Essa semana um bolsonarista veio conversar comigo enquanto esperava minha filha no cursinho de inglês. Ele parecia interessado em compreender o que havia acontecido no dia 8 de janeiro e os motivos de penas tão exageradas para pessoas tão simples, como vendedores ambulantes, donas de casa, idosos com bíblias nas mãos, desempregados, caminhoneiros entre outros.
Cocei a cabeça e contei até dez. Esse conhecido é agente de saúde, tem ensino médio completo e às vezes se irrita facilmente, pois é torcedor do Vasco e conversamos muito mais sobre futebol do que sobre política. Então lhe perguntei, você está mesmo querendo saber? Ele respondeu que sim.
Então, calmante comecei a explicar com riqueza de detalhes. Vamos abordar este caso em três etapas: primeiro quero que você relembre que muitas destas pessoas foram influenciadas a acreditar que a eleição presidencial tinha sido fraudada, fazendo com que todos questionassem o resultado. Mas
na verdade são eleições no plural, pois todos votamos para governador, deputado estadual, deputado federal, senador e Presidente da República. Então não faria sentido questionar resultado das urnas, apenas para presidente.
Depois de eleito, o presidente Lula obteve apoio e reconhecimento internacional, inclusive da Casa Branca, Reino Unido, China, Rússia e centenas de outros governantes. Foi um vitória histórica, pois o poder econômico e a máquina pública e midiática correu contra a eleição de Lula.
Mas assim foi feito e muitos bolsonaristas, influenciados pela ideia de fraude, foram para os portões do quartel, pedir intervenção militar. Também foram para as rodovias federais, bloquear o livre trânsito. Alguns radicais bloquearam as pistas com caçambas de barro e pneus queimados, outros simplesmente colocaram pneus no meio das rodovias e com bíblias em punho, rezavam e cantavam o hino nacional. Você concordou com essa primeira parte da explicação? Ele meio entristecido respondeu que aquilo tinha sido uma palhaçada.
A segunda fase desse movimento antidemocrático foi quando Lula estava sendo oficialmente reconhecido como presidente eleito, juntamente com todos os demais eleitos. A Diplomação do presidente Lula ocorreu no dia 12 de dezembro. Nesse período, os grupos bolsonaristas continuavam nas frentes dos quarteis, pedindo intervenção militar. Os mais radicais lançaram bombas na direção do STF, incendiaram carros e um ônibus foi incendiado e lançado contra o prédio da Polícia Federal. Na véspera de natal uma bomba foi instalada nas proximidades do aeroporto de Brasília, próximo a um caminhão tanque cheio de combustível. Outros grupos tentaram atingir sistemas de transmissão de energia. A ideia era desestabilizar o país e criar um caos para que as forças armadas tomassem o poder.
A terceira fase do golpe, veio depois da posse do presidente Lula, pois até aquele momento, quase ninguém sabia que existia um golpe em curso e o ex-presidente e sua base militar, tentavam convencer o alto comando das forças armadas para a tomada radical do poder. O Bolsonaro se negou a passar a faixa ao presidente Lula e para tentar livrar sua culpa, foi embora para os EUA.
Nesse momento, foi orientada uma grande concentração de pessoas para Brasília e a capital parecia um circo de horrores. Barracas de acampamentos espalhadas por toda a capital e na frente do exército um QG dos bolsonaristas insistiam em uma intervenção militar. Até que, uma semana da posse do presidente Lula, os manifestantes, em grande bloco, macharam para as sedes dos três poderes.
Aparentemente era mais uma manifestação pacífica, com palavras de ordens e orações. Infelizmente, o governo do Distrito Federal, relaxou as linhas de defesa e permitiu que os grupos invadissem os prédios do governo federal, STF e Congresso Nacional. Uma onda de destruição tomou conta de Brasília e só cinco horas depois estavam controlados.
