terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O Brasil é do Centrão


Por Lúcio Flávio Vasconcelos*
O Brasil sempre foi dominado pelos integrantes do Centrão. Desde o período imperial, quando o Brasil era uma grande fazenda de açúcar e café, e os senhores de terra enriqueciam com a exploração do trabalho escravo, a política foi determinada pelos membros da elite econômica.
Entre 1840 e 1889, os grandes proprietários se dividiam entre dois partidos: o Liberal (Luzia) e o Conservador (Saquarema). Disputavam o poder com fraudes eleitorais, capangas e compra de votos.
Quando um desses partidos chegava ao poder, não se diferenciava do outro: os índios continuavam sendo massacrados, o latifúndio se expandindo e o chicote permanecia ditando as regras no lombo dos escravos.
Durante toda a república foi assim: a disputa entre os membros da elite econômica era assistida por um “povo bestializado”, mesmo que indignado. Enquanto as revoltas populares eram duramente reprimidas, os donos do poder permaneceram dando as cartas. 
O loteamento de cargos públicos, o dinheiro da corrupção e a cooptação sempre foram os mecanismos utilizados.
Chegamos ao século XXI com as mesmas práticas do século XIX. O Centrão, esse aglomerado de partidos políticos com DNA do fisiologismo, continua a ser o guardião dos interesses do status quo vigente.
Qualquer governo, de esquerda ou de direita, para manter-se no poder, buscou o apoio do Centrão, sob o risco de sofrer o Impeachment. Os que ousaram romper com o Centrão se deram muito mal. Foi assim com Collor. Foi assim com Dilma.
Bolsonaro sabe como funciona o Centrão. Ele foi seu integrante. Abriu os cofres do governo federal, liberou verbas (504 milhões em emendas parlamentares) e loteou cargos.
Dessa forma, garantiu a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco (MDB-MG) para presidente do Senado. O preço foi caro. Perdeu parte “élan mítico” que mobiliza seus seguidores. Mas garantiu sua sobrevivência política. Dele e de seus filhos.
* Historiador. Prof. da UFPB.

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