Ontem recebi esta fotografia da minha querida amiga Ana Carla, que foi minha orientanda e estudante do Curso de Geografia, fez Especialização, Mestrado e se encontra no Doutorado.
Atualmente é minha companheira de trabalho na UEPB e lhe considero uma das pessoas que melhor entende os argumentos teóricos do Professor Milton Santos.
Em sua mensagem de Whatsapp vieram os parabéns pelo lançamento do livro "Memória Camponesa", em organização com a querida Mestre Emilia Moreira e outros amigos, como Ivan Targino, Genaro Ieno, Marilda Meneses e Waldir Porfírio.
Olhem o presente que Ana Carla, me enviou, essa fotografia. Ela me disse que, em sua aula de ontem, usou essa imagem para falar sobre o ciberespaço.
"E essa foto representa o tempo que o acesso das pessoas à informação era pela TV. O tempo das TVs comunitárias".
"Essa é na comunidade Passagem. São as rugosidades do espaço geográfico. Eu vi e lembrei das tuas aulas falando sobre o ciberespaço" (7/9/24, Ana Carla).
A foto é de ontem, fica na comunidade Passagem, zona rural de Guarabira. Mas certamente foi algo introduzido na comunidade, entre as décadas de 1985 a 1990.
Essa prática foi muito comum em muitas cidades do interior do Nordeste e em comunidades rurais como a representada na fotografia.
Olhem direitinho para essa imagem, pois existe uma sobreposição de tempo-espaço, que alarga o pensamento teórico de "metamorfose do espaço habitado", sugerido por Milton Santos em 1988, pela Editora Hucitec, São Paulo.
A Estrutura de concreto ficava em algum ponto estratégico da comunidade, com uma pequena porta de metal enferrujada, que era trancada com um cadeado e, a chave era de responsabilidade de alguém alida do prefeito.
Ao lado, o símbolo pessoal do administrador e por incrível que pareça dava à imagem um sentido de rosto, com dois olhos vigilantes, um olho de quem executou a obra e outro na televisão que era colocada por trás da portinha metálica.
Ali, no meio de uma praça, ou no pátio, as pessoas levavam suas cadeiras e tamboretes e sentavam para assistir as programações da TV, em muitos casos com imagens chuviscadas e em branco e preto.
O espaço pouco mudou, agora aparece na cena uma casa, ainda sem reboco "casa sem pele". Nela há uma janela que dá para uma pequena cozinha, pois existe tubulação em pvc de canos de água e rede de saída de água de pia de lavar louça.
Mas poderia ser muito bem a janela da sala, aí sim, agora possuí uma TV de uso familiar. Nesse caso, a antiga TV comunitária, agora, ficou no quintal dessa nova habilitação, perdendo completamente o sentido de uso. Para os antigos moradores.
O que gosto muito nessa imagem é esse alinhamento casual, dessas duas janelas, na paisagem, uma fechada e guardando o passado de ontem, a outra aberta e antenada com o hoje. Enquanto não for demolida, essa ruga do passado testemunha o ontem.
Eu conversava com Ana Carla, como isso revela geografia e história ao mesmo tempo, espaço-tempo e sociedade-natureza, juntos e misturados, pois agora, ele malzuleu parece um túmulo em meio ao quintal florido da vizinha.
Aí lembramos o quanto um@ professor@ faz a diferença, pois, alguém, vendo essa sena, nem imaginaria em Pierre Lévy, com obras como Ciberespaço e Cibercultura, que começaram a circular ao final da década de 1990 e início de 2000.
Essa fotografia é um rico olhar de olhares para o ontem, mas só os Olhares Geográficos apurados de uma professora, conectada com a realidade, consegue resgatar memórias com sentidos diretos e exclusivos, para além das armadilhas da grande mídia, sempre tentando e querendo dirigir o nosso olhar para ilusões e alucinações dessa droga viciante que nos fascina, alucina e funde a cuca de muitos.
Parabéns professora Ana Carla e obrigado pela fotografia, pois sabe que adoro essa Geografia das Pequenas Coisas. E Santos engrandece com "o meio técnico, científico e informacional" e "Por uma outra globalização" (Santos, 2001).
Por Belarmino Mariano/Ana Carla. Fotografia de Ana Carla.
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