As imagens em fotografias e vídeos correram o país e o mundo. Vandalismo, terrorismo e prisões foram as primeiras consequências dos atos golpistas. Enquanto isso, nas redes sociais, grupos bolsonaristas construiam uma narrativa falsa de que aqueles atos havia sido feito por militantes do PT e da esquerda, para culpar os bolsonaristas e olha que muitos idiotas acreditaram. A pergunta é bem simples, tem como negar o que aconteceu? Impossível, nas a pergunta inicial foi o motivo de penas tão longas como multas pesadas e prisão de 8, 12 ou 17 anos?
Com mais de 1.500 pessoas presas, milhares de imagens, fotografias e discursos golpistas nos celulares dos presos, além de grupos de redes sociais com a trama do golpe. Os presos começaram a serem julgados. Incrivelmente, escritórios de advocacia começaram a se oferecer para defender os presos, lembre, todos em fragante delito.
A orientação dos advogados era que eles negassem a participação, dissessem que estavam em Brasília a passeio e que tinham vindo por conta própria. Os idiotas fizeram exatamente o que os advogados orientaram e, com casta prova documental extraidas dos seus celulares, as imagens de envolvimento com os acampamentos e os atos violentos por eles próprios registrados, além de mentir para a justiça, encobriram os verdadeiros mandantes e articuladores do golpe. Logo, até o momento, as penas recairam sobre eles próprios.
Poderia dar destaque para a Débora do Baton, que seguiu exatamente essa orientação, mas esteve no QG do golpe desde o começo, entrou na sede do STF, participou do vandalismo e na saída ainda pichou um recado para Alexandre de Moraes, "perdeu mané, na estátua da justiça. Pena de 17 anos. Depois, ele própria, de dentro da prisão, escreveu uma carta para Alexandre de Moraes e contou a verdade, explicou que estava envolvida e reconheceu o plano de um golpe que estava wm curso. Hoje se encontra em prisão domiciliar e usa tornozeleira eletrônica.
Todas as pessoas que assumiram seus atos e demonstraram a verdade sobre os fatos, inclusive percebendo que foram usadas como massa de manobra, tiveram suas penas conforme seus crimes e milhares estão respondendo as penas em liberdade, com o uso de tornozeleiras e prestando serviços a comunidade. Alguns tentaram fugir ou voltaram a práticar crimes contraca democracia, foram presas novamente, outras fugiram e estão foragidas.
O dia 8 de janeiro de 2023 envergonha o Brasil, pois o poder político e a manipulação midiática ainda esconde os cardadeiros culpados. Se parte da população brasileira, acreditou nestes líderes golpistas, infelizmente estão presas, enquanto eles, os grandes, continuam tentando articular novos golpes. Até o momento, apenas 33 dos grandões se tornaram réus. Mesmo assim, estão movendo céus e pedras em busca de uma anistia para serem salvos e usam justamente os presis do dia 8 de janeiro para pedir a tal anistia, que é comprovadamente inconstitucional.
Aí meu conhecido bolsonarista argumentou que sabendo de tudo isso, a justiça não deveria anistar esses pobres coitados que ainda estão presos. Lhe respondi que oa que ainda estavam presos não eram pobres coitados, haviam cometido crimes federais, tentaram a abolição do Estado Democrático de Direitos através da força e da violência. Depois de presos, continuaram obstruindo a justiça, encobrindo seus mandantes e financiadores. Para terminar essa conversa, perguntei a ele se um grupo perigoso invadisse a sua casa, destruissem tudo e não quisesse mais sair da sua residência. Se fossem presos, julgados e condenados, se ele iria no fórum pedir anistia para eles? Ele respondeu: "- Claro que não!
*Por Belarmino Mariano. Imagens das redes sociais. G1, Uol, CNN, Gazeta do Povo, Brasil de Fato, DCM, Mídia Ninja, Carta Capital, ICL Notícias, Metrópole, etc.
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