Por Diego Irineu (Vivir para contarla)
Após 8 dias em Cuba, posso contar algumas experiências que tive, sobretudo em Havana. Entre tantas, como enxergar paisagens constituídas de casas e automóveis antigos, as que mais me causaram espanto foram as conversas com o povo cubano. Não com os dirigentes ou os chefes do poder, mas as pessoas comuns que caminhavam pelas ruas da capital, seja vendendo frutas, catando papelão e/ou simplesmente passeando.
Creio que no modo de vida de tais sujeitos está a chave para entendermos o que se passa no país socialista e o que se projeta para o futuro com o fim do embargo. A fala mais significativa que identifiquei versava sobre a complexidade de entender Cuba neste instante, pois para esse intento se fazia necessário compreender algumas relações sociais existentes na cotidianidade do país que, em substância, não se distinguem das existentes num Estado de economia aberta como o Brasil, ainda que sejam distintas as formas de organização social e política entre ambos.
Neste sentido, entendi que não se trata de ser favorável ou contrário ao modelo cubano, mas de compreender tal realidade a partir de suas contradições, possibilidades e limites(de recursos causados pelo embargo e naturais), mas também pelas conquistas proporcionadas pela Revolução, especialmente em relação saúde e educação (só para ficar em dois exemplos inquestionáveis que colocam o país num patamar elevadíssimo).
Cuba deve ser pensada no contexto mundial, onde as relações sociais predominantemente são construídas a partir do egoísmo e do individualismo capitalista. Enquanto se pensar exclusivamente no lucro não haverá espaço para pensar no bem comum, dizia um dos senhores na rua ( na alimentação melhor, na saúde, na educação de verdade etc.). Todos esses avanços o país socialista conseguiu.
Todavia, não conseguiu aniquilar, por completo, relações sociais individualistas, cujo os germes são facilmente perceptíveis tanto nos Estados capitalistas quanto nas economias planificadas, como é seu caso. Por essa razão, são grandes os desafios para a ilha socialista, após mais de 50 anos da revolução, no momento em que não sabemos se as relações com os EUA se mostrarão favoráveis a oxigenar a economia cubana, ou se, pelo contrário, poderá embarcar cuba num caminho sem volta para um modelo de economia capitalista, que certamente não garantiria a permanência dos ganhos sociais existentes. Entretanto, tudo ainda é muito provisório e não se pode prever com seguridade o que virá.
Com a ampliação da importância da ilha enquanto entreposto comercial dos EUA, sobretudo após a construção do porto de Mariel, abre-se a possibilidade de abertura, embora não indique que Cuba abandonará a forma de regime existente no País. Com as palavras do escritor cubano Leonardo Padura encerro este ensaio: “Cuba não é o paraíso socialista nem um inferno comunista, está mais para um purgatório onde na realidade as coisas podem ser um pouco mais normais”.
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