Há tempos que não voto em João Pessoa - PB, essa cidade linda que por muitos anos de minha vida me acolheu. Contudo, a gravidade do momento que vive o país fez com que acompanhasse o resultado do pleito atentamente, afinal a última eleição presidencial na capital paraibana já havia sido bastante trágica. Dessa vez a tragédia não somente se repetiu, ampliou-se.
A disputa de segundo turno entre Cícero Lucena (PP) e Nilvan Ferreira (MDB) deixa algumas lições extremamente importantes. Vejamos:
1) A tradicional autofagia acontecida entre os que, como eu, se colocam num espectro político à esquerda chegou ao limite do inimaginável. Juntos, os partidos de esquerda poderiam ter partido na campanha de um patamar razoável para tentar um crescimento que poderia ocorrer ou não, mas que certamente os colocaria em uma posição melhor do que aquela em que hoje se encontram. Testemunhei pelas redes sociais o fogo amigo que foi aberto entre os partidos de esquerda e o êxito com que esses mesmos grupos conseguiram se auto mutilar em uma conjuntura em que precisamos de unidade para enfrentar o fascismo. Ou a esquerda aprende a se unir, ou sofrerá em 2022 uma derrota que será definitiva por várias décadas.
2) Avizinha-se um segundo turno entre a Direita tradicional, representada pela candidatura do ex. prefeito Cícero Lucena e a "nova direita", fascista, agrupada na candidatura de Nilvan Ferreira. Embora seja uma escolha bastante desconfortável, pondero que alguns elementos sejam considerados. A candidatura de Nilvan Ferreira representa o que de pior pode ser encontrado no escopo político brasileiro atual: as forças do obscurantismo irracional, fundamentalismo religioso e fascismo que, lideradas pelo atual Presidente da República, representam a maior ameaça ao Estado Democrático de direito no Brasil, desde transição democrática iniciada com o governo Sarney em 1985. No outro lado, a candidatura de Cícero Lucena é a direita tradicional de feição oligárquica que, embora possamos discordar em 99,99% de sua pauta, abre espaço para a possibilidade de debate com quem pensa diferente, mantendo ao menos 01 pilar do Estado democrático de direito que é o livre pensamento e expressão. Não Vejo Cícero nem como obscurantista, nem como fascista.
3) As forças políticas da esquerda, hoje, tem a tarefa histórica de derrotar o fascismo e, se as condições objetivas não nos permitem destruí-lo, reencapsular as suas pautas de retrocessos civilizatório, destruição e morte.
Pesando esses elementos, votaria pela redução de danos, que, não resta dúvida, nos coloca no campo contrário a Nilvan Ferreira e favorável ao ex. Prefeito Cícero Lucena. Depois, façamos a oposição a Cícero e retomemos a construção de um projeto alternativo para João Pessoa. É o que resta...
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