segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Telefonema de Fé e Oração

Por Eder Bukowski Jr.
"Sábado de manhã o telefone tocou. Do outro lado da linha uma voz conhecida perguntou, em italiano, se poderia falar com o padre #JulioLancellotti.
Imediatamente o próprio respondeu, ainda meio atônito: “Tua Santità”, ou Vossa Santidade, também na língua dos romanos. “‘Aqui é o #PapaFrancisco. Você prefere falar em espanhol ou italiano?’ Ele me perguntou. Seguimos na língua italiana. Ele quis saber, então, como estavam as coisas por aqui. Típico de um jesuíta questionar como é o dia a dia de alguém... Depois, disse que estava ciente do trabalho com a população de rua e falou: ‘Não saia do lado dos pobres. Diga que estou rezando por eles e que eles rezem por mim”.
Nem precisava que a maior autoridade da Igreja Católica orientasse seu sacerdote mais combativo no momento. Tão combativo que o telefonema do Papa teve uma razão: as constantes ameaças de morte sofridas pelo pároco da Igreja São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, em São Paulo. E tudo por que o presbítero escolheu trabalhar com as minorias como a população de rua, os dependentes químicos, o grupo LGBTQ+ ou tudo isso junto.

“São tempos difíceis num momento muito nebuloso do país, em que existe uma crise nas relações humanas e interpessoais. As ameaças são sintomas de um desprezo e um ódio ao pobre. Ninguém quer ver a miséria, a pobreza e a degradação humana. A gente vive em bolhas. Eu vivo numa. Alguns penetram nela para criticar. Quando posto a situação de vulnerabilidade desses irmãos, sou atacado”
Hoje (27) é o aniversário do padre #JulioLancellotti, 73 aninhos,  coordenador da Pastoral do Povo da Rua de SP.
Exemplo de luta pelos direitos humanos e pelos mais pobres entre os pobres.✊🌺  

sábado, 25 de dezembro de 2021

A _Manjedoura_ do outro Menino

Era pra ter sido só o dia de se arrumar, pra comer dendicasa e bater retrato, porque, afinal, nos arrumamos.
 Mas Enzo (nome fictício, personagem real) passou. 
Ele é uma criança, de aparentemente uns 10 anos, um dos muitos que sempre passa pedindo comida. 
Desde a primeira vez que o vi, fiquei impressionada com sua beleza.
Negro, como todos que passam pedindo aqui.
Ele estuda, não aprendeu a ler ainda.
Contou que hoje saiu de manhã, foi a pé para o centro tentar arrumar comida, às 20:00h, retornando, se via que conseguiu apenas uma sacolinha.
Enzo jantou feliz, jantei engolindo o choro.
Fiquei pensando no perigo dele seguir sempre a pé (como deve seguir todas as noites). Enzo é vítima em potencial da violência e da proteção urbana.
Entre muitas coisas, lembrei que um "segurança do bairro" já parou na calçada, perguntando meio exaltado a meu esposo se estava acontecendo algum problema e foi se dirigindo a uma criança na calçada (outro Enzo que sempre precisa de alimento), o "problema" era a criança, o "segurança" se deu ao trabalho de parar para oferecer ajuda a meu esposo (um homem adulto, branco, que precisou ir logo em defesa da criança: não! Não! Eu conheço ele ...)
O "segurança" não rondava por aqui, porque o bairro é de rico não, geral aqui é assalariado e financiou a casa em três encarnações.
Mas o Enzo de hoje a noite comeu tranquilo, meio envergonhado perguntou se podia levar para a avó, depois que perguntamos se ele queria levar para alguém, pois percebemos que ele se preocupou em não comer tudo, certamente para dividir...
Antes de ir, Enzo só teve uma preocupação:
    - "moço, é muito caro pra conseguir uma comida assim?".

Bem . . .  _Feliz Natal_, nesse país que produz alimentos sobrando e mata seus filhos de fome, sob o sorriso debochado de um Messias que é o avesso de outro, outro sobre o qual se conta que nasceu em condições bem parecidas com as quais, certamente, nasceu Enzo.
            Professora Alcione
            do _*neab-í*_ UEPB 

                   †  + +

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Os Olhos de Cronos.

Por Belarmino Mariano
O observador
Procurando a 
consciência de si mesmo
Observa o caos ao acaso
a se equilibrar em 
um emaranhado 
de cordas invisíveis.
Um tecido imaterial
tingindo de preto
estendido em varais 
de farpas estrelares 
são as linhagens do desconhecido.
Olhando para o nada
para o vazio distante
vê a escuridão astral.
Compenetrado aos detalhes da 
matéria escura,
diante dos olhos,
pontos distantes de luz,
um campo de estrelas
brilham em 
círculos de trevas.
O caos que era
apenas leite derramado
em uma espiral 
se tornou multiverso.
Os rituais de sangue
são perpétuos e
espalham nebulosas
vermelhas amareladas
em todas as direções.
A pele do caos foi
tatuada por
geometrias  enigmáticas
em constantes movimentos de ondas.
A velocidade e a distância
são apenas grandezas
probabilísticas
diante da incerteza e
do nada, só os vazios
interessam para a expansão do caos.
Envelhecido em bilhões
de anos luz, Cronos se
propaga em explosões e vibrantes ondas de antimatéria.
Tudo o que Cronos toca vira tempo, consciência de si próprio.
(Por Belarmino Mariano).