quinta-feira, 5 de setembro de 2019

COM ACORDOS DE BOLSONARO E TRUMP O ETANOL BRASILEIRO FICA EM SEGUNDO PLANO

Imagem ilustrativa extraída das redes sociais.  (Câmera dos Deputados).


POR BELARMINO MARIANO

          As queimadas continuam a tragar a floresta amazônica, destruindo seu gigantesco patrimônio genético e consumindo a vida e o habitat natural de milhões de animais e vegetais. Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos, comemora a exportação de etanol para o Brasil sem tarifas. Isso mesmo, o governo Trump festeja, pois suas destilarias irão vender álcool combustível para o maior produtor de etanol do mundo.
          Etanol de milho completamente livre de taxas (mais empregos e mais lucros aos EUA), mais desemprego e menos lucros para a agroindústria sucroalcooleira do Brasil. Essas medidas irão prejudicar a agroindústria canavieira, em especial na região Nordeste e Sudeste. Não podemos esquecer que a nossa Petrobras agora é controlada por empresários americanos e a nossa gasolina funciona com entre 25% e 27% de etanol em sua formula. Mais um lucrativo negócio que Bolsonaro proporciona aos Norte-americanos.
          O Brasil foi o primeiro país no mundo a desenvolver carros movidos a álcool etanol, buscando fugir da pior crise petrolífera da década de 1975/1985. O Governo criou o maior programa para produção canavieira do mundo, dando início aos programas de agrocombustíveis dentro do discurso das energias renováveis. Novas tecnologias e foi desenvolvido o automóvel flex e a adição do etanol à gasolina.
          O Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool, 1975-1985), foi desenvolvido com capital e tecnologia genuinamente brasileira e conseguiu tirar temporariamente o Brasil da dependência por combustíveis fósseis que havia surpreendido o mercado na década de 1970. Esse programa foi tão exitoso que os Estados Unidos copiaram a ideia e passaram a produzir álcool combustível de milho, se tornando o principal competidor do etanol na disputa com o Brasil. Nunca imaginei que iria viver para vê que o governo do Brasil iria abrir nosso mercado para a compra de álcool combustível de milho Americano, quando já somos autossuficientes e ainda temos excedente de produção.
          O etanol brasileiro perdeu força durante a década de 1985, diante da crise inflacionária brasileira e aumento da nossa produção petrolífera. Nesse período o Governo de José Sarney (PMDB), descredenciou os subsídios a produção de álcool combustível. Mesmo assim, uma parte dos produtores de etanol deram continuidade a sua produção, outros deram calotes no governo, em alguns caso abrindo falência e até mesmo abandonando a produção. Alguns Estados do Nordeste como Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, amargaram uma forte crise no setor e milhares de desempregos foram gerados nessa cadeia produtiva.
          Os programas de agrocombustíveis só foram retomados com força total a partir de 2002, com os governos de Luis Inácio Lula da Silva (PT) que passou a investir pesado em incentivos para a indústria petroquímica, de etanol e de óleos vegetais biocombustíveis como a mamona. Entre os anos de 2007 e 2010, o Brasil foi se tornando autossuficiente e produção petrolífera, tanto na extração, quanto no refino, pois o governo investiu em novas refinarias e as pesquisas avançaram com a descoberto do petróleo em alto mar e no subsolo da plataforma continental atlântica (Pré-Sal), com a tecnologia nacional de extração em águas profundas.
         O mais importante das tecnologias da Petrobras e das industrias químicas consociadas, foi avançar  na criação dos motores flex e no incremento de etanol na gasolina. As mudanças no processo de beneficiamento da cana-de-açúcar, também avançaram em relação aos dejetos e biomassa remanescente da extração do etanol, que foram integrados na produção de bioenergia e na correção dos solos. 
     Os investimentos do governo Lula nessa etapa das tecnologias e na implantação desse novo sistema ao mercado consumidor, permitiu a crescente retomada da produção canavieira e o fortalecimento do setor sucroalcooleiro tanto no Sudeste, quanto no Nordeste, além do incentivo a produção de milho no Centro-Oeste, voltados para a produção de combustível, reacenderam o setor dos agrocombustíveis como complementares ao uso dos combustíveis fósseis.
      Entre 2010 a 2015, com os governos Dilma Rousseff (PT), o Brasil conheceu maior autossuficiência petrolífera e com a descoberto de novos poços de petróleo na base do pré-sal, a presidenta adotou medidas governamentais de maior controle sobre essas reservas e propôs que 70% dos lucros seriam investidos em saúde e educação. 
