Por Belarmino Mariano
Em pleno São João, me apareceu no Instagram a seguinte frase: "Sem João, com Cristo". Me pareceu a forma mais forçada de querer festejar, sem dizer que é São João ou Festa Junina.
Para piorar, o extremismo evangélico chegou ao máximo da ignorância.
Essa semana lembrei de uma frese em aviso de uma escola de evangélicos se referindo a "Festa da Colheita", em recado aos pais de alunos do ensino infantil, talvez para não usar a expressão "Festa Junina" ou de "São João".
Será que sabem que a "Festa da Colheita" é uma tradição pagã? Festas voltadas para agradecer aos deuses e deusas do politeísmo, deuses dos povos nativos do Brasil, africanos, escandinavos, europeus, asiáticos, ou mesmo das civilizações Grego-Roma, que nos deram base mitológicas e filosóficas.
E São João que foi muito mais sofrimento do que festa. Aquele que ao anunciar Jesus, teve a cabeça cortada a mando de Herodes e servida em uma bandeja, como presente de aniversário a Salomé.
De onde terá vindo de fato essa história de festa junina? Será que é tudo mistura de tradições pagãs romanas, adaptadas ao catolicismo? De uma caisa tenho certeza, adoro as festas juninas, em especial os comes, bebes e o forró de pé de serra.
Para os povos naturais do Brasil Ceuci é a Deusa das moradias e das lavouras, que protege e acolhe os frutos da terra. Na América Andina, Tayná, que trouxe dos céus o milho e o presenteou aos humanos é uma divindade das colheitas.
Nas colheitas os indígenas dedicam grandes fetivais as suas divindades das caças, pescas e dos frutos da Mãe Terra. Logo, são rituais considerados pagãos pela religião cristã.
Do fogo para aquecer as noites de frio, a tradição das fogueiras nas festas juninas que lembram o nascimento de João Batista. Conta a lenda que, Para avisar Maria, mãe de Jesus, Isabel, mãe de João, acendeu uma fogueira. Vejam que não precisei chamar ninguém de Santo, mesmo assim, mantive a tradição da ideia da fogueira. Verdade ou mito, quem vai saber.
Também temos o dia de São João para o candomblé como o dia de Xangô Menino, talvez daí a ideia de São João Menino (sincretismo religioso), como afirma Albiege Fernandes em seu artigo sobre fé e preconceito.
Das forjas sagradas de xangô saíram as armas e ferramentas para arar a terra. Cito essas coisas só para realçar que o preconceito contra os povos e religião de matriz africana é muito maior, inclusive com perseguição e destruição dos terreiros de culto aos orixás.
Mas não é só isso, na África todas as comidas estão relacionadas ao sagrado (Olubajé), todas as festas de orixás são com alimentos de verdade e os rituais, como as contas e circulos de danças, ao ritmo dos tambores, conectam o ser humano ao seu orixá.
Do panteão matriarcal grego, Deméter era a Deusa grega da agricultura, da fertilidade, dos campos cultivados.
Nas épocas das colheitas, ocorriam grandes festejos e oferendas para Deméter, que era filha de Cronos e Reia, tendo como irmãos: Héstia, Hera, Poseidon e Zeus.
A festa da colheita para os romanos era dedicada à Deusa Ceres, daí a expressão "cereais". Então, fica a dica para os evangélicos, João é um dos principais evangelistas, seja santo para os cristãos católicos, ortodoxos ou não.
Já a ideia de "Festa da Colheita", afasta mais que aproxima, pois estão dedicadas em quase todas as culturas, principalmente à divindade mulher e. Pelo que entendo , não existe nenhuma divindade feminina no Cristiano evangélico. Parece que só existe Deus no masculino, típico de um recorte judeu, marchista e patriarcal.
Será que estaria havendo uma visão ampliada da fé cristã, nestes dois casos do recado aos pais sobre a "festa da colheita" e da frase "Sem João e com Jesus"?
Não acredito, mesmo respeitando as opiniões e críticas ao uso da escola para praticas ou tradições religiosas.
Isso parece muito com o ensino fundamental e médio em alguns Estados Norte-Americanos, em que as escolas não ensinam a Teoria da Evolução das Espécies. No lugar as crianças aprendem o Dogma Criacionista.
Eu gostaria que a experiência fose de fato sobre a festa da colheita com essas explicações, das deusas dos alimentos, coisa que devemos respeitar e consagrar, pois o plantio, as colheitas e os alimentos são sagrados, independente da ignorância religiosa de uns.
Mas sei que é impossível essa relação de reconhecimento religioso, pois em um país onde alguns pastores estão envolvidos com o narcotráfico, contrabando de maconha, contrabando de armas de fogo e realizam marchas para Jesus, ostentando a imagem de um gigantesco revólver, o que temos é mais intolerância e ignorância religiosa que qualquer outra coisa. Para os desavisados algumas imagens demonstrativas das divindades da colheita...
https://clickmuseus.com.br/deuses-da-mitologia-indigena/?amp=1
https://www.todamateria.com.br/deusa-demeter/
Por Belarmino Mariano.
(Imagem, galeria Poesia Muda)
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