quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Título de Professora Emérita, Emilia Moreira e Ivan Targino, entre outros.

Por Belarmino Mariano*

Tive a felicidade de participar da cerimônia dos títulos de Professores eméritos para os professores da UFPB, entre eles a minha eterna orientadora e mãe intelectual Profa. Dra. Emilia Moreira e do Prof. Dr. Ivan Targino (O Grande).

Que felicidade, em fazer parte desse seleto grupo de orientandos e de pesquisadores do grupo da professora Emília. Encontrei amigos de longas datas: Ricelia Marinho Sales, Luis Gustavo Sales, Wellington, Genaro Ieno, Gláucia, Takako Watanabe Anieres, Maria, Marco Antonio Mitidiero Junior e tantos outros(as).

Também pude interagir com o Prof. Dr. Ivan Targino, da área de economia e que, em muito, contribuiu com a minha formação profissional. Esse casal fez toda a diferença em minha formação, pois com eles aprendi que a universidade deve ser um instrumento de formação e transformação social, econômica, cultural e política.

Atualmente sou professor da UEPB, com Aperfeiçoamento, Especialização, Mestrado e Doutorado. Sou líder de Grupo de pesquisa, coordeno projetos de pesquisa, extensão e orientação de graduação. Tudo isso foi fruto da minha formação na UFPB, que completou 70 anos e esses professores foram fundamentais e ainda são, pois atualmente recebem meus pesquisadores para a pós-graduação.

Pelas suas mãos já passaram muitos dos meus orientandos ao exemplo de Leandro Paiva , Rômulo Panta , Diego Pessoa e tantos outros (as), que hoje, são mestres e doutores e continuam nessa senda da ciência com consciência. Portanto, não se trata de uma vida, mas de muitas vidas que se emaranham para o fazer acadêmico e profissional.

Quando ouvi a professora Emília Moreira resumindo a sua vida acadêmica e agradecendo as pessoas que fizeram parte de sua vida, fui lembrando o quanto ele foi e é fundamental em minha vida e na vida de muitos amigos e amigas da UFPB. Ela fez doutorado e pós-doutorado na França, mas nunca presenciei nenhum ego em sua humildade.

Confesso que no ano em que entrei na UFPB, oriundo da Escola Pública, não tinha a ideia de o quanto minha vida mudaria. Tinha excelentes professores, mas era obrigado a trabalhar no comércio para me manter e ajudar em casa. Isso poderia ter me impedido de continuar, mas felizmente conheci professores que fizeram a grande diferença m

Foi nessa época que encontrei Emília e seu grupo de pesquisa. Como eu trabalhava, não podia ser bolsista, então me tornei um voluntário em suas pesquisas. Como trabalhava como vendedor, fazia meus horários e confesso que me empolguei com a Geografia Agrária e com a pesquisa empírica.

Foi com Emília que aprendi a elaborar projetos, pois ela discutia conosco, ponto por ponto. Então a gente ia aprendendo a problematizar, traçar objetivos, definir campos teóricos e principalmente, definirmos metodologias. 

Confesso que Emília era brava, exigente, perfeccionista e metódica. Quem não quisesse aprender e a levar a sério os seus estudos, podia sair fora. Sempre perseguia o rigor científico, no entanto era, uma pessoa maravilhosa, carinhosa e preocupada com cada um de nós.

Foi com Emília que aprendi muito sobre geografia agrária, Geografia Econômica, do Brasil e da Paraíba. Foi através de Emília que me aproximei da CPT, dos assentamentos e dos acampamentos dos trabalhadores rurais sem terra. 

Ter sido voluntário em seus estudos me ajudou a querer concluir o curso e tentar a carreira docente. Em uma longa greve entre o terceiro e o quarto período, submeti currículos em escolas e no quarto período já estava em sala de aula e isso mudou completamente a minha vida, pois mesmo ganhando pouco, deixei o comércio e fui fazer o que gostava.

Emília como bolsista de produtividade da CAPS e do CNPq, não podia parar suas pesquisas, então a gente seguia firme e forte, todos os seus passos. Ali a gente não aprendia apenas sobre a ciência, era um misto de ciência, direitos humanos, solidariedade e comunhão com os oprimidos da cidade e do campo. 

Enquanto a gente estudava, trabalhadores rurais sem terra e líderes sindicais eram perseguidos, presos e mortos. Crianças camponesas eram super exploradas e ficavam entre o fogo e o facão para cortar a cana-de-açúcar das usinas e grades destilarias canavieiras. Então a gente também aprendia a se indignar com a exploração capitalista selvagem.

Quando terminei a graduação, Emília me convidou para continuar no grupo de pesquisa e conseguiu uma bolsa de Aperfeiçoamento do CNPq, então me instalei na sede do INCRA/PB e, por dois anos, compilei quase todos os processos de conflitos agrários da Paraíba. Era tudo copiado em tópicos, pois não tinhamos autorização para retirar os processos para fazer xerox.

Outro grupo, coletava dados em jornais e com os dados íamos ao campo, confrontando as informações com a realidade. Lembro que tinha uma moto velha e precisávamos checar informações do Acampamento Padre Gino, entre Sapé e Mari. Emília não estava bem de saúde e me voluntariei para ir.