     As medidas da presidenta Dilma interferiram nos interesses do capital imperialista e o governo Dilma passou a ser alvo de diferentes ataques, entre eles denuncias de corrupção na Petrobras, seguida do desmantelamento da empresa, através de uma suposta operação de combate a corrupção (Lava-Jato), liderada pelo Juiz Sergio Moro e com forte influência de investidores americanos. As ações do judiciário, provocaram a interrupção da atividade produtiva da Petrobras e gerou uma crise profunda no setor, gerando milhares de desempregos e paralisando seu funcionamento e diferentes áreas e momentos da operação lava-jato. Isso levou o Brasil a uma nova dependência pela exportação de petróleo. Em maio de 2016 o Senado Nacional cassou o mandato da presidente e em seu lugar assumiu o vice Michel Temer (PMDB), no que ficou registrado como um claro golpe jurídico, político e midiático.
    Com a chegada de Temer (MDB) ao poder, através do golpe e posteriormente, em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) todas essas políticas energéticas foram desestruturadas, gerando um processo de privatização de setores da Petrobras e o Brasil voltou a depender ainda mais da importação de petróleo, tanto bruto, quanto refinado. Na campanha, Bolsonaro se comprometeu com os canavieiros e prometeu investimentos no setor, mas agora o que vemos é uma outra situação em relação ao mercado de combustíveis alternativos e, essa abertura ao etanol dos Estados Unidos, vulnerabiliza ainda mais o setor de combustíveis do Brasil.
      Refletindo sobre o milho para combustíveis e ureia, no Brasil existe uma gigantesca produção de milho e o país em 2017, chegou a produzir um excedente de 30 milhões de toneladas, que não conseguiu escoar para o mercado internacional. Ou seja, temos matéria prima sobrando, já existe industria com tecnologia para produzir etanol do milho no mercado brasileiro, mas o país continua querendo depender da compra do álcool americano.
      O Brasil é o maior produtor de etanol do mundo, seu produto é taxado pelos Estados Unidos em US$ 0,55 centavos por galão, nesse sentido, não consegue entrar no mercado Americano. Temos que questionar: como é que o Presidente Jair Messias Bolsonaro, libera as taxas do álcool combustível americano a entrar livremente em nosso país? Que lógica econômica ou matemática é essa do nosso presidente? Essa pergunta também deve ser dirigida aos canavieiros brasileiros que deram total apoio ao Presidente Bolsonaro.
      O povo que abastece seu carro com combustível no Brasil, seja etanol ou gasolina com 27% de etanol, também deve se preparar, pois em breve, os reajustes dos preços de combustíveis terá a justificativa dos aumentos do dólar em relação ao real, pois estamos mais uma vez, nos tornando dependentes das importações de produtos dos quais somos líderes mundiais e já eramos autossuficientes.
       Nestes oito meses do Governo Bolsonaro já vimos de tudo, alguns analistas desenham um cenário de perdas econômicas violentas, desemprego de 13 milhões, cortes de direitos sociais, reforma demoníaca da previdência social, destruição ambiental, liberação de 290 agrotóxicos, desmantelamento dos recursos para a educação, saúde, programas sociais, entrega da base de Alcântara (MA) ao governo Americano, escândalos de corrupção, tráfico de cocaína em avião da FAB, aumento da violência na cidade, no campo e nas florestas, perseguição regionalista aos governos do Nordeste, destruição da diplomacia brasileira e pior projeção internacional do Brasil, entre outros males. Estes são alguns dos parâmetros para avaliar a situação do país e o desgoverno instalado em janeiro de 2019.
As empresas americanas já controlam o mercado de petróleo brasileiro há décadas, esse controle se intensificou ainda mais entre o governo golpista de Michel Temer e agora escancarou de vez com Jair Bolsonaro. De acordo com a agência Nacional de Petróleo (ANP), em 2017, o Brasil voltou a importar mais petróleo do que produziu, o que tornou o país dependente das importações. Como a gasolina e etanol estão juntos na composição do combustível para os automóveis flex. Ceder o mercado de álcool combustível para empresas americanas é típico de um governo que foi eleito por empresários brasileiros, mas depois de eleito, passou a atender aos interesses americanos. Se o Brasil voltou a condição de importação de petróleo e agora de etanol, ambos com base no dólar, será que já existe algum agroindustrial dos agrocombustíveis arrependido em apoiar e eleger Jair Messias Bolsonaro (PSL)?

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