domingo, 12 de novembro de 2017

18 homens e 1 opressão

Preconceito contra as mulheres. Fonte Revista Agora

Por: Mauriene Freitas*

Por que tantos homens querem decidir sobre o direito reprodutor feminino? Por que é tão importante retroceder na lei e impedir que mulheres estupradas possam fazer o aborto legalmente?
O aborto trata da autonomia da mulher de decidir sobre a gestação, mas também trata da liberdade sexual das mulheres. Ter o controle disso é uma forma de manter esse ciclo de opressão, construído na esfera privada ( a casa/família) que se transfere numa ótica moralista para a esfera pública ( a rua/ a sociedade).

Vivemos ficticiamente numa sociedade da universalização dos direitos, uma abordagem liberal muito adequada para a dominação masculina. Assim, em tese, nós mulheres teríamos autonomia para decidir sobre nossas escolhas. O problema é que o consentimento feminino nunca foi respeitado. Quantas vezes você ou alguma conhecida sua mesmo dizendo não foi importunidade por um homem que insistia em desrespeitar sua escolha? Isso só aponta para o noção da geral de que o corpo feminino é uma propriedade hereditária e privada, é claro, do masculino. Desta forma, nós mulheres somos impedidas de exercer nossa autonomia quanto ao direito reprodutivo porque na prática são os homens que decidem por nós. As contradições do perfeito mundo liberal...
O senso comum nos reserva um “adequado” e quase sagrado papel: a guardiã das crias. Assim, é tão mais fácil nos sobrecarregar de trabalho em casa, com os filhos e com o trabalho remunerado porque, afinal, as mulheres conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Desta forma, liberamos os homens de uma divisão doméstica do trabalho, porque a sociedade nos diz que somos Phodonas! E, amiga companheira, como é adequado nos sobrecarregar com esses adjetivos!
Ao estarmos sobrecarregadas com as demandas domésticas, nos falta tempo para ocupar os espaços públicos, as instâncias de poder, nos especializarmos, nos capacitarmos, nos divertir.
Assim, para esses 18 ( uma amostragem de um grande número de homens que não querem perder seus privilégios) é preciso reforçar qualquer estratégia de dominação sobre nós, as mulheres.
O estupro por si só é uma arma de dominação masculina, é a violência contra o corpo, a humilhação do espírito. Manter uma gestação do estuprador é esfregar na cara da vítima o desprezo, até os seus últimos dias, de que ser mulher é ser inferior e que qualquer homem, pelo simples fato de ter um pênis, pode nos subjugar -moralmente, fisicamente, ideologicamente, espiritualmente.
Desta forma, estupros são corretivos utilizados para uma possível rebeldia feminina e a gestação decorrente deste estupro é lembrete ”pedagógico” para avivar cotidianamente as consequência de se desafiar o masculino.
Se nós permitimos que isso se concretize estaremos dizendo para as crianças que estamos perpetuando a cultura do medo imposto historicamente às mulheres. Se o Estado criminalizar o aborto de mulheres estupradas é a admissão da política estatal de inferiorização - que na prática já existe- das mulheres É uma espécie de humilhação pública para nós.
E como isso é nocivo para o projeto de uma sociedade mais justa e igualitária...
Eles não são só 18. Eles são milhares. E o intuito é um só: manter a opressão masculina sobre as mulheres.
Nós também somos milhares e precisamos unificar nossa força contra essa forma de dominação. E nessa luta além dos homens temos que de enfrentar também as mulheres oprimidas que já foram transformadas em opressoras por esse sistema. A luta é dura, mas precisa ser lutada!
Contra 18, contra milhares, contra milhões. A favor de todas!

*Mauriene Freitas é professora da UEPB/Departamento de Letras.

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