Mas Enzo (nome fictício, personagem real) passou.
Ele é uma criança, de aparentemente uns 10 anos, um dos muitos que sempre passa pedindo comida.
Desde a primeira vez que o vi, fiquei impressionada com sua beleza.
Negro, como todos que passam pedindo aqui.
Ele estuda, não aprendeu a ler ainda.
Contou que hoje saiu de manhã, foi a pé para o centro tentar arrumar comida, às 20:00h, retornando, se via que conseguiu apenas uma sacolinha.
Enzo jantou feliz, jantei engolindo o choro.
Fiquei pensando no perigo dele seguir sempre a pé (como deve seguir todas as noites). Enzo é vítima em potencial da violência e da proteção urbana.
Entre muitas coisas, lembrei que um "segurança do bairro" já parou na calçada, perguntando meio exaltado a meu esposo se estava acontecendo algum problema e foi se dirigindo a uma criança na calçada (outro Enzo que sempre precisa de alimento), o "problema" era a criança, o "segurança" se deu ao trabalho de parar para oferecer ajuda a meu esposo (um homem adulto, branco, que precisou ir logo em defesa da criança: não! Não! Eu conheço ele ...)
O "segurança" não rondava por aqui, porque o bairro é de rico não, geral aqui é assalariado e financiou a casa em três encarnações.
Mas o Enzo de hoje a noite comeu tranquilo, meio envergonhado perguntou se podia levar para a avó, depois que perguntamos se ele queria levar para alguém, pois percebemos que ele se preocupou em não comer tudo, certamente para dividir...
Antes de ir, Enzo só teve uma preocupação:
- "moço, é muito caro pra conseguir uma comida assim?".
Bem . . . _Feliz Natal_, nesse país que produz alimentos sobrando e mata seus filhos de fome, sob o sorriso debochado de um Messias que é o avesso de outro, outro sobre o qual se conta que nasceu em condições bem parecidas com as quais, certamente, nasceu Enzo.
Professora Alcione
do _*neab-í*_ UEPB
† + +
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