terça-feira, 27 de agosto de 2024

Envelhecemos e as tias viraram avós.

Por Belarmino Mariano.

Eu sou eu, ela é ela, ele é ele, ela é ele, você é você e ninguém é ninguém, assim como ariranha é a ariranha e estamos conversando sobre o meu lugar de fala ao envelhecer, pois já sessentei, mesmo sem ser avô.

Nem tudo é sobre limpeza em banho de chuveiro, caco de telha pra tirar o grude dos pés, vídeo game ou celular no sofá. Nem tudo é sobre tias que envelheceram, nas não querem ser vovós.

Às vezes é sobre se lambuzar na lama, depois de uma chuva escurregadeira, descendo a ladeira como carro de rolimã. Às vezes é sobre as dores na coluna e as rugas muito bem maquiadas.

As vezes é sobre mergulhar na lama, pular nas ruas alagadas e escorregar em casca de banana no meio da feira com lama até o pescoço, como muitas crianças adoram.

Escorregar a bunda na lama e gritar de alegria, liberdade de ser criança, moleque e traquina. Eita tempos bons que não voltam mais.

Mas as pessoas envelhecem
A professora envelhece
A tia envelhece 
Eu envelheci ligeiro demais.

A professora era Tia, titia 
A Tia era ela, ela era tia e ele é ele.
Era tia pra lá e tia pra cá, que nem quiz notar as mudanças sentidas no corpo e na pele.

Ela era tia na escola 
Ela era tia na creche 
Ela era tia na feira
Ela era tia pra lá e tia pra cá e gostava tanto desse título de tia, que quiz eternizar.

Aí chega a hora de a gente deixar de ser tio e tia e passar a ser avó, avô. A gente acorda de manhã e parece que está com dor por todos os lados, sente o peso do mundo em todas as articulações.

Eu envelheci
Tu envelheceu
Ela envelheceu
Nós envelhecemos, 
independente do tempo verbal.

A vida é assim mesmo 
A gente envelhece 
O lado bom dessa história 
É sabermos que a avó ou o avô,
se preocupa com os remédios para tomar, com os exames de rotina e com as amarguras e doçuras que não podemos mais provar devido as altas taxas de açúcar no sangue.

Estou com 60 anos
Já sinto o peso dos anos nas costas. Tenho uma irmã com 75 anos, ela vive reclamando das dores na coluna e da vista cansada e embasada. 

Meu irmão com 81 já não anda mais sozinho, pois um dia desses lhe roubaram o celular que ganhou de presente da neta. A família sempre fica de olho nesse fujão.

Ela era a tia de todos e todas
Agora é a vovó dos neto(a)s e sobrinho(a)s 
Aposentada, mas continua achando que ainda dá conta da lida. Dá nada, é ranzinza, fala alto e vive se esquecendo de si mesma.

Dá mais não minha irmã, aquieta o fogo, vai ajudar teus netos e sobrinhos nas tarefas escolares
Vai assistir tuas novelas
Vai cochilar naquela cadeira velha de balanço.

Rememora as tuas boas e ruins lembranças, pois a vida é curta, nem tudo é sobre tias e tios, as vezes é melhor assumir o posto de avô e avó, pois tem gente teimosa que nega sua própria velhice.

Eu sou um velho consciente, como professor, encontro meus estudantes de outrora, agora como companheiros de trabalho, como meus novos chefes. 

Muitos já são mestres e doutores, muitos já me ultrapassaram academicamente e fico feliz com isso. 
Só ainda não me aposentei por causa dos fascistas que reformaram a previdência e estão me obrigando a trabalhar até a última gota de suor.

Quando vi essa fotografia, lembrei de coisas assim, de me lambuzar na areia quente e mergulhar no riacho gelado, de subir na ingazeira e mergulhar no lugar mais fundo do rio, de tomar banho nas bicas e nas goteiras das casas da rua. 

Ainda lembro de minha mãe, Dona Gessi gritando, -"sai dessa chuva infeliz das costas ocas, se não tu vai gripar!!!" 

Por Belarmino Mariano. Imagem das redes.

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