicas que precisam ser respondidas para todos nós que fazemos a UEPB. Não basta ser apenas esboços de ideias postas num horizonte distante. Ninguém aprova um projeto se ele for apenas um conjunto de intenções.
Uma última coisa que me parece importante destacar, e com isso não manifesto nenhuma intenção de voto ou coisa semelhante (eu defenderei o direito e a liberdade do outro, mesmo que eu não concorde com suas opiniões, se for o caso). Por que é que, para o público em geral, a participação de alguns desses candidatos anteriormente na atual administração desapareceu? Por que essa “mácula”, como se fosse uma, somente se liga à única mulher candidata à reitoria? Se essa pergunta não puder ser extensiva a todos, ela é inegável ao menos em relação ao ex-vice-reitor, que, dentre todos os candidatos, é o que esteve no posto mais alto da administração central (inclusive tendo estado eventualmente no exercício da reitoria). Eu me pergunto se não há certa misoginia nesse procedimento de desligá-los da administração, mas insistir no vínculo da única mulher à administração, como se apenas os homens pudessem ter um projeto para a instituição próprio (em alguns casos, ainda desconhecido, ao menos com base nos debates). E se fosse admissível a hipótese de que, por estar vinculada à administração central, a única candidata/mulher não pudesse ter um projeto próprio de instituição, me pergunto, também: a julgar pela participação que tiveram enquanto faziam parte da gestão atual e pelo desempenho fraco nos debates até aqui, o que me levaria a pensar que esses opositores têm seu próprio projeto de instituição?
São 6 anos sem reajuste salarial, são vários anos com as progressões congeladas, são muitas as demandas para uma universidade que tem potencial de crescimento.
Sinceramente, eu quero projeto, coisa concreta. Não quero demagogia, nem tangenciamento, nem desconhecimento, nem troca de acusações. Não basta dizer que o problema da instituição é de gestão e não dar as respostas que precisamos do futuro gestor. Quem pretende ser o melhor gestor deve mostrar como será como gestor. E não pode ser mostrando desconhecimento da instituição, de suas demandas ou da comunidade acadêmica.
Todos ainda têm oportunidade de dar essas respostas, se as tiverem. Fica o convite!
* Prof. Dr. Da UEPB, Campus VI.