Essa foi a minha maior experiência prática. Confesso que já havia sido picado pela ciência da práxis marxista e, chegando lá, como já conhecia alguns camponeses, fui informado da ocupação das terras. Escondemos a moto por dentro de galhos e folhagens e passei uma semana, entre as barracas de lona, os camponeses e os capangas armados. 

Emília ficou muito preocupada, quase morria do coração, mas ao final lhe levei um litro de mel de abelha enviado pelos camponeses. Era um tempo difícil, tivemos o assassinato de tralhadores em Alhandra, Caaporã, tivemos a prisão de Frei Anastácio, tivemos o cruel assassinato de Margarida Maria Alves e as greves canavieiras.

Estávamos entre o mundo acadêmico, o suor, a fuligem e o sangue derramado pelos camponeses; estávamos entre os relatórios e as denúncias de trabalho análogo a escravidão; estavámos juntos com outras professoras, preocupados com a saúde dos trabalhadores que, em pleno final do século XX, trabalhavam 14, 15 horas por día, para cortar toneladas de cana e tómbolas para agroindustria canavieira.

As pesquisas estavam no fogo cruzado da violência no campo, mas não podíamos ficar de braços cruzados. Nessas horas a gente aprende que a consciência não se faz num dia, mas no dia da consciência cada um. Ter feito parte dessas experiências com Emília Moreira, me fez ser o que sou e nunca desistir dos meus sonhos e das minhas utopias ativas.

Foi nessa época que Emília coordenou e publicou obras como "Capítulos de Geografia Agrária da Paraíba" e "Por um Pedaço de Chão I e II" e também publicamos artigos e resumos estendidos sobre o trabalho infantil na palha da cana e sobre a violência no campo paraibano. Anos depois, conseguimos publicar nossos relatórios "sobre o trabalho infantil na palha na cana", em especial no Litoral Sul da Paraíba.

Emília foi minha grande incentivadora em ser professor e pesquisador. Tanto é que assim que terminei a graduação, passei em primeiro lugar na Especialização em Geografia Território e Planejamento e me submeti a seleção de professor substituto da UFPB, sendo aprovado em primeiro lugar.

Como já professor na rede particular em João Pessoa, com a especialização fiz concurso na UFPB de Cajazeiras, sendo aprovado em terceiro lugar, pois havia concorrido com mestres e doutores. Emília me disse, não desista, suga em frente e nesse mesmo ano, ao terminar a Especialização entrei no Mestrado do PRODEMA, agora me voltava para as questões ambientais.

Era um novo campo para os geógrafos da época e a professora e Ecóloga Takako Watanabe nos acolheu muito bem. Era uma dissertação de ecologia, mas, na contramão das tendências da época, quis saber da ideia de natureza dos homens e mulheres do Cariri paraibano. Emília em muito contribuiu, mesmo dizendo que não era de sua área. Ela fez parte de minha banca e suas sugestões foram fundamentais para me tornar mestre.

Isso foi fundamental para me tornar professor da UEPB e dar continuidade às pesquisas sobre a questão agrária no Agreste Brejo paraibano, sempre trilhando a ideia dos "Territórios de Esperança", proposição da professora Emília Moreira e Ivan Targino.

No meu Doutorado não foi diferente, pous Emília estava lá me dando dicas sobre os passos a seguir e fui fazer doutorado na Sociologia Rural e me interessei pekas práticas de agroecologia no Agreste e Brejo da paraíba. Ela estava em minha defesa de Tese, dando as grades contribuições que só ela poderia dar pois Emília Morreria, acompanhou todos os meus passos acadêmicos e posso dizer que ela foi e é uma grande dádiva em minha vida.

Esse título de Professor(a) Emérito(a) é mais que reconhecido, pois a grandeza acadêmica e compromisso científico e social desses professores, consta em seus currículos Lattes e em suas plataformas de pesquisas e, mesmo aposentados, continuam, pesquisando e orientando pesquisadores em nível de Mestrado e Doutorado. Mas o Lettes monstram apenas dados e datas frios. Porém, o que vivemos com esses Mestres como Emília, Ivan e os demais professores é EMÉRITO DEMAIS.

A UFPB, está de Parabéns, liderada pela Profa. Dra. Terezinha Domiciano Dantas. Ao fazer essa homenagem e reconhecer os professores como eméritos, fortalece ainda mais a ciência e a docência. Todas as indicações foram fundamentadas nos vastos currículos de cada um(a) e a vida de um simples orientando como eu, testemunham isso.

Vida longa aos professores Emília Moreira, Ivan Targino e aos demais eméritos. Vida longa à UFPB, onde fiz toda a minha vida acadêmica e hoje, posso servir aos estudantes e a ciência da Paraíba e do Brasil. Nesse momento de ataques à ciência e à democracia, precisamos fortalecer as universidades públicas e tudo começa pelo reconhecimento dos seus quadros docentes enquanto eméritos.

Por Belarmino Mariano. Imagens do autor.



Nenhum comentário:

Postar um comentário