Enviaram para o meu facebook um texto escrito por George Gosson, presidente do Nartal Convention Bureau, opinando sobre aqueles que se opõem à realização da Copa América em Natal (RN).
O autor da nota, em seis tópicos, defende a realização do evento e atribui àqueles que se posicionam contra o evento com uma série de suposições (ou acusações).
Sobre o texto, tenho algumas considerações a fazer. Vejamos:
“Se você é contra a realização de um campeonato de futebol que todos os participantes estão vacinados, você confessa que não acredita na eficácia das vacinas”.
1 – As vacinas usadas até agora mostram que os vacinados podem ser infectados e transmitir a doença, ainda que de modo reduzido. Porém, é possível. Sendo infectados, terão apenas sintomas leves. Conheço um casal amigo que está com este quadro de saúde. Assim, não é o caso de não confiar na vacina mas o de ter prudência neste momento.
“Se você é contra a realização de um campeonato de futebol que todos os participantes estão testados com PCR negativo, você confessa que não acredita na eficácia dos testes”.
2 – Não é o caso de não acreditar na eficácia dos testes feitos nos participantes. Quais são os participantes ? Estarão vacinados, também, funcionários dos hotéis em que ficarão hospedadas as delegações? Os motoristas dos ônibus utilizados ? Os policiais que farão a escolta até o estádio, visando evitar possíveis contágios ? Haverá testes e vacinas para estes, também ?
"Se você é contra a realização de um campeonato de futebol SEM PÚBLICO, você confessa que não acredita na eficácia do distanciamento social".
3 – O distanciamento social pode ocorrer dentro dos estádios. Acaso acreditam aqueles que defendem a realização da Copa América de que não haverá aglomeração de pessoas nos bares, quiosques, shoppings, etc. para ver pela TV um Brasil x Argentina ou qualquer outro clássico da América ? Acaso pensam que ninguém vai ficar na porta dos hotéis para ver a saída dos jogadores para o estádio ou treinamento ?
“Se você ainda é contra a realização de um campeonato de futebol que segue rígidos PROTOCOLOS sanitários definidos pelos cientistas e pelas autoridades de vigilância sanitária, você confessa que não acredita na eficácia destes protocolos”.
4 – Os “rígidos protocolos de segurança” também alcançarão a todos os envolvidos no contexto da competição ? Falo dos funcionários dos aeroportos, quaisquer que sejam eles. Ou, ainda, os envolvidos nas partidas e que não estão participando dos jogos, a exemplo dos gandulas, funcionários dos estádios, o pessoal da limpeza dos vestiários ? Se houver a exclusão de pessoas assim mostram que tais protocolos podem se mostrar falíveis.
‘”E se você for contra a realização de um campeonato de futebol que atenda a todas as condições acima expostas, você confessa ser um NEGACIONISTA.
Se você nunca foi contra a realização de qualquer um dos campeonatos de futebol em curso no Brasil, mas só é contra a realização da Copa América, você confessa ser um HIPÓCRITA”.
5 – Será que o autor da nota esqueceu que no ano passado, no auge da pandemia, os campeonatos de futebol foram suspensos para evitar o contágio de mais pessoas ? Que agora, com os surgimentos das novas cepas (ou tipos, classes) da covid-19, a doença mostra o acirramento dos casos ? Que delegações vindas de diversos países podem estar trazendo outras variantes para o Brasil ?
Antes que alguém venha com argumento de política partidária (já que agora na nossa sociedade é tudo levado para esse lado) afirmo que sou contrário a realização da Copa América no Brasil por uma questão de bom-senso e da razão. Mesmo gostando de futebol e freqüentador assíduo de estádios, tendo saudade de estar nas tardes de domingo vendo o meu time jogar, não esqueço que perdi para a covid-19, no corrente ano E EM POUCO MAIS DE 90 DIAS, três primos (de uma mesma família) e mais alguns amigos. E, finalmente, antes que alguém possa falar em liberdade de escolha, faço uso das palavras de Paulo de Tarso: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”. (I Coríntios 6:12). O tempo, como sempre, será o senhor da razão.
* Mário Vinicius Carneiro Medeiros - Prof. de Direito da UEPB.